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Usuários festejam legalização de maconha no Canadá e mercado age com prudência

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Depois de quase um século de proibição, o Canadá se tornou nesta quarta-feira (17) o segundo país do mundo, depois do Uruguai, a legalizar a maconha recreativa, uma reforma histórica comemorada ansiosamente pelos consumidores dessa droga e pelos mercados.

Embora na província de Quebec, as lojas da estatal Sociedade da Cannabis Quebequense, a SQDC, tenham aberto às 10H00 locais (11H00 de Brasília), os primeiros clientes acamparam nas portas do estabelecimento desde a noite anterior.

Em Montreal, em frente à sucursal da rua Sainte-Catherine, uma das principais avenidas da cidade, Mathieu aguardava desde as três da manhã. "É histórico, queria estar aqui".

Dezenas de pessoas faziam fila pacientemente desde o amanhecer na calçada. Em cadeiras dobráveis, vários matavam o tempo fumando um baseado.

"Há temos devia ter sido legalizada. Fumo desde que tenho 15 anos, estou com 33 (...) Tenho 300 dólares no bolso", acrescenta Mathieu.

Sebastian Bouzats, francês de Bordeux, veio "para viver a experiência e provar os sabores", embora tenha admitido que todos ali têm erva em casa. "Os franceses todos virão fumar aqui", antecipa.

No entanto, as empresas de cannabis reagiram sem tanto ânimo à entrada em vigor da legalização no Canadá, mas com o passar o dia se recuperaram um pouco.

Todas as empresas canadenses cotadas na bolsa de Nova York sentiram o impacto. A Tilray (-6,40%), a Canopy Growth (-4,38%) e a Cronos (-7,55%) caíram em um mercado mais frágil.

Os primeiros clientes no Canadá compraram seus primeiros gramas de cannabis legal à meia-noite (22h30 de terça-feira, hora de Brasília) em Saint-Jean-de-Terre-Neuve (leste).

Desafiando o frio, Ian Power chegou quatro horas antes para "fazer história".

"Era um sonho ser a primeira pessoa a comprar o primeiro grama legal de maconha no Canadá, e aqui estou finalmente", declarou aos jornalistas reunidos no local. "Estou tão emocionado que não consigo parar de sorrir", disse.

Três anos depois de sua eleição, o governo liberal do primeiro-ministro Justin Trudeau concretizou uma de suas promessas de campanha e o Canadá se converteu no primeiro país do G7 a legalizar a maconha recreativa, depois do Uruguai, em 2013.

A entrada em vigor desta medida será avaliada tanto pelos canadenses, que irão às urnas dentro de um ano para eleições legislativas, como pelos países aliados de Ottawa, que já autorizaram o uso terapêutico da droga.

O governo permitiu a cada província organizar o comércio da erva, mas há vários modelos em todo o país para um mercado avaliado em 4,6 bilhões de dólares por ano.

Nos últimos dias, a oposição conservadora multiplicou seus ataques contra a medida, que considera precipitada por representar riscos para a segurança e a saúde pública.

"Quando as pessoas começarem a ver as consequências (da legalização), culparão Trudeau pelos fracassos", comentou o líder opositor conservador Andrew Scheer.

"Há pelo menos dois anos trabalhamos com os diferentes governos", afirmou Trudeau na terça-feira, repetindo que a legalização permitirá que menores restrinjam o acesso a essa droga e "tirem dinheiro do bolso de organizações criminosas".

O ministro da Segurança Pública, Ralph Goodale, anunciou um plano para perdoar as penas passadas por posse simples, dando às pessoas "um maior acesso a oportunidades de trabalho, educação e moradia".

Em sua campanha eleitoral de 2015, Trudeau reconheceu ter fumado maconha algumas vezes no passado. Mas, na terça-feira, seu gabinete disse à AFP que "ele não planeja comprar ou consumir cannabis depois que for legalizada".

Segundo estatísticas oficiais, 16% da população canadense fumou cannabis em 2017, proporção superior aos fumantes de tabaco.

Este dia é histórico para muitos canadenses e dezenas de festas estavam previstas em todo o território, particularmente em Toronto e Montreal.

Bilhões de dólares foram investidos nesta nova indústria nos últimos meses. A líder do mercado, Canopy Growth, aumentou em 448% seu lucro em um ano.

Parece inevitável que os 120 produtores atualmente autorizados não se vejam sobrecarregados pela demanda imediata. Mas, para Bill Blair, o ministro encarregado da redução do crime organizado, é possível eliminar 25% do mercado negro até o final de 2018 e cerca da metade no decorrer de um ano.

"Muitas pessoas pensam que a legalização é um evento, mas é um processo", disse Blair à AFP. "Por quase um século, grupos criminosos controlaram todo o mercado", lembrou. "Eles não vão desaparecer silenciosamente da noite para o dia", acrescentou, assegurando que eles ganharam vários bilhões de dólares todos os anos.

"Mas o fato de que algumas pessoas queiram se agarrar a um modelo de proibição que levou as taxas mais altas de consumo de cannabis em qualquer país do mundo é um pouco chocante para mim", disse.

Segundo o ministério da Justiça, eliminar o mercado negro levará ao menos quatro anos.