Quando a vi no musical Constellation, há cinco anos, percebi a estrela que despontava. Voz, presença cênica, desempenho. Ali estava uma atriz pronta para decolar. Ao saber que Jullie era uma das protagonistas de O Musical da Bossa Nova, propus ao João Francisco Werneck a entrevista. Depois de assisti-la e escuta-la cantar, no Teatro Adolpho Bloch, ele voltou entusiasmado: Jullie era “a cara”. A entrevista de Jullie foi no próprio teatro da Rua do Russel, e o encontro resultou nesta bela página, com fotos de José Peres, o rei dos portraits, que nos revelam uma atriz, com atitude e traços que evocam a elegância de Audrey Hepburn, a fragilidade de Natalie Portman, e um talento que nada fica a dever a Marion Cotillard. Bem o que estava em falta na cena brasileira.
Jullie: o poder da delicadeza
A delicadeza nos traços esconde uma artista poderosa e completa. O ar de suposta fragilidade, sugerida pela pequena altura da atriz (mede 1,60m), desaparece assim que Jullie, a Juliana Vasconcelos, solta sua voz. É neste momento em que, maravilhado, o público se rende ao talento da artista, que canta, dança e atua no espetáculo “O Musical da Bossa Nova”, que chega à sua terceira temporada, desta vez em cartaz no emblemático Teatro Adolpho Bloch. Jullie não esconde a felicidade em, nesta terceira temporada do musical, estar substituindo Fabi Bang, que assumiu papel na peça “A Pequena Sereia”. Seu sentimento por poder se expressar artisticamente em musical de tamanha relevância é de “gratidão” e, ainda por cima, por poder participar do espetáculo de reabertura do Adolpho Bloch, que abrigou grandes nomes da dramaturgia, e estava fechado por 18 anos.
JB: Quando começou seu interesse pela música?
Eu comecei a cantar aos quatro anos. A minha história como artista começa em um parque em Vitória, Espírito Santo, o Parque Moscoso. Lá tinha um concurso musical infantil, e sempre que passávamos por lá eu tinha o interesse de cantar naquele palco. Era uma coisa certa na minha cabeça, o meu interesse pela arte. Eu sempre quis cantar, dançar, desfilar. A atriz surgiu depois.
JB: E de onde veio o Jullie?
Jullie: Eu queria um nome artístico, mais curto. Já fui Juliana Vasconcelos e até Juliana Vas. Então, durante a adolescência, me ocorreu esse nome, o Jullie. Escolhi porque tinha muito a ver com o meu primeiro trabalho autoral, que era para um público jovem, infanto-juvenil e adolescente. Nessa época, eu lancei o álbum, “Hey”, produzido pela Deskdisc. Foi um álbum de pop/rock.
JB: E depois disso começaram os trabalhos para Disney?
Foi um momento muito bacana, incrível. Eu pude cantar na turnê do “Camp Rock”, que veio para o Brasil e se apresentou em um “maracanãzinho” lotado. E cantei com o Joe Jonas, do “Jonas Brothers”. Encarei aquele estádio lotado. Fiquei bem nervosa, mas deu tudo certo. Eu estava ali para cantar uma música que era da Demi Lovatto, e o Disney Channel tinha produzido uma versão desta música comigo e o Joe. Então foi difícil, o público adolescente é passional, ele tem times, tinha o “time Demi Lovatto”, então quando aparece uma outra artista cantando uma música dela, a gente sente um pouco de desconfiança. Mas foi ótimo, eles adoraram.
JB: E a carreira de atriz, como surgiu?
Eu considero meu começo como atriz aos 12 anos. Eu fazia o “Gente Inocente”, do Márcio Garcia. E lá eu fiz várias esquetes. E em Vitória, na mesma época, eu fiz meu primeiro musical infantil. Depois disso, é que me mudei para o Rio de Janeiro, e comecei a estudar interpretação. Nessa época, eu fiz uma participação no filme “Mais uma vez amor”. Acho que ali teve uma decisão de me aprofundar nos estudos da interpretação.
JB: Mas você nunca largou a música, correto?
Não, como artista o que eu quero é me expressar. Eu sempre pensei em conciliar tudo, e nunca escolher. Seja cantando, dançando ou atuando. Acho que arte é tudo isso.
JB: E qual o seu estilo musical atualmente? Você continua produzindo álbuns, e singles...
Então, desde aquele início na Disney mudou bastante. Não sou mais do pop. Mudei meus gostos, minhas influências, acho que foi amadurecimento. No começo eu gostava das artistas americanas, internacionais, aquele pop dançante. Depois de um tempo, eu passei a ouvir um John Mayer, cantores nacionais, como a Marisa Monte, Los Hermanos. Hoje, gosto da MPB, uma vibe folk. E, claro, adoro Joni Mitchel, James Taylor.
JB: E a Bossa Nova?
Eu já havia feito um show cantando Bossa Nova. Mas não era um estilo que inspirava minhas composições. Então foi uma sorte, maravilhoso, ser chamada para este espetáculo, pois, além de representar um desafio, é um crescimento profissional...
JB: Como está sendo fazer o “Bossa Nova”?
Eu amei, está sendo ótimo, o espetáculo tem um ar de show, então me sinto em casa. E eu sempre ouvi os clássicos do gênero, Tom Jobim, João Gilberto, os grandes nomes, evidentemente. Mas contei muito com o direcionamento da Délia Fischer, a diretora musical do espetáculo, porque há um jeito de cantar a bossa e o samba. As quebras rítmicas, a interpretação, o sincopado, tudo isso é muito importante. Tem que ter a manha mesmo. Bossa Nova é um estilo próprio e único, e a Délia foi fundamental neste processo, de correção, ensinamentos, dicas...
JB: Fala um pouco sobre a Délia Fischer...
Ela é um gênio no que faz. Tem conhecimento sobre a música brasileira, é uma cantora, compositora, tem um trabalho autoral impecável. Definitivamente, ela traz consigo uma super bagagem, do teatro e da música. Então ela pode fazer com maestria essa direção musical. Acho que “O musical da Bossa Nova” é a cara dela, ela se sente totalmente vontade e inspira os atores e atrizes a darem o melhor sempre.
JB: Sobre o diretor do musical, Sérgio Módena, como é trabalhar com ele?
Acho ele ótimo, incrível, sabe muito bem como tirar o melhor do artista, e, principalmente, sabe o que quer em suas peças. Trata-se de um amigo. É daqueles que conseguem ser simpático, alegre e, ao mesmo tempo, é firme, exigente. Ele dá espaço para o artista sugerir, criar. Nossa relação foi fantástica.
JB: Quanto ao futuro pro? ssional, qual o próximo passo?
No momento estou focada no Musical. Mas tenho interesse em divulgar meu último EP, que já tem quase um ano, pelas casas de show da cidade o meu último EP. Mas a rotina de trabalho no momento não permite. O álbum foi produzido por Bernardo Martins, conta com participações de Dani Black, Nina Fernandes (Slap), Nando Motta e Ju Martins, e nas composições há parcerias com a banda OutroEu (revelada no Superstar, da Globo). O álbum está disponível no Spotify, Deezer, iTunes, YouTube, em diversas plataformas digitais. E ainda sou dubladora. Estou dublando um desenho da Netflix, o “Trolls: O ritmo continua!”, que tem músicas, então é um trabalho com o meu perfil.
“O Musical da Bossa Nova” permanece em cartaz até 27 de maio, no Teatro Adolpho Bloch.
Entrevista por João Francisco Werneck