Pane no sistema alguém me desconfigurou. A música que ganhou o Brasil na voz de Pitty bem poderia ter sido a trilha do début da Molett no Minas Trend. A grife que, apesar da estreia já mostrou longa relação com o melhor da moda, trouxe o erro 404 da internet como inspiração para a coleção. Em uma apresentação marcada pela combinação de cinza, vermelho, preto e branco, Barbara Monteiro, diretora criativa da marca, apostou em uma ideia de tecnologia engajada como conceito norteador da temporada. “A coleção se chama 404 e remete realmente ao erro da internet. É uma temporada que falamos do paradoxo dos tempos contemporâneos em que as pessoas buscam a leveza com muito peso. Para completar, nós nos inspiramos em um paralelo com os anos 1960 que teve uma juventude que explodiu em diversos sentidos. Foi uma época de revolução social, musical, política, estética etc”, explicou.
Nesta combinação de atmosfera sessentista com um erro para lá de atual, a Molett ainda trouxe um paralelo da juventude que dá vida às duas gerações. Para Barbara Monteiro, assim como nos anos 1960 nós vivemos um período de explosão social nos tempos de Ditadura Militar, hoje também temos os questionamentos de jovens engajados como cenário moderno. E isso refletiu também nas modelagens da coleção, que teve o contraponto da leveza versus peso como guia. “Nós fazemos um paralelo com a nossa juventude atual que também tem muitas revoluções simultâneas que são, inclusive, muito propagadas pela internet, o que causa um impacto ainda maior. Então, unindo os dois conceitos com uma estética de peso com a ideia de leveza, nós apostamos em modelagens mais estruturadas que tivessem tecidos leves ou fossem vazadas para que existisse essa ideia de contraponto”, detalhou.
Indo ainda mais além, a Molett agregou a preocupação ambiental provocada pela moda na coleção de inverno. Em peças dubladas com plástico, a grife buscou traduzir um conceito de atualidade e sustentabilidade. “A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, como forma de a gente trabalhar os materiais que causam mal ao meio ambiente, nós os ressignificamos. Então, na coleção, aumentamos a durabilidade dos moletons plásticos, por exemplo, o que permite o uso de um material que, ao invés de poluir, vai viver por mais tempo no guarda-roupa da pessoa”, defendeu a estilista que afirmou que não é de hoje que a Molett tem um discurso engajado nas entrelinhas de suas criações.
De acordo com a diretora criativa, esta é uma ideia que move a marca dentro do mercado fashion. Mais do que vender peças e tendências, a Molett quer provocar e alertar os amantes de modas através de roupas com significado – e significante. “Desde quando começamos, queremos trazer diálogo para a moda. É importante que a gente não faça desse mercado uma futilidade com roupinhas que desejamos e consumo exagerado. Por isso, tentamos fazer com que o nosso público entenda que, com o conceito que amarramos em todas as coleções, o consumo não seja a única motivação. A moda é um canal de diálogo”, destacou Barbara Monteiro.
Na beleza, Ricardo dos Anjos potencializou o mood proposto pela marca e trouxe modelos quase que de plástico para a passarela. Provocando a ideia do erro 404 da internet, a produção apresentava uma aparência de fascinação pelo mundo virtual. “Nós apagamos a sobrancelha, boca e cílios e iluminamos tudo com óleo. Assim, conseguimos esse aspecto de plástico que traduz um conceito de pessoas vidradas no computador”, explicou.