Até o Lê Monde, jornalão francês, reconheceu em notícia publicada por Claire Gatinois, correspondente do veículo em São Paulo: a queda de Marcelo Calero do Ministério da Cultura é uma espécie de “remake político” de Aquarius, o filme de Kleber Mendonça Filho que Calero tanto desdenhou enquanto esteve na equipe de Michel Temer.
É que no filme, Clara, personagem de Sônia Braga, luta contra uma poderosa construtora, a não ter de deixar seu apartamento na orla da Praia de Boa Viagem, em Recife, por puro interesse da especulação imobiliária. Clara sofre ameaças, pressões físicas e psicológicas.
E Calero, ao pedir demissão do Ministério da Cultura, admitiu que também foi pressionado por causa da especulação imobiliária. Explica-se: ele foi pressionado por Geddel Vieira Lima, Secretário de Governo, a aprovar a construção de um edifício de luxo embargado em que ele tinha comprado um apartamento em Salvador. O Iphan, órgão subordinado ao Minc, estava emperrando os planos particulares de Geddel.
O Lê Monde caracteriza as relações como uma baita de uma “ironia” e sacramenta: “De repente, a realidade superou a ficção”.