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O mercado pode até estar em crise como alguns dizem por aí, com as semanas de moda esvaziadas, a inflação galopando e o comércio em recessão, mas existe luz no fim do túnel. Esta foi a conclusão de quem passou pela primeira edição da Fenim Nordeste, braço cearense da tradicional feira de moda, realizada esta semana em Fortaleza (CE). A Fenim, que costumava ocorrer duas vezes por ano em Gramado, cresceu e, agora, recebe os compradores da edição de Verão no recém-inaugurado Centro de Eventos do Ceará, facilitando o acesso dos lojistas do Norte e Nordeste às coleções. E mais: o evento se prepara para receber os compradores do Sul e Sudeste em outra edição, no próximo mês, em São Paulo, de 16 a 18 de junho no Expo Center Norte, provando que o mercado não está tão desaquecido quanto parece. O produtor e stylist Alexandre Schnabl nos conta, em primeira mão, como a indústria têxtil está reagindo às agruras impostas pelo time que comanda a economia no Planalto Central.
Antes de tudo, é importante esquecer as firulas típicas das semanas de moda. Nada de povo dando pinta e modeletes posando para fashionistas. Em uma feira como a Fenim, a galera comparece para fazer negócios e não há espaço para fervo gratuito. Ao contrário, os expositores – muitas vezes desconhecidos do grande público, mas responsáveis por abastecer os magazines e lojas multimarcas Brasil afora – se encarregam de apresentar suas coleções comerciais para lojistas ávidos por novidades capazes de encher seus bolsos com valiosos milhões. Daí não haver espaço para passarelas conceituais, coletivas com tops do momento, estrelas internacionais abrindo desfile ou o bonde das celebridades disputando brindes na primeira fila. Aliás, nem há primeira fila. Salvo um ou outro desfile comercial em estande, como os realizados pela capixaba Cobra D’Água, nem existe fashion show. Pelo contrário, o povo aqui quer dindim! Pouco se viu de famosos, no máximo a presença altiva do ator Luciano Szafir, amigo de Julio Viana, diretor comercial da feira, que deu uma passadinha para conferir o evento. Ou alguma celebridade bissexta estampando banners em estande, como Sabrina Sato e Daniel Rocha. Bom, havia ainda os displays gigantes de Claudia Leitte decorando o espaço da grife sulista Ozmose, que também se encarregava de distribuir folheto com a top diva Aline Weber exibindo o jeans da hora. Mas essa marca sempre investe pesado em famosos.
Mas, se faltavam celebridades, havia, em contrapartida, uma legião de compradores vindos do Brasil inteiro, sobretudo das regiões mais ao Norte, se acotovelando nos estandes em busca de novidades. O pique mesmo começava pela hora do rush, em torno de 17h, indo até o fechamento da feira às 22h. Povinho notívago este! Entre as novidades – que você poderá conferir na galeria de imagens -, cores fortes, flúor e pastel (com predominância para amarelo lima, cartela de laranjas e verdes aquáticos), grafismos em preto e branco, militarismo, animal print, listras náuticas reinventadas, texturas naturais, estampas havaianas, espírito seapunk e o revival das décadas de 1960 e 1990. Ou seja, nada diferente daquilo que foi visto no Fashion Rio e na SPFW, mas, agora, em escala comercial muito mais usável. É a modinha para gente de verdade, que consome dentro da normalidade cotidiana e em escala industrial.
Candido Couto Filho, da Pecol, indústria especializada em couro de cabra e carneiro com 40 anos de mercado, era um dos que se diziam felizes com o resultado. Engenheiro químico que foi parar na Floresta Negra, na Alemanha, em plenos anos 70 para estudar os processos de curtição do couro, apresentou jaquetas e bolsas que costuma, vez por outra, desenvolver para cadeias como Richards, Osklen e Animale. E afirmava que foi um dos pioneiros a trabalhar com couro de tilápia. Representantes comerciais de marcas de expressão, como Malharia Nacional, Marisol e Mega Pólo de Moda, se disseram satisfeitos com as vendas. Indústrias de jeanswear como a cearense Handara, e a Sawary investiram pesado em estandes caros que primavam pelo bom merchandising visual. E confecções das regiões do Brás e do Bom Retiro paulistanos confirmaram ter valido a pena o investimento, como afirmou Viviane Dias, responsável pelo departamento de show room da Mucs, grife bacaninha de calças e shortinhos jeans cheios de bossa. E, claro, até mesmo os escritórios de importação de produtos chineses e coreanos, como a Holin Z Stone, confirmaram ter valido a pena a presença na feira. E dá-lhe preço baixo!
Lucia Furlan, assessora de comunicação da Fatal Jeans, marca de produtos básicos masculinos, completa: “Não viemos aqui esperando vender muito, mas para marcar presença e fixar espaço neste mercado. Portanto, nossas expectativas foram completamente superadas e estaremos na próxima edição do evento”. Julio Viana acredita que a feira contou com 10 mil visitantes e cerca de 6 mil CNPJs, o que diz ser ótimo para uma iniciativa pioneira. E completa: “A feira está implantada e acredito que, ano que vem, ela será maior. Existe um mercado enorme a ser desbravado e, óbvio, quem souber investir, sairá na dianteira. Já tenho 32 solicitações de empresas da região querendo entrar na próxima edição”.