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Ele está no ar na Globo, na sessão 'Vale a Pena Ver de Novo', com a reprise de 'Da Cor do Pecado' (2004), escrita por João Emanuel Carneiro. Mas, nos últimos oito anos, muita coisa mudou na vida de Pedro Neschling: o ator, filho de Lucélia Santos e do maestro John Neschling, não é mais o rapaz que interpretou, na ocasião da novela, Dionísio Sardinha. De lá para cá, atuou e escreveu roteiros para cinema, mergulhou de cabeça no universo teatral, encontrou um novo amor e até uma festa de sucesso criou.
Agora, Pedro está em cartaz, no SESI Vila Leopoldina, em São Paulo, com a peça 'Como Nossos Pais', com texto e direção assinados pelo rapaz, que, apesar da jovialidade de alguém com 30 anos, carrega no sangue o DNA talentoso dos pais e nas costas a missão de fazer jus à herança em vida deixada em seu currículo por Lucélia e John.
Na entrevista a seguir, a coluna investiga os caminhos de Pedro pelo mundo dos palcos, suas inspirações, ambições e como se dá a relação profissional entre ele e sua amada, Vitória Frate, que está no elenco comandado por Pedro, que aliás, reafirmando sua multiplicidade funcional, também atua em 'Como Nossos Pais'. Como você, a hiperatividade saudável de Pedro Neschling!
Pedro Willmersdorf - Você está há 5 anos afastado das novelas e, cada vez mais, está presente no mundo do teatro, como autor e diretor. 'Como nossos pais' é prova disso? O teatro é o seu Éden? Sempre foi sua vontade maior ser um criador teatral?
Pedro Neschling - Tudo são fases. Passei os últimos anos fazendo um seriado na Globo, 'Aline', que gravava apenas num período do ano e me possibilitou voltar a dedicar bastante tempo ao teatro e a projetos mais autorais. Foi um movimento natural depois de ter passado alguns anos emendando trabalhos longos na TV. Sempre tive o desejo, desde que comecei minha carreira, de estar envolvido em todas as áreas da cena, revezando nas funções de ator, diretor e autor. Inclusive nos próximos anos quero estar mais ativo no cinema também. E, claro, manter minha presença na TV e no teatro.
PW - Qual foi o processo de inspiração para o texto de 'Como nossos pais'? Sua intenção era traduzir a relação entre pai e filho?
Pedro Neschling - 'Como Nossos Pais' é um dos meus projetos mais antigos. Comecei a escrever essa peça há mais de cinco anos. Tinha o desejo de falar sobre a relação entre pais e filhos e também sobre a diferença abissal entre muito ricos e muito pobres no Brasil. Pensando sobre isso surgiu a ideia dessa peça. Foi um longo processo e tudo foi se transformando pelo caminho até chegar no espetáculo que estamos fazendo hoje. Não tenho intenção de traduzir essa relação tão complexa, mas de levar o público a refletir sobre as consequências da criação dada (ou não) pelos pais na formação do caráter de cada um, e sobretudo em nossa capacidade de nos reinventarmos.
PW - Quais foram as diretrizes tomadas em relação à cenografia da peça, assinada pelo premiado Flávio Graff? Há uma relação especial com a iluminação, não é?
Pedro Neschling - Nesse espetáculo tive um desejo especial de trabalhar com um 'cenário-instalação', onde a história se passasse, misturando ao máximo artes plásticas com cenografia. Assim conversei com o Flávio e com a Adriana Ortiz, minha iluminadora, e chegamos nesse resultado formado por mais de 220 totens de papel de diversos tamanhos que ficam dispostos de uma forma que parece a vista aérea de uma megalópole, com luz vindo de todos os lados, inclusive do chão. Os atores transitam nesse espaço e ficam emoldurados por essa estrutura. Fiquei muito feliz com o resultado. Tentamos ao máximo unificar tudo: luz, cenário, texto, direção, trilha, numa coisa fluida a favor da história.
PW - O que há de resquício da letra do clássico de Belchior, homônimo ao espetáculo, em seu texto?
Pedro Neschling - Talvez um certo amargor por sermos como nossos pais, mais do que gostaríamos. Mas a peça é sobretudo sobre o quanto temos a capacidade ou não de mudarmos.
PW - Como é a experiência de trabalhar com a mulher que se ama? Escrever uma personagem pensando nela e dirigi-la em cena...
Pedro Neschling - Já vinha trabalhando bastante com a Vitória nos últimos anos. Esse é nosso terceiro espetáculo em parceria. O texto já estava escrito antes mesmo de conhecê-la, mas acho que ela caiu feito uma luva para o papel. Admiro muito o talento dela, a capacidade que tem de dar verdade para seus personagens. Nos damos muito bem profissionalmente, e está sendo bem divertido contracenar com ela pela primeira vez.
PW - Você é como seus pais, Pedro?
Pedro Neschling - Sim, bastante. Tenho muita dedicação com as coisas que me disponho a fazer, corro atrás dos meus ideais e jamais me rendo ao que não acredito. Acho que isso herdei deles. Mas acho que saí uma versão um pouco mais tranquila e moderada, alguns 'bugs' do sistema foram corrigidos na fábrica.
PW - Hoje você também produz uma festa de sucesso, a FunFarra. Como surgiu a vontade de fazer uma festa?
Pedro Neschling - Já toco como DJ há vários anos, é um hobby-profissional, digamos assim. Fui residente e produtor de outras festas durante bastante tempo e a FunFarra surgiu há 2 anos como uma noite para me divertir com meus amigos e os amigos deles, e hoje nos divertimos com cerca de 1.000 pessoas por edição. Lá, recebo DJ's que adoro para tocarem comigo, tento criar um clima descontraído para as pessoas se divertirem como se a festa fosse delas. Acho que tem funcionado!
PW - Após essa temporada em São Paulo, nós do Rio queremos saber: quando 'Como nossos pais' chega por aqui? Já tem data e palco definidos?
Pedro Neschling - Ainda não tenho nada oficial, mas quero trazer a peça para o Rio em 2013 de qualquer maneira. É minha casa, quero que os amigos e o público carioca possam nos assistir.