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Diretor português: um resgate de memórias no NYFF

'A última vez que vi Macau' também estará no FestRio

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A última vez que eu vi Macau, de João Pedro Rodrigues, é um dos destaques da 50ª edição do Festival de Nova York. Rodrigues retorna ao festival onde esteve em 2009 apresentando o seu Morrer como um homem, uma história trágica em tom de comédia.  

O novo filme, que segue linha semelhante aos  seus trabalhos anteriores abordando o universo de gays e transexuais, foi co-realizado com João Rui Guerra da Mata. 

Também protagonista, Guerra da Mata vive um homem que recebe em Lisboa a mensagem de Candy, uma amiga que não via há anos, lhe pedindo que vá a Macau se encontrar com ela, onde estão acontecendo coisas muito estranhas. 

A trama faz uma alusão livre a Macao, de Josef von Sternberg,(1952), estrelado por Robert Mitchum e Jane Russel. 

Para o papel de Candy, a dupla de realizadores escolheu a atriz e performer Cindy Crash, que já trabalhara com Rodrigues em Morrer como um Homem

O filme recebeu uma  menção especial do júri do Festival de Locarno,  justamente pela extraordinária personagem de Candy e, como explicitado na nota de justificativa, pela imensa coragem do cinema português nesses tempos em que os governos ameaçam a arte cinematográfica em todo o mundo. 

Além de A última vez que vi Macau, na mostra principal, o diretor também está no NYFF com  o curta metragem Manhã de Santo Antônio, que integra a paralela Views from the Avant Garde.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, Rodrigues falou  sobre o filme e a experiência anterior de Guerra da Mata em Macau. Tal como o protagonista,  ele também havia deixado o local há 30 anos e só retornou há pouco tempo, quando decidiu participar do projeto. 

“Muitas das locações ainda estavam vivas na mente de Guerra da Mata, que tinha vivido em Macau e também nas minhas lembranças que nunca tinha ido a Macau e só conhecia o território através dos filmes. Isso faz com que nosso trabalho cruze memórias do cinema com recordações pessoais”, diz o diretor.  

Rodrigues contou que inicialmente eles tinham pensado em realizar A última vez que vi Macau como um documentário. 

“Quando voltamos das locações, constatamos que tínhamos 150 horas de material filmado e acabamos decidindo fazer um longa-metragem com enredo noir e criminal. Por sinal – algo  que me perguntam muito – a  origem do nome da protagonista é uma alusão a Candy Darling (1944-1974), a atriz transexual dos filmes de Andy Warhol, também uma das musas da banda Velvet Underground”, contou. 

Para  Rodrigues  – bem como para Guerra da Mata e demais membros da equipe – é uma a seleção para o NYFF foi uma enorme satisfação. 

“É um  privilégio estar duplamente num festival com o prestígio do NYFF – que mostra um panorama restrito e exigente do cinema a cada ano –  e também que esta seja a ” primeira mostra” dos nossos filmes nos EUA. O meu filme anterior, Morrer como um homem, também teve sua estreia americana aqui. Este novo trabalho tem um percurso semelhante”, diz Rodrigues, que está bastante otimista com os resultados que espera dessa seleção. 

“Os festivais de cinema são cada vez mais importantes para mostrar um determinado tipo de cinema que chega com dificuldade à exibição comercial. O NYFF  é um festival que mostra um panorama restrito e exigente do cinema que se faz cada ano. Por isso esperamos que a passagem por aqui possa ajudar a uma possível estreia futura nas salas de exibição comercial americanas”, ressaltou Rodrigues, que é um dos nomes mais talentosos dessa geração de cineastas portugueses, pós Manoel de Oliveira, que com incríveis 104 anos continua em plena atividade. 

A última vez que vi Macau também será exibido no Festival do Rio, com estreia programada para o próximo sábado (06).