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Crítica: 'Hotel Mekong' 

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Com apenas uma hora de duração, Hotel Mekong, do cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul, é certamente um dos filmes mais aguardados desse Festival do Rio. O argumento do filme já é bastante interessante: ocupar os quartos e varandas desse hotel para ensaiar Ecstasy Garden, roteiro guardado a alguns anos e que trata da relação da filha humana com sua mãe fanstasma Pob, espírito que se alimenta das entranhas de humanos e outros animais. Porém, esse é apenas um dos retalhos que compõe Hotel Mekong.

Logo no primeiro plano, vemos o diretor sentado confortavelmente na varanda do hotel enquanto escuta o músico Chai Bhatana tocar a trilha sonora do filme ao violão. O clima e tranquilidade presente nesse início permanece, assim como a melodia, que acompanha quase todas as cenas seguintes. Ao lado da música, a paisagem, o leito do rio Mekong, que separa a Tailândia e o Laos, é a maior responsável por criar a atmosfera na qual os personagens estão inseridos. Nas conversas informais à beira do rio, eles falam sobre inundações, lembranças da Guerra Civi do Laos, fantasmas, sempre com grande naturalidade, em um tom quase que banal. 

De certa forma, todos os temas tem relação com a questão da memória, individual ou coletiva, que muitas vezes aparece para assombrar o presente. A leveza e a beleza bruta do estilo de Apichatpong permite que, mesmo diante dos temas mais duros ou dos mais bizarros, exista uma sensação de bem-estar que surge do encantamento com as imagens e todas as simbologias que delas emanam. Entretanto, a estética documental e assumidamente digital de Hotel Mekong diferencia esse dos outros filmes do diretor, em que o rigor técnico nas composições visual e sonora é bem maior. Nesse ponto, Hotel Mekong propõe uma nova experiência cinematográfica.

Apenas pela quantidade de pessoas que saíram da sala na segunda sessão do filme no festival, a maior parte no longuíssimo plano final, percebe-se que essa experiência pode ser desconfortável para o público desprevenido. Por outro lado, para quem aceita imergir nesse universo, mais meia horinha teriam sido muito bem-vindas.

Cotação: Excelente