O duelo entre Brasil e Inglaterra, que se enfrentam neste domingo em amistoso, às 16h, na reabertura do Maracanã, já aconteceu no estádio em outras cinco oportunidades. O retrospecto brasileiro é altamente favorável: três vitórias(em 1959, 1964 e 1969), um empate(em 1977) e uma derrota (em 1984). Mas as lembranças dos jogos entre as duas equipes foram além dos placares.
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O Jornal do Brasil relembra as partidas entre as duas equipes, mas desvirtuando um pouco a ordem cronológica: o atacante Jairzinho, que em 1970 seria conhecido como "Furacão da Copa" por ter sido o único a fazer gols em todos os jogos da competição até hoje, esteve no amistoso do dia 12 de maio de 1969. O autor do gol da vitória brasileira por 2 a 1, de virada, vê semelhanças entre o time de 1969 e o time atual do Brasil, que enfrenta a Inglaterra neste domingo:
“Estávamos vivendo um momento como agora no futebol brasileiro, um processo de renovação. Tínhamos uma seleção pronta em 1966, mas o Feola optou por não usar todos. E aconteceu o que aconteceu na Copa. Hoje pode acontecer a mesma coisa que aconteceu em 1970. A diferença é que tínhamos uma seleção montada em 1969, uma base para a Copa. Hoje não existe nada disso”, criticou o Furacão da Copa. Para ilustrar, o time do amistoso teve seis jogadores que também estiveram na Copa de 1970: Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Tostão e Pelé. Muito crítico ao que se vê hoje nos campos brasileiros, Jairzinho define o momento como “horrível”. “Só temos o Neymar para bater palma neste time, o último moicano do Brasil que saiu do país. O resto é figurativo”, disparou.
Sobre o jogo, Jairzinho lembra que o Brasil começou perdendo, com gol de Colin Bell logo aos 12 minutos após cruzamento, mas empatou aos 25 do primeiro tempo após jogada de raça de Tostão, que sozinho na área conseguiu vencer quatro defensores ingleses. O próprio Jairzinho, à época ídolo com a 10 do Botafogo, se encarregaria de marcar o gol da vitória após a jogada de Tostão, levando os 105 mil pagantes à loucura aos 32 do segundo tempo.
“Foi marcante porque fiz o gol da vitória. Estávamos vindo desde 1966 de uma decepção, em processo gradual de evolução. Foi um grande jogo, realmente um ensaio para a Copa de 1970”, disse Jairzinho, que curiosamente faria no ano seguinte o gol da vitória contra o English Team na fase de grupos da competição.
O jogo também marcou a despedida de Gilmar com a camisa da Seleção Brasileira. O goleiro defendeu o Brasil entre 1953 e 1969, tendo sido bicampeão mundial em 1958 e 1962, com 94 jogos disputados pelo time brasileiro.
Derrota também marcante
O dia 10 de junho de 1984 também marcou uma data importante para outra grande figura do futebol brasileiro: Edu, maior jogador da história do América e que havia acabado de levar o Vasco ao vice-campeonato brasileiro como treinador, estreava como treinador da Seleção Brasileira, em uma temporada de três jogos, a pedido do então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), Giulite Coutinho. Edu lembra com saudade e agradece pela chance
“Foi muito bom poder comandar a seleção naqueles três jogos. Havia feito uma campanha ótima no Vasco. Mas acho que poderia ter continuado, ter tido outras chances depois”, disse Edu, que ainda treinou o Brasil no empate com a Argentina em 1 a 1, no Morumbi, e na vitória sobre o Uruguai por 1 a 0, no Couto Pereira.
Sobre o jogo, Edu alega que não conseguiu ter à disposição os jogadores de que gostaria, muitos dos quais no futebol do exterior, como Zico, Falcão, Cerezo e outros. “Não pude contar com os meus melhores jogadores para aqueles jogos, usei o Vasco e o Fluminense (que tinham acabado de fazer a final do Brasileiro) como base do time que jogou contra a Inglaterra. Os únicos titulares da Seleção Brasileira mesmo eram os laterais, Leandro e Júnior”, lembra Edu.
A Seleção tinha o goleiro Roberto Costa e o atacante Roberto Dinamite pelo Vasco, enquanto Ricardo Gomes, Assis (com a camisa 10) e Tato representavam o então recente campeão brasileiro Fluminense.
O jogo foi marcado pelo golaço de John Barnes, aos 44 do primeiro tempo, um dos mais bonitos da história do estádio. O atacante recebeu a bola na esquerda, foi costurando toda a equipe brasileira e tocou mansamente no contrapé de Roberto Costa para assombrar os 56 mil pagantes no estádio. A Inglaterra faria ainda o segundo aos 19 com Mark Hateley, sendo este o único triunfo do English Team no Maracanã sobre o Brasil.
Julinho Botelho, das vaias à glória
O duelo entre Brasil e Inglaterra no amistoso do dia 13 de maio de 1959 é palco de uma das maiores histórias de superação pessoal do Maracanã. O duelo marcava uma espécie de redenção para o Brasil, que havia perdido para os ingleses em 1956 em Wembley e empatado durante a Copa do Mundo, na Suécia.
Para a partida, porém, uma surpresa veio na escalação: Garrincha, um dos maiores responsáveis pelo título em 1958 e que encantava o torcedor carioca desde 1953 pelo Botafogo, foi inexplicavelmente barrado do jogo. O substituto, o palmeirense Julinho Botelho, entrou no campo esmagado por uma das maiores vaias individuais da história do Maracanã; o torcedor, irritado, direcionava toda sua raiva para o ponta-direita.
Logo aos dois minutos, porém, começava a maior redenção da carreira de Julinho. Após jogada do centroavante Henrique Frade, que substituía Vavá, a sobra de bola ficou para Julinho, que de humilhado passou a herói: Brasil 1 a 0, gol dele.
A partir daí, foi uma atuação magistral do jogador, que criou a jogada do segundo gol brasileiro, de Henrique Frade. Ao sair do campo, as vaias haviam se transformado em assovios, gritos e palmas em uníssono, parabenizando o jogador que, em 90 minutos, passou à história do Maracanã.
Maior goleada é brasileira
Em 1964, o Brasil começava seu ano futebolístico disputando a Taça das Nações, no dia 30 de maio, contra a Inglaterra que já tinha nomes como Bobby Moore e Bobby Charlton, além do treinador Alf Ramsey, e que seria campeã em casa na Copa de 1966.
Naquele dia, porém, o English Team não foi páreo para o Brasil, que marcou o primeiro aos 35 do primeiro tempo. O palmeirense recebeu de Pelé na meia-lua e chutou forte para abrir o placar. Rinaldo ainda faria mais um no jogo, aos 14 do segundo tempo, pouco depois da Inglaterra ter empatado o jogo com Jimmy Graves.
Depois disso, abriu-se a porteira: Pelé fez aos 18 de fora da área, Julinho Botelho(aquele de 1959) marcou aos 23 e Roberto Dias selaram a goleada, que segue sendo a maior goleada da história do confronto entre Brasil e Inglaterra.
Brasil burocrático em 1977
O ano de 1977 estava sendo complicado para o futebol brasileiro. O técnico Cláudio Coutinho ainda tentava encontrar uma formação para o time que tentaria o tetracampeonato mundial no ano seguinte, na Argentina.
A Seleção vinha de um amistoso contra a Seleção Carioca, vencido pelo time brasileiro por 4 a 2. Entre os titulares deste jogo e os que iniciaram a partida contra a Inglaterra, no dia 8 de junho de 1977, havia Zico, Gil e Roberto Dinamite como as principais mudanças.
A Inglaterra tinha em Kevin Keegan, astro do Liverpool e que se transferiria em breve para o Hamburgo, sua principal arma.
Porém, pouco se viu de espetáculo dentro do campo: pouco entrosada, a Seleção não conseguiu desempenhar um bom futebol e o jogo acabou empatado em 0 a 0. O Brasil seguiria fazendo amistosos pelo país até o fim daquele mês, com campanha irregular (duas vitórias e três empates) e muito mais dor de cabeça do que apoio dos torcedores durante a temporada pelo Brasil.