SÃO PAULO - Há jogos específicos que mudam a história de um clube. Da água para o vinho, como se diz. Há exatos 10 anos, o Corinthians vinha em crise no Campeonato Paulista, com só uma vitória em sete das 15 rodadas da primeira fase. Foi quando virou a chave: venceu a Inter de Limeira fora de casa e emplacou sete triunfos consecutivos. Foi às semifinais, bateu o Santos de forma inesquecível na semifinal e foi campeão estadual sobre o Botafogo-SP. Mas foi em Limeira, com os gols de André Luiz e Luizão, que aquela história começou de verdade.
O técnico Tite, que perdeu lendas como Ronaldo e Roberto Carlos depois de uma turbulência histórica do Corinthians, passa por esse processo: tentar encontrar um novo momento, reconstruir uma equipe mais dinâmica sob o ritmo de Liedson e fazer a camisa corintiana ser novamente um problema para os rivais. "Ponto de equilíbrio", define ele, exaustivamente, a cada quase toda pergunta sobre o tema.
Para o treinador corintiano, a convincente vitória contra o Santos, no último domingo, é o tipo de jogo que transforma o ambiente, tão pesado nos tempos recentes de Parque São Jorge. Em entrevista exclusiva ao Terra, Tite conta peculiaridades a respeito do triunfo marcante e espera confirmações sobre as lições que ficaram do clássico. A primeira delas, acredita, pode vir neste sábado, no Pacaembu, diante do Grêmio Prudente.
Terra - Em 2011, há uma busca sua para encontrar a melhor forma de fazer o Corinthians jogar. A vitória sobre o Santos deu a convicção de uma equipe perto do ideal?
Tite - Olha, tomara que a gente tenha encontrado o ponto de equilíbrio da equipe entre marcar e agredir. Entre ter posse de bola e não dar ao adversário a possibilidade de criação. O Corinthians fez um grande jogo, mas o desafio é encontrar uma sequência de partidas com padrão parecido.
Terra - Muita gente acredita que o Corinthians venceu por que jogou mais leve, como franco-atirador. Você concorda?
Tite - Não acredito nisso. Te dou minha palavra e sendo coerente com o que eu disse antes do clássico. Em jogos com essa grandeza, em primeiro lugar não tem favoritismo. Não existe. Já vivenciei momentos em que a equipe que eu dirigia estava com expectativas inferiores e superiores. O clássico se padroniza porque o lado emocional pesa muito, há toda uma mobilização pelo lado técnico e tem qualidade nas duas equipes.
Terra - Esse tipo de jogo é capaz de transformar um ambiente? Enche os jogadores de confiança, pacifica o clube e traz a torcida de volta?
Tite - Se vem um resultado por si só e não vem o desempenho, você sempre fica na dúvida. Pensa que falta alguma coisa. Esse jogo teve a consistência do desempenho e o resultado final. Tanto que, no intervalo de um jogo que vencíamos em casa, coloquei que o resultado era melhor que desempenho. Disse a eles: "estamos jogando abaixo do que podemos e tem condição de render mais". Neste jogo contra o Santos, vi os atletas olhando e se perguntando qual era o caminho. A equipe fazendo um grande primeiro tempo e tomando gol de empate. Coloquei para eles que o desempenho era melhor que resultado. Disse: "continua estrategicamente marcando forte, saindo em velocidade, mantendo a posse de bola e neutralizando os pontos fortes. Não fica desconcentrado e desmobilizado em função de ter tomado o gol". O Santos voltou melhor (para o segundo tempo), mas a equipe soube construir o placar com desempenho.