Nilo Junior, Agência JB
UBATUBA, SP - Em meio às estrelas que disputam o Onbongo Pro Surfing, etapa do WQS, a divisão de acesso do Circuito Mundial de Surfe, que agita a praia de Itamambuca, em Ubatuba, Litoral Norte de São Paulo, um outro surfista se esconde na mata próxima ao canto direito da praia. Não, ele não é fugitivo e nem perdeu uma bateria e foi eliminado da competição. Ele está ali, porque ele mora ali. Chegar a Itamambuca e perguntar pelo Rildo, é sinônimo de fracasso, pois ninguém saberá responder. Mas se perguntar pelo Morro Boy...
Nascido no Paraná, Rildo, ou melhor, Morro Boy, mudou-se para São Paulo com os pais e os irmãos ainda aos 11 anos de idade, mas especificamente para Itamambuca. Até aí, nada demais, a não ser pelo lugar onde ele cresceu e aprendeu a amar: uma casa no meio do mato, cujo acesso se dá por uma trilha de cerca de 200m (de subida), que começa nas pedras, no canto direito da praia.
Aos 34 anos, Morro, como é chamado pelos amigos, vive há 23 no lugar. Antes de construir a sua casa, morava com a mãe no terreno de trás. Surfista profissional e instrutor da Escolinha de Surfe do Zecão, a mais famosa da região, Morro conta que no início as coisas eram um pouco complicadas na casa.
- Ficamos aproximadamente seis anos sem saneamento básico, água encanada e luz elétrica - contou o surfista, que depois que casou teve que construir um quarto na casa.
Na pequena casa de dois cômodos, além dos troféus que ganhou como amador, um fogão, uma geladeira, uma cama e um sofá, onde os amigos "caem" quando vão visitá-lo. Separado, depois de um casamento de sete anos, ele diz que não se imagina vivendo em outro lugar e que só de pensar que tem que ir à cidade (São Paulo) já fica "pilhado".
- O máximo que consigo é ficar três dias longe de casa. Sinto muita falta daqui. Isso é um paraíso. A única coisa que falta é um pouco mais de turistas durante o ano. Aqui só costuma ficar cheio mesmo é no verão. Às vezes, no inverno, é meio monótono - explica.
Para não deixar o tédio atrapalhar, o melhor passatempo, como não poderia deixar de ser, é o surfe. Morro conta que acorda diariamente por volta das 7h e vai até as pedras, que ele carinhosamente chama de playground. Se tiver onda - o que geralemente acontece 90% das vezes - ele pega a prancha e vai para o mar. Às 9h, Morro vira "tio Morro" e começa a fazer uma das coisas que mais lhe dá prazer: ensinar as crianças - a maioria delas de baixa renda - a surfar.
- São aproximadamente de 60 crianças cadastradas e cerca de 30 participam das aulas diariamente. Como a maioria não tem condições, as aulas são de graça, em dois horários, de manhã e à tarde, para não atrapalhar as aulas no colégio. Sempre damos um lanche também - explica o surfista, que conta com o patrocínio da marca "Out" para se manter e ajudar a escolinha.
Por fim, Morro Boy confessa que ainda tem um sonho para realizar: ter um "Morro Boyzinho" e criá-lo da mesma forma como foi criado
- Ter um filho é o sonho de todo homem e comigo não é diferente. Quero que ele viva aqui comigo, longe da violência urbana, tendo contato com a natureza e com liberdade para fazer o que quiser. Afinal, deveria ser assim com todo mundo.