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Sul-africano quer abrir caminho para atletas gays

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O goleiro Phuti Lekoloane, 26, não esquece sua passagem pelo JDR Stars, time semi-profissional sul-africano.
Era um de seus primeiros treinos no clube, e na saída um atacante se aproximou para dizer o que pensava dele.
"Ele falou que um homem que faz sexo com outro é uma pessoa tão ruim quanto um assassino", conta ele à reportagem.
Lokoloane não respondeu nada. Abaixou a cabeça e foi para o vestiário. O mesmo onde, dias antes, havia sido questionado se tomaria banho e trocaria de roupa ao lado dos outros jogadores. A pergunta não o surpreendeu.
"Foi discriminação que eu cresci percebendo existir. Na escola, em casa, na minha comunidade. Eu era sempre ofendido e rejeitado", diz.
Hoje no Tornado FC, da quarta divisão da África do Sul e buscando o acesso, ele não gosta de ouvir que "revelou" ser homossexual ("Jamais escondi ser quem eu era").
Se conseguir a promoção, Lokoloane será uma raridade: um jogador de futebol profissional abertamente gay.
Houve casos de atletas que saíram do armário apenas depois de terem abandonado o esporte, como o americano Robbie Rogers e o alemão Thomas Hitzlsperger. O inglês Justin Fashanu nunca admitiu a homossexualidade enquanto atuava, apesar de ser o segredo menos bem guardado do futebol britânico.
Ele se matou aos 37 anos, em 1991, após ser acusado de abusar sexualmente de um adolescente nos Estados Unidos.
Hitzlsperger fez apelo público para que jogadores gays declarassem de forma pública a sua orientação sexual. O primeiro a atender pedido foi o atacante australiano Andy Brennan, na semana passada.
"Na África do Sul sempre houve muitos homossexuais, mas dentro do armário. Eles não se expõem por medo de serem discriminados. Eu fui rejeitado várias vezes, especialmente em times profissionais", lembra Lokoloane.
Ele reconhece ter deixado clubes por não suportar as piadas e os comentários de dirigentes. Era uma opção que não tinha na escola, onde as surras eram diárias. O único jeito de ir ao banheiro e voltar são e salvo era pagar para um amigo acompanhá-lo.
Apanhar não o fez querer mudar. Lokoloane diz que a percepção disso o deixou mais forte. Havia algo dentro dele que a violência física na escola não podia tirar.
A aceitação da mãe foi imediata e ele nem precisou dizer nada. O entendimento entre os dois era claro. O pai precisou de mais tempo.
Lokoloane escuta piadas ou xingamentos homofóbicos nos estádios da África do Sul, primeiro país do continente a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não poderia jamais dizer que não se importa. Sente-se ofendido, claro. Mas punir torcedores ou clubes por comportamentos discriminatórios não é uma virtude das autoridades do futebol, seja na Europa, América do Sul ou África.
Ele diz aguentar tudo por um motivo. Quer ser alguém a abrir caminho para os jogadores quem vêm depois.
É uma briga solitária, porque não há outros gays declarados no futebol africano. Mas Lokoloane está habituado a estar só. Ele mora em Mdanstane, na parte leste da Cidade do Cabo, atraído pela oferta de um clube mais tolerante e onde seria respeitado.
"Nós temos de fazer mais agora. Temos de falar mais sobre isso. As pessoas precisam se abrir e há muito a ser feito. Há muitas coisas ainda ignoradas", afirma o jogador.

ALEX SABINO