Treze dias após o incêndio que, no último dia 8, matou dez atletas e feriu outros três, todos alojados no CT do Flamengo, em Vargem Grande (zona oeste do Rio), nesta quinta-feira houve a primeira audiência de mediação entre o clube carioca e as famílias das vítimas. Representantes das 13 vítimas aderiram à negociação, mas nada foi definido quanto aos valores. A expectativa é de que os acordos sejam firmados no prazo de dois meses. Eles evitariam a discussão na Justiça, que pode se estender por anos.
Em uma negociação anterior, intermediada pelo Ministério Público do Trabalho, pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público do Estado do Rio, o Flamengo ofereceu entre R$ 300 mil e R$ 400 mil para cada família de vítimas mortas, além de um salário mínimo (R$ 998, atualmente) por mês ao longo de dez anos, mas o valor foi considerado insuficiente pelas instituições. O Ministério Público do Estado propôs R$ 2 milhões por família e o pagamento de R$ 10 mil mensais até que cada vítima completasse 45 anos. Essa negociação foi encerrada sem acordo, na última terça-feira.
Para o desembargador Cesar Cury, que mediou o encontro desta quinta-feira por presidir o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), o valor das indenizações não deve ser tabelado: "Talvez o melhor seja que cada família encontre um valor que lhe atenda e lhe deixe confortável, para que amanhã não gere uma frustração".
"É uma situação bastante difícil, muito complexa e sem precedentes. Chegar a uma conclusão é um trabalho difícil. Um processo judicial tende a ser muito demorado e pode frustrar qualquer reparação para as famílias das vítimas, além de penalizar os demais participantes", disse o desembargador. "Pelo que vi até agora, todas as colocações foram muito pertinentes e há grandes chances de esse processo se encerrar rapidamente", continuou.
Segundo Cury, foram convidados para a reunião não apenas as famílias dos dez mortos e três feridos, mas de todos os atletas que estavam nos alojamentos incendiados - mesmo aqueles que saíram ilesos. "Foram convidados todos os familiares de todas as vítimas desse episódio. Tanto os familiares das vítimas fatais quanto dos sobreviventes. Os 13 que vieram são os 13 que atenderam os nossos chamados", afirmou.
O desembargador afirmou que apenas uma família, de um dos jovens feridos, queria adiar o início do processo de negociação, mas acabou convencida a começar a discussão imediatamente: "A família do Jhonata, que ainda está internado, pediu que o processo de mediação fosse feito em outro momento. Eu sugeri que fosse iniciado já, mas que se alongasse por um pouco mais de tempo até a completa recuperação do Jhonata, para os familiares poderem entender o que de fato aconteceu com ele", contou.
Segundo o TJ-RJ, o Flamengo foi representado pelo vice-presidente geral e de procuradoria geral, Rodrigo Dunshee de Abranches, e uma equipe de advogados.