A falta de embate foi a marca principal do debate promovido pela TV Bahia, afiliada da Rede Globo, na noite desta quinta-feira em Salvador. Em três dos cinco blocos, os candidatos trocaram perguntas pouco ousadas e deram aos concorrentes oportunidade para repetirem discursos muito semelhantes a tudo o que foi dito nos últimos três meses na propaganda eleitoral.
A aglomeração em frente à sede da emissora começou por volta das 20h, com militantes das coligações concorrentes, especialmente do PT e do DEM. O primeiro a chegar foi Roberto da Luz (PRTB), que apesar de estar na lanterna das intenções de voto, desqualificou as estatísticas e afirmou que ainda vai definir "de quem aceitará apoio no segundo turno".
Em seguida chegou Hamilton Assis (Psol), que mostrou esperança em atrair os votos dos indecisos e dar mais expressão à candidatura do partido. Márcio Marinho (PRB) manteve a estratégia de colocar em dúvida a confiabilidade das pesquisas e afirmou ter esperança no segundo turno.
Os candidatos ACM Neto (DEM), Mário Kertész (PMDB) e Nelson Pelegrino (PT) chegaram praticamente juntos, e mantiveram seus discursos dos debates anteriores: confiança no carinho e no poder de decisão dos eleitores e nada de definições sobre alianças até final do primeiro turno.
Muita audiência, pouco confronto
A expectativa de um debate acalorado alimentada por muitos eleitores foi frustrada. A dinâmica de perguntas e repostas curtas, que poderia sinalizar agilidade, resultou em pouco tempo para desenvolver as ideias e uma repetição constante de promessas já feitas à exaustão nos programas de radio e televisão.
O esperado embate entre os candidatos do PT e do DEM, que têm se digladiado via propaganda política, não aconteceu. Pelegrino focou seus questionamentos em Kertész e Marinho, e finalizou o ultimo debate do primeiro turno sem ter feito uma pergunta a ACM Neto.
O petista perguntou sobre segurança pública, mobilidade, finanças, mas usou a maior parte do tempo de réplicas para falar sobre os próprios projetos. Questionado sobre a insegurança na cidade, que cresceu muito nos anos do governo de Jaques Wagner (PT), afirmou que a "cidade parece estar sem prefeito", mas terminou desconversando e concluindo com promessas de segurança jurídica, revisão da Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo (Louos) e até operação tapa-buracos.
Às vésperas do fim de uma campanha onde largou com folga, ACM Neto assumiu uma postura prudente e pouco crítica. A exceção ficou para o quarto bloco de perguntas, com tema livre, onde o democrata perguntou a Pelegrino sobre seus maus resultados como secretário de Justiça e Direitos humanos no primeiro mandato do governo Wagner. Fora isso, manteve o discurso de confiar no poder de escolha do povo e trabalhar até os limites da permissão da Justiça Eleitoral. Na última pergunta que respondeu, Neto afirmou que estaria disposto a assinar um documento abrindo mão de suas pretensões políticas futuras caso não cumprisse as promessas da campanha.
Mário Kertész assumiu uma postura menos agressiva em comparação aos últimos debates. Menos confrontador do que de costume, focou praticamente todas as suas falas no combate à polarização da eleição entre DEM e PT, se colocando sempre como um candidato neutro e experiente na área administrativa.
Sem grande destaque, Márcio Marinho ressuscitou, por assim dizer, seu lado bispo (da Igreja Universal do Reino de Deus), elevou o tom de voz e fez profecias, chegando a dizer que contaria com a ajuda das igrejas e religiões para ajudar as pessoas.
O combate ao que chama de "máfias" foi a tônica da participação de Hamilton Assis, que acusou reiteradamente a cúpula da Secretaria da Educação do município de fazer do órgão um comitê de campanha do PTN, que apoia ACM Neto, e a Secretaria de Obras Públicas de servir à campanha petista. "Eles não precisam negar o fatiamento administrativo porque isso já está acontecendo", afirmou.
Assis acusou ainda o governo do PT de modificar o projeto do metrô de Salvador, que deveria ir para a região de Cajazeiras, mas agora passará pela avenida Paralela, para beneficiar a construtora OAS, que patrocina sua campanha municipal. "De quebra, eles irão construir a avenida 29 de março, que trará os moradores de Cajazeiras e criará demanda para esse modal sem sentido", afirmou.
Inofensivo segundo as pesquisas, Roberto da Luz aproveitou para, literalmente, fazer graça naquele que deve ser seu ultimo debate nesse pleito. Mandou beijos para a filha, fez trocadilho entre "parlamentar" e "para lamentar" e até uniu os números de todos os candidatos para, numa conta cheia de voltas, mostrar porque deveria ser ele o eleito.
É cedo para alianças
Abordados por jornalistas na saída do debate, quase todos os candidatos afirmaram que é muito cedo para pensar em alianças e que, se acontecerem, elas só serão discutidas a partir da próxima semana. A exceção foi Nelson Pelegrino, que dividiu com Mário Kertész sua visão sobre capacidades administrativas para Salvador. "Procurarei todos os candidatos e considero que os partidos que estão na base do governo Dilma são aliados naturais", afirmou Pelegrino, minimizando a fato de que alguns partidos que da base do Planalto são oposição no Estado.