Portal Terra
RIO BRANCO - Ao retornar ao Acre pela primeira vez como candidata oficial do PV à presidência da República, a acreana Marina Silva cumpriu em três dias uma agenda de campanha tão intensa que lança por terra a imagem frágil e debilitada com que costuma ser apresentada, em decorrência das várias doenças que já sofreu e ainda sofre, como malárias, hepatites e contaminação por metais pesados.
A candidata desembarcou às 4h da madrugada de sábado em Rio Branco (AC), onde nasceu, após ter viajado por mais de cinco horas a partir de São Paulo. Foi para o hotel, mas optou por não dormir, pois às 7h30 era aguardada para um encontro pessoal com um pastor da Assembleia de Deus.
Uma hora depois, estava reunida com mais de 100 familiares para o café da manhã num buffet da cidade. Visitou três Casas de Marina (pequenos comitês eleitorais nas casas de simpatizantes), discursou, deu autógrafos, cumprimentou eleitores, ouviu confidências, foi beijada e abraçada. O momento mais marcante foi na Casa de Marina em que se transformou a residência do casal de professores Terezinha e Dagmar, onde a candidata trabalhou como empregada doméstica e foi alfabetizada após trocar o seringal Bagaço pela cidade. Marina Silva se tornou professora por influência do casal de educadores.
"Eles me acolheram pela primeira vez. Aqui foi minha casa e eu tenho imensa gratidão por isso. Naquela época, era o sonho de uma menina que queria estudar para ser freira. Agora, é o sonho da menina que já estudou. Graças àquela fresta e oportunidade, estou aqui como candidata a presidente da República. Grato à família de dona Terezinha e do seu Dagmar, aos seus filhos, netos e bisneto. E eu sou o que? Acho que sou babá-avó. Não, sou babá-bisavó de vocês", afirmou Marina Silva, cercada por crianças da família.
Às 14 horas, a candidata estava no aeroporto de Rio Branco, agora para viajar por mais 1h45 em avião bimotor até Cruzeiro do Sul, no extremo ocidental do país. Antes disso, porém, teve que aguardar quase uma hora para que cinco peritos da Polícia Federal usassem um aparelho de raio-x para detectar qualquer objeto que pudesse ameaçar a segurança da candidata no avião. Marina Silva viaja sempre sob escolta de uma agente da Polícia Federal, além do pessoal de cada Estado, que se junta para oferecer reforço à segurança.
Era uma situação bem diferente da que enfrentou em 1996, quando já era senadora e embarcou num avião de carreira para visitar Cruzeiro do Sul. Naquela viagem de 14 anos atrás, ao se aproximar da cidade, o piloto foi avisado pela torre para que retornasse porque a pista estava ocupada por automóveis, tratores, caminhões, retro-escavadeiras e outras máquinas pesadas.
A manifestação fora organizada por empresários e políticos locais sob a alegação de que a senadora era a responsável pelo embargo das obras da BR-364, que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul. Na verdade, o embargo havia sido solicitado pelo Ministério Público Federal porque a obra estava sendo executada sem licitação e relatório de impacto ambiental pela empresa do então governador Orleir Cameli.
Ameaçada de morte, a senadora só voltou a visitar Cruzeiro do Sul quatro anos depois, quando o PT já havia conquistado o governo estadual. Mas até que isso acontecesse, sofreu uma campanha sórdida na imprensa local, tendo o governador enviado ofício em que proibia os veículos de comunicação de conceder qualquer espaço à sua desafeta.
Cameli se tornou aliado político do PT, executa grandes obras do PAC na região e se tornou um dos maiores apoiadores da candidatura de Dilma Roussef no Estado. O primo dele, César Messias (PP), que presidia a Assembleia Legislativa, é vice do governador Binho Marques (PT) e agora concorre como vice do candidato a governador Tião Viana (PT). Foram eles, junto com o então deputado Wagner Sales (PMDB), primo de ambos, atual prefeito de Cruzeiro do Sul, que estimularam o bloqueio da pista e as ameaças contra Marina Silva.
Ela relembrou com frieza o episódio, enquanto aguardava que