Após nove sessões consecutivas de alta, o Ibovespa encontrou nesta terça-feira, 27, no espelhamento da queda de seus pares, principalmente em Wall Street, espaço para a realização de lucros. Segundo analistas, é apenas um fôlego para seguir em trajetória de alta nas próximas sessões. Quase no final do pregão, o índice à vista aprofundou a queda e largou o patamar dos 87 mil pontos, fechando com perda de 0,82%, aos 86 935,43 pontos.
De acordo com analistas, o movimento de ajustes acabou por ocorrer na maioria das bolsas do globo, tendo como mote a fala do novo presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, sobre o fortalecimento da economia e da inflação nos Estados Unidos e, com isso, trouxe novamente a desconfiança de que a autoridade monetária poderia fazer quatro, e não três, altas no juro básico este ano. "Isso foi interpretado pelo mercado como que ele poderia ser mais 'hawkish' em relação ao aperto monetário", afirmou um operador.
A partir daí os mercados acionários em Nova York viraram a mão e, por aqui, o Ibovespa bateu sucessivas mínimas, chegando a 86 612,92 pontos (-1,19%). Ao mesmo tempo, lá fora, o dólar se fortaleceu e influenciou para baixo as cotações dos contratos futuros de petróleo. Nesse caso, a commodity se torna mais cara para os detentores de outras moedas, o que prejudica o apetite dos investidores. "Ainda somos país de commodities e a bolsa é impactada com a piora dessas cotações", notou Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos.
A Petrobras, cujos papéis estiveram na maior parte do dia em alta, passou ao largo tanto da influência da queda do preço do petróleo no mercado internacional quanto do rebaixamento da nota de sua dívida - de BB para BB- com perspectiva estável - pela agência de classificação de risco Fitch Ratings. O corte veio na esteira do downgrade soberano na sexta-feira passada.
Mas, ao final do pregão, ambas as ações cederam à conjuntura e encerraram em queda de 0,26% (ON) e 0,09% (PN). Um operador creditou a valorização dos papéis à espera de investidores por notícias corporativas. De fato, ao final do dia, a estatal anunciou o início do processo de venda de mais um ativo (Polos Enchova e Pampo).
Mercado observa política monetária dos EUA e dólar sobe 0,71%
O fortalecimento do dólar no mercado internacional foi determinante para levar a moeda americana a subir também ante o real nesta terça-feira, 27, depois de três sessões consecutivas de queda. A fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na Câmara dos Representantes dos EUA concentrou as atenções desde cedo e respondeu em boa medida pelo fortalecimento da divisa ao redor do mundo, principalmente no período da tarde. Ao final dos negócios no mercado à vista, o dólar foi negociado a R$ 3,2492, em alta de 0,71%.
Apesar de Jerome Powell ter mantido em linhas gerais o discurso suave, com defesa do gradualismo na política monetária, investidores teriam visto incentivo para se ajustaram à possibilidade de um quarto aumento de juros nos EUA este ano, e não três, como era anteriormente esperado. Na sessão de perguntas e respostas, o dirigente mostrou otimismo com a economia e a trajetória da inflação nos EUA. "Desde dezembro, temos visto dados sugerindo um fortalecimento da economia. Esses dados renovam a confiança de que a inflação subirá em direção à meta. Minha perspectiva para a economia se fortaleceu desde dezembro", afirmou.
A fala gerou reação nos mercados internacionais e teve reflexos também por aqui, com o dólar à vista atingindo a máxima do dia, cotado a R$ 3,2556 (+0,91%), às 12h56.
"O motivo para o mercado levar o dólar para cima não é tanto a fala de Powell, mas os números da economia dos Estados Unidos, que seguem fortes e vão acabar trazendo a esperada inflação ao país. O que esteve em jogo hoje foi o quarto aumento de juros", disse Hideaki Iha, operador da Fair Corretora.
A opinião é compartilhada por Glauber Romano, da corretora Intercam. "A fala de Powell foi a única coisa que levou investidores a mudarem posições e isso ficou claro nas oscilações do euro. Houve, sim, um movimento de precificação de uma quarta alta de juros", afirmou.
Pela manhã, o fluxo positivo ajudou a conter a pressão compradora sobre o câmbio. Esse fluxo, segundo operadores, cessou à tarde, o que acabou por consolidar o ganho do dólar. A queda dos preços do petróleo foi outro fator a gerar valorização do dólar ante moedas de países emergentes e exportadoras da commodity.
Fonte: Estadão Conteúdo