Matéria publicada nesta quarta-feira (8) pelo The Wall Street Journal analisa que os mercados emergentes deveriam ser as principais vítimas da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, mas os ativos dos países em desenvolvimento estão sendo os principais vencedores deste ano. As moedas, os títulos da dívida e as ações nos países emergentes despencaram em novembro, com a vitória de Trump, à medida que os investidores anteciparam o aumento dos juros americanos, o fortalecimento do dólar e a implementação de mais barreiras comerciais. Muitos investidores acreditam que o pior já foi precificado. E agora eles estão se colocando o foco nos benefícios para os países em desenvolvimento de um crescimento global,avaliações de empresas ações perto de recordes de baixa e de um aumento nos preços das commodities.
> > The Wall Street Journal Emerging Markets Shake Off Trump Slump to Be Year’s Big Winners, So Far
Segundo a reportagem o Índice de Ações de Mercados Emergentes MSCI já subiu cerca de 7% neste ano até segunda-feira, mais que o dobro dos ganhos do S&P 500. O índice MSCI de ações da China subiu 4% desde a eleição americana. No câmbio, o real brasileiro está agora mais forte que antes do pleito e até o peso mexicano, que tem estado especialmente sensível aos discursos de Trump, tem se valorizado nas últimas semanas.
O diário conta que nas semanas seguintes às eleições americanas, os investidores retiraram mais de US$ 5 bilhões dos fundos de ações dos mercados emergentes. Grande parte desses recursos voltou para os EUA com as promessas de Trump de aumento de gastos e corte de impostos provocando uma forte alta nas cotações das ações e na rentabilidade dos títulos do Tesouro americano. A rentabilidade dos títulos sobe quando os preços caem. A expectativa de alta nos juros aumentou, o que valorizou o dólar. Juros americanos maiores e um dólar mais forte tradicionalmente são notícias ruins para os mercados emergentes, que costumam emitir dívida em dólar e cujas exportações de commodities frequentemente são também negociadas na moeda americana.
De acordo com o Journal as apostas baseadas em promessas de Trump estão mostrando sinais de enfraquecimento. O Índice de Dólar do WSJ, que compara o dólar a uma cesta de 16 moedas, está em queda de 2,8% desde o início de 2017 até segunda-feira. Com a mudança do cenário, investidores estão voltando a olhar para os mercados emergentes. Eles têm outros motivos também. Os preços das commodities como metais e açúcar subiram e o petróleo se estabilizou em torno de US$ 50 por barril. Grandes produtores de commodities como a Rússia estão se beneficiando. O Fundo Monetário Internacional espera que a economia do país cresça 1,1% este ano depois de dois anos de recessão.
O diário norte-americano acrescenta que o FMI espera que as economias emergentes como um todo cresçam 4,5% em 2017, acima dos 4,1% do ano passado e mais que o dobro da taxa registrada nas economias avançadas. Na Ásia, as empresas estão sinalizando que os lucros estão se estabilizando, diz Rahul Chadha, um dos diretores de investimentos da sul-coreana Mirae Asset Global Investiments, que administra US$ 90 bilhões. Lucros corporativos na Ásia vinham caindo há vários anos.
“Com as pessoas vendo os lucros em alta e toda essa retórica de protecionismo [de Trump] dando lugar a soluções mais práticas, eu acredito que os fluxos vão vir para cá”, diz Chadha.
As ações dos mercados emergentes estão saindo de uma base muito baixa. Elas ficaram com um desempenho inferior ao dos papéis do mundo desenvolvido durante mais de dois anos, pressionadas pelos preços baixos das commodities, pelo dólar fortalecido e por temores em relação às consequências das promessas de Trump.
As avaliações do mercado de ações, calculadas pela proporção entre preço e lucro, nos países em desenvolvimento estão perto de seus níveis mais baixos já registrados, segundo dados retroativos a 2005 do Instituto de Finanças Internacionais. As avaliações de mercados desenvolvidos estão perto dos níveis mais altos desde 2008, segundo o instituto.
A combinação da elevação dos preços das commodities com ações muito mais baratas [de empresas] e a falta de impulso nos mercados desenvolvidos, [...] tudo isso cria uma proposta de investimento atraente”, diz Dehn, da Ashmore.
Alguns investidores estão, porém, cautelosos considerando o que eles definem como dificuldades em prever [as políticas de] Trump.
“Eu não gostaria de dar sinal verde”, diz Richard Segal, analista de mercados emergentes da Manulife Asset Management, que administra US$ 343 bilhões. “O protecionismo ronda na esquina e estamos um a tweet de distância de ter problemas com o México ou a China” diz Segal.