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'The Wall Street Journal': Alta recorde do dólar é ameaça à recuperação industrial dos EUA

No início deste mês, o Fed subiu os juros e sugeriu que haverá mais aperto monetário em 2017

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Matéria publicada nesta quarta-feira (28) pelo The Wall Street Journal analisa que o fortalecimento do dólar ressurge como uma ameaça para o setor manufatureiro americano, colocando em risco os lucros obtidos no exterior por empresas exportadoras e complicando as promessas do presidente eleito Donald Trump de sustentar o emprego industrial. O dólar, que se valorizou fortemente nos últimos dois anos, atingiu o nível mais alto em 14 anos após a eleição de Trump e a decisão recente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, de aumentar a taxa básica de juros.

O Journal comenta que é certo que o fortalecimento do dólar sinaliza um otimismo cada vez maior com relação à economia americana num momento em que o mercado de ações também atinge novos recordes. Perspectivas de inflação mais alta e elevação das taxas de juros incentivam o investimento em ativos do país, refletindo a crescente esperança do investidor de obter melhores retornos. Um dólar mais forte aumenta o poder de compra dos americanos. Se as importações são mais baratas, os consumidores do país têm mais dinheiro disponível para gastar. Isso, por sua vez, poderia impulsionar as vendas no varejo, um fator-chave para o crescimento econômico, e geraria mais confiança nos EUA em geral. Mas, embora seja positivo para os consumidores e empresas dos EUA que compram matéria-prima e peças no exterior, a alta do dólar ameaça os fabricantes americanos que dependem das vendas no exterior. Muitas multinacionais começaram a reduzir suas previsões de receita e buscar formas de cortar os custos. A 3M Co. e a United Technologies Corp. indicaram que o dólar forte pode dificultar um aumento das vendas em 2017.

Segundo reportagem algumas concessionárias das motocicletas Harley-Davidson Inc. e das escavadeiras daCaterpillar Inc. estão se preparando para o risco de que seus rivais japoneses tirem proveito da queda do iene contra o dólar e ofereçam preços mais baixos. A Caterpillar informou que o iene fraco intensificou a concorrência. A Harley não quis comentar. Vários líderes empresariais disseram ao The Wall Street Journal que as promessas de Trump de promover os negócios do país iriam mais que compensar os efeitos de um dólar mais forte, especialmente se os impostos e o peso da regulação forem aliviados. Eles esperam que o plano de Trump de reformar a infraestrutura impulsione o crescimento econômico e que um aumento nas vendas no mercado interno possa compensar qualquer queda nas exportações.

Jerry Johnson, presidente da divisão agrícola da Blount International Inc., fabricante de produtos para o campo do Oregon, diz que o dólar forte pode ser compensado pela queda nos preços de importação. Cerca de 50% dos componentes usados pela Blount vêm do exterior. O dólar tem se mantido relativamente fraco em relação à maioria das principais moedas do mundo ao longo dos últimos dez anos. Isso ajudou as exportações dos EUA a crescerem rapidamente após a crise financeira. No fim de 2010, as exportações atingiram níveis recorde e continuaram aumentando, chegando a US$ 598 bilhões por trimestre em 2014. O emprego na indústria manufatureira começou a se recuperar e acreditava-se que os EUA podiam estar iniciando um renascimento industrial. Desde então, o dólar subiu fortemente contra moedas como o iene e o euro. Enquanto isso, a libra britânica caiu na esteira da votação de junho em que os eleitores do Reino Unido optaram por sair da União Europeia. No início deste mês, o Fed subiu os juros e sugeriu que haverá mais aperto monetário em 2017.

O diário norte-americano diz que o índice do dólar do WSJ, que compara a moeda americana com outras 16, atingiu o maior nível em 14 anos na semana passada. O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA também tem subido devido a expectativas de maior crescimento e de inflação durante o governo Trump, mas a alta do dólar poderia prejudicar o plano do presidente eleito ao elevar o valor das exportações e tornar as importações mais baratas. A equipe de transição de Trump não respondeu a um pedido de comentário.

De acordo com o noticiário para algumas empresas, um dólar mais forte provavelmente irá limitar o interesse na expansão da manufatura doméstica. O yuan caiu para seu nível mais baixo em relação ao dólar em oito anos, o que poderia incentivar os fabricantes a manter suas fábricas na China em vez de repatriá-las para os EUA. O peso mexicano, por sua vez, acumula queda de 13% em relação ao dólar desde as eleições americanas, ampliando a tentação de levar as fábricas para o outro lado da fronteira, apesar das promessas de Trump de punir empresas que levarem empregos para o exterior. A Boeing Co., maior empresa exportadora dos EUA, citou na semana passada “menos oportunidades de vendas e uma concorrência feroz” ao anunciar que fará novas demissões em sua divisão de aviões comerciais em 2017. Este ano, ela reduziu sua força de trabalho em 8%.

Ao longo dos próximos três anos, as empresas gradualmente se ajustariam através de, entre outras coisas, um aumento da capacidade em fábricas no exterior e uma redução da fabricação nos EUA, modificando sua cadeia de abastecimento ou ampliando o uso de automação.