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'WSJ': Wall Street prevê ano dourado para ações em 2017

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Matéria publicada nesta segunda-feira (12) pelo The Wall Street Journal avalia que estamos na época em que os estrategistas de Wall Street tiram do armário suas bolas de cristal e predizem o que os mercados vão fazer no próximo ano – esquecendo, ao mesmo tempo, convenientemente, tudo que disseram há 12 meses. Enquanto as perspectivas para 2017, aparentemente intermináveis, entopem as caixas de e-mail dos investidores, Wall Street tem um raro motivo para se alegrar: as previsões apontam para um dos melhores anos de todos os tempos. A previsão média no início do ano era que o índice S&P 500 terminaria em 2.216 pontos – número que foi atingido, e ultrapassado, pela primeira vez, na quarta-feira passada. Se o mercado se mantiver em alta, Wall Street terá feito sua previsão mais acertada desde 2005, quando errou sua estimativa para a média do S&P por apenas dois pontos.

Segundo a reportagem os grandes bancos julgam que outro bom ano vem pela frente. As previsões são todas positivas, baseadas na suposição de que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, vai cortar impostos e que estímulos fiscais ajudarão a economia. Os investidores não devem se entusiasmar demais. O acerto das previsões deste ano foi questão de sorte, não devido a uma súbita melhora no poder de previsão dos analistas. O Bank of America Merrill Lynch é um exemplo, com sua previsão de 2.200 pontos para o S&P ficando bem perto do alvo. Mas o banco também previu entre três a quatro aumentos da taxa de juros pelo Federal Reserve, o banco central dos EUA, e o primeiro e único ainda pode ser ocorrer na reunião do Fed que ocorre esta semana. A maneira como se chega a esse número também importa. Em Wall Street, há opiniões divergentes sobre o caminho que o próximo ano tomará. David Kostin, diretor de estratégia com ações nos EUA do Goldman Sachs, espera um “excesso de entusiasmo em relação a Trump e, depois, a realidade”. Ele diz que a recuperação levará o S&P a 2.400 pontos até o final de março, acompanhando o aumento da expectativa em torno da redução de impostos, desregulamentação e aumento dos gastos com infraestrutura durante os primeiros 100 dias do novo governo. Mas quando o Congresso começar a examinar os planos, as perspectivas de ganhos devem diminuir e ele acredita que o índice recue para 2.300 até o final do ano.

De acordo com o texto do Journal o J.P. Morgan espera um número maior, de 2.400 pontos, ao final do próximo ano, mas Jan Loeys, diretor de estratégia de mercado do banco, julga que o principal efeito do novo governo virá da redução dos impostos das empresas, que devem reforçar os lucros, mesmo que haja pouca disseminação dos ganhos para a economia geral do país. Para o Bank of America Merrill Lynch, 2017 apresentará uma economia mais forte e uma inflação mais alta, mas também potencial para grandes oscilações no mercado. O Credit Suisse teme que a rentabilidade dos títulos do Tesouro americano de 10 anos acima de 3% possa prejudicar as bolsas e prevê um retorno do S&P para 2.300 pontos depois de uma recuperação no primeiro semestre.

Um exemplo do problema de fazer previsões vem do Citigroup. Tobias Levkovich, principal estrategista de ações americanas do banco, coloca o S&P em 2.325 pontos daqui a um ano. Mas ele foi o primeiro a divulgar sua previsão, em setembro, e um dos poucos a apresentar também uma previsão para a Média Industrial Dow Jones, em 20.000 pontos. Depois de um surto pós-Trump, o índice está agora apenas 2% abaixo dessa meta para daqui a um ano. Análises passadas sugerem que os investidores devem ignorar essas suposições para o fim de 2017. O estrategista médio nunca começou o ano prevendo uma queda nas bolsas, em nenhuma das pesquisas realizadas pela Bloomberg desde 2000, embora as ações tenham caído em um a cada três anos. É comum deixar passar despercebidos grandes pontos de virada em ambas as direções. Fortes ganhos foram previstos em 2008, quando o mercado teve seu pior ano em várias gerações. Os estrategistas ficaram então cautelosos com as previsões para 2009, que foram as mais baixas desde que essa pesquisa começou – e, no entanto, o mercado se recuperou em 23%.

O diário norte-americano acrescenta que concordar com Wall Street nem sempre é confortável para os investidores. Philip Saunders, um dos diretores da equipe de ativos múltiplos da Investec Asset Management, vem apostando desde meados do ano no “comércio da reflação” – inflação e crescimento impulsionados por estímulos fiscais, algo presente em todas as previsões bancárias do momento. “Um consenso esmagador é extremamente perigoso”, diz, “mas não creio que estejamos lá, apesar de todas as perspectivas para 2017”. Enquanto os fundos de hedge e alguns outros investidores habilidosos já acordaram para o fato de que o crescimento será melhor do que se pensava antes, Saunders acha que os grandes investidores institucionais, que agem mais lentamente, ainda não se desfizeram dos seus títulos e outros papéis de renda fixa para adotar posições mais arriscadas.

Loeys pensa o mesmo. “Muitas pessoas [entre os investidores] só agora estão tomando pé da situação”, diz ele.

Se Wall Street tiver razão, há uma enxurrada de dinheiro que ainda deve entrar nas bolsas, enquanto a compra de títulos dos últimos anos vai recuando, justificando a alta das ações no mês passado. E se Wall Street não tiver razão, pelo menos todos vão errar juntos.