Matéria publicada nesta terça-feira (12) no The Wall Street Journal, conta que o Banco Santander SA, um dos maiores bancos de varejo do mundo, dependeu por muitos anos da sua lucrativa unidade britânica para compensar os efeitos negativos de outras regiões. Agora, a Brexit, como foi chamada a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, mergulhou a galinha dos ovos de ouro do Santander em incertezas, num momento em que o banco enfrenta turbulências na maioria de seus principais mercados, inclusive o Brasil. O Santander, que possui unidades por toda a América Latina, está acostumado a lidar com volatilidade cambial, cenários econômicos precários e mudanças políticas repentinas. Mas agora a convulsão está atingindo o normalmente estável Reino Unido, que gera cerca de 25% do lucro do banco espanhol. A moeda britânica despencou e a economia deve desacelerar depois do resultado do referendo de 23 de junho. Os analistas têm reduzido suas estimativas dos lucros futuros do banco. Como banco de varejo, não de investimento, o Santander tem a vantagem de ficar menos exposto a grandes oscilações na receita em períodos de queda dos mercados. Mas, segundo analistas, agora o banco está vulnerável ao risco de a Brexit desacelerar as economias de mercados onde ele atua.
Segundo a reportagaem do Journal, depois da Brexit, Quinn reduziu em 12% sua estimativa de lucro por ação do Santander nos próximos dois anos. Uma queda contínua da libra esterlina reduziria o lucro do Santander no Reino Unido quando o banco divulgá-lo em euro. E a desaceleração econômica que muitos esperam ver no país deve afetar a receita que o banco obtém vendendo hipotecas e outros produtos. Analistas também receiam que as incertezas do pós-Brexit forcem os bancos centrais do Reino Unido e da zona do euro a manter seus juros baixos por mais tempo, o que vai espremer as margens que o Santander e outras instituições ganham com empréstimos. E não é só a Brexit que está deixando os investidores em dúvida sobre a capacidade da presidente do conselho executivo, Ana Botín, de elevar a lucratividade e a cotação das ações do banco. Ela está lutando para apagar incêndios simultâneos em vários dos mercados mais importantes do Santander, um exemplo dos desafios que os bancos enfrentam mundialmente. Ao mesmo tempo em que encara uma recessão econômica prolongada no Brasil e problemas regulatórios nos Estados Unidos, o Santander está às voltas, na Espanha, com juros negativos e o crescimento teimosamente lento do crédito. Agora, os efeitos da Brexit podem colocar mais obstáculos ao crescimento no mercado espanhol. As ações do Santander já caíram cerca de 16% desde que a Brexit foi confirmada, no dia 24 de junho, frustrando quase dois anos de tentativas de Botín para dar impulso à cotação. Botín chefiou a unidade britânica do banco antes de assumir a liderança com a morte do pai, Emilio, em 2014. Desde então, o valor de mercado do Santander caiu quase pela metade, para cerca de 50 bilhões de euros (US$ 55,26 bilhões). Apesar dos problemas para elevar os lucros, o Santander defendeu suas metas financeiras três dias depois do referendo, garantindo aos investidores que seria capaz de divulgar um índice de capital de mais de 11% até dezembro 2018, segundo as regras internacionais dos acordos de Basileia III, ante 10,27% registrados em 31 de março. O banco afirmou também que o lucro por ação deste ano deve ficar acima do obtido em 2015.
De acordo com o The Wall Street Journal, vários executivos de bancos e analistas de Madri dizem ter ficado surpresos com o nível de detalhes do anúncio, dadas as incertezas sobre os efeitos que a Brexit terá na moeda e na economia britânicas e em outros países do bloco europeu. O diretor financeiro do banco, José García Cantera, disse que a presença do Santander em dez grandes mercados ajuda a estabilizar os lucros. Alguns analistas apontam que a contração da economia brasileira no primeiro trimestre foi menor que a esperada e que a turbulência política diminuiu. Ainda assim, a economia do Brasil está em seu quinto trimestre seguido de queda, a pior recessão da história recente do país. Sofie Peterzens, analista do banco americano J.P.Morgan Chase & Co., ressalta que o foco do Santander nos cortes de custos, especialmente na Espanha, onde o banco está fechando agências e demitindo funcionários, “ajudará a elevar ao lucro”. O banco também enfrenta problemas regulatórios nos EUA. Em junho, o Santander foi reprovado no teste de estresse anual do Federal Reserve, o banco central americano, pelo terceiro ano consecutivo, o único banco com esse desempenho, devido a fraquezas nos “controles internos, governança e funções de supervisão”, assim como no monitoramento de riscos, informou o Fed. O relatório anual publicado em março pela unidade de empréstimos ao consumidor do Santander nos EUA revela que o banco tem muito a fazer para garantir que não será reprovado novamente em 2017. No relatório, o banco informou que seu diretor-presidente e diretor-financeiro concluíram, no fim de 2015, “que nós não mantemos controles e procedimentos eficazes de divulgação”, citando problemas com a estimativa de provisões de perdas com empréstimos, a fiscalização ineficaz de informações e premissas usadas em seus modelos, e um processo de contratação mal administrado, que deixou a empresa com uma equipe financeira mal treinada e inexperiente.