Matéria publicada nesta sexta-feira (8) no The Wall Street Journal, conta que Os bancos centrais de partes da Europa e da América do Sul responderam ao abalo provocado pelo referendo do Reino Unido recorrendo a uma ferramenta já consagrada: a intervenção cambial. Dados do banco central suíço divulgados na quinta (7) ressaltam os esforços que os dirigentes dos BCs têm feito para evitar que suas moedas se valorizem demais, num momento em que a maioria desses países parece preferir um câmbio mais fraco em relação ao dólar. As reservas em moeda estrangeira da Suíça subiram no mês passado para 95% do PIB do país, expondo o banco central a perdas enormes caso o franco continue se fortalecendo.
O jornal norte-americano diz que a eficácia das intervenções cambiais, no entanto, tem diminuído, numa época em que taxas de juros negativas e compras de títulos de dívida em larga escala surgiram como a arma preferida dos BCs para enfraquecer suas moedas e, assim, dar impulso a suas economias por meio de um aumento das exportações e da inflação. O grau de utilidade dessa política de intervenção tem sido debatido há décadas. Quando um banco central interfere nos mercados para enfraquecer a moeda local — às vezes seguindo instruções do Ministério da Fazenda do país — normalmente ele compra ativos em moeda estrangeira. O Banco Nacional da Suíça anunciou sua intervenção cambial em 24 de junho, horas após o anúncio da decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia. As reservas em moeda estrangeira da Suíça subiram no mês passado para 608 bilhões de francos suíços (US$ 624 bilhões), um aumento de 6 bilhões de francos suíços em relação ao mês anterior. Mas, apesar dos esforços para enfraquecer o franco, a moeda avançou cerca de 2% em relação ao euro e 10% ante a libra esterlina no último mês, mantendo-se estável ante o dólar. A intervenção cambial “tem efeitos, mas é preciso uma quantia enorme, especialmente em uma economia aberta como a Suíça”, diz Joseph Gagnon, acadêmico sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional. O banco central da Dinamarca vendeu coroas dinamarquesas para enfraquecer a moeda e manter o euro dentro da banda cambial desejada. Analistas da firma de serviços financeiros Nordea dizem que a intervenção totalizou 25,2 bilhões de coroas (US$ 3,8 bilhões) em junho, elevando o total das reservas cambiais para 452 bilhões de coroas, cerca de 25% do PIB.
Segundo a reportagem, não são apenas as economias desenvolvidas que estão usando essas táticas. Em 1º de julho, o Banco Central do Brasil interveio no mercado para tentar reduzir a alta do real, após a cotação do dólar ter caído a seu nível mais baixo nos últimos 11 meses. O BC leiloou contratos de swap cambial reverso, um derivativo que tem o efeito de sustentar o dólar. Ao contrário do que ocorreu na Suíça e na Dinamarca, a alta do real não foi resultado de fluxos de capital de investidores procurando proteção, mas do aumento das taxas de juros, que tendem a elevar a demanda global por ativos de um país. Idealmente, a intervenção tem um efeito duplo. A compra ou a venda de moedas em si afeta a cotação. E, simbolicamente, o poder do banco central de imprimir dinheiro de forma ilimitada envia um forte sinal aos investidores de que eles correm o risco de ter grandes prejuízos apostando contra o BC. Esse efeito é amplificado quando os países unem forças. Em meados dos anos 80, grandes economias realizaram uma ação coordenada para enfraquecer o dólar e fortalecer o iene, num momento de crescente sentimento protecionista nos Estados Unidos. Em 2000, os bancos centrais das maiores economias do mundo compraram euros para apoiar a moeda, que ainda estava em sua infância. Economistas divergem sobre até que ponto essa ação surtiu efeito, mas o euro subiu continuamente nos dez anos seguintes. Essa era de ações coordenadas praticamente terminou e, nos últimos 15 anos, as intervenções têm praticamente se limitado a medidas unilaterais do Japão, Suíça e outros países.
O Journal em seu texto relata que economistas afirmam que o poder das intervenções foi enfraquecido depois que os bancos centrais ampliaram o leque dos ativos que compram. Nos últimos anos, o Federal Reserve, nos EUA, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão compraram trilhões de dólares, euros e ienes em títulos de dívida de governos e outros bônus para aumentar a oferta de moeda e reduzir as taxas de juro de longo prazo. Muitos bancos centrais também têm disponibilizado empréstimos de longo prazo para instituições financeiras a juros baixíssimos. Com essas vastas somas de dinheiro se movimentando nos mercados, intervenções cambiais de economias menores podem conseguir, no máximo, manter a situação estável por algum tempo. E a Suíça, que depende das intervenções cambiais, pode ter acabado acelerando a derrocada desse recurso. Em janeiro de 2015, o BC suíço abandonou, sem aviso prévio, o piso para a cotação do euro em francos, um limite que a instituição havia garantido por mais de três anos. A medida surpreendeu os mercados financeiros e levou o banco central a uma perda de 23 bilhões de francos no ano passado. A ação também enfraqueceu um dos elementos mais importantes das intervenções, a credibilidade, principalmente porque a virada na estratégia foi feita por um dos bancos centrais mais conservadores do mundo.