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'Clarín': A deflação mundial está se revertendo

No capitalismo, as crises revelam estruturas e tendências

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Matéria publicada neste sábado (4) no Clarín, analisa que a melhora competitiva do dólar se acentuou nos meses de abril e maio deste ano e o comportamento da China e do petróleo tem impacto nos resultados.

Segundo a reportagem, no primeiro trimestre de 2016 o dólar caiu 4,9% contra as moedas de todos os países avançados (-2,9% em termos nominais) e se desvalorizou inclusive frente ao real (+20%). E, ao se enfraquecer em relação às moedas de seus 31 concorrentes, fortaleceu-se competitivamente. Esse é um processo inverso ao que ocorreu a partir de maio de 2014, em que o dólar se apreciou mais de 20%, o maior nível em 14 anos. Assim, só entre junho e dezembro do ano passado, o nível de apreciação do dólar superou 6,5%, especialmente frente ao real, diante do qual escalou 27,3% nesse período. Isso aconteceu nos últimos quatro meses quando a desaceleração da economia mundial, que cresceu 3,1% em 2015 e que se expandiria neste ano a uma taxa similar ou menor (2,5%), se aprofundou. Seria o terceiro ano de estancamento consecutivo e o menor nível desde 2009.

China

O estancamento da economia global é arrastado pela desaceleração da economia chinesa (+6,5% em 2015), quatro pontos abaixo do nível de expansão médio entre 2001 e 2010 (+11% anual). O PIB chinês – o primeiro do mundo em capacidade de compra doméstica (US$17,4 trilhões) – experimentou em 2015 um superávit de conta-corrente de US$ 410 bilhões (3,1% do PIB), longe do superávit de 11% de 2007, mas praticamente o mesmo em relação ao fluxo de capitais ao exterior.

A melhora do dólar se acentuou em abril/maio deste ano, com uma alta de 2,5% do índice DXY, o resultado mais favorável desde novembro de 2015 e o mês mais positivo dos últimos seis anos.

A alta do dólar também se revelou na melhora experimentada com os títulos do Tesouro, com um auge de 3,8 pontos básicos (1,87% anual) nos bônus a 10 anos e de 2,5 pontos básicos (0,92% anual) nos de dois anos.

Petróleo

O aumento do preço do petróleo, que subiu mais de 70% desde fevereiro deste ano (US$ 27 o barril de brent), é um processo correlativo. Isso sucede em um momento em que o crescimento da demanda de petróleo diminuiu (as importações chinesas caíram quase 1 milhão de barris por dia em 2015) e a oferta retrocedeu (a produção de xisto nos EUA caiu 300.000 barris por dia) e esta nova situação levaria a um barril de petróleo de US$ 60 a US$ 65 no fim do ano.

A China também está experimentando uma pressão deflacionária menor devido à aceleração das reformas pelo lado da oferta destinadas a acabar em dois ou três com a sobrecapacidade das indústrias do aço, carvão, cimento e plásticos, que supera 30% de sua produção. A capacidade instalada não utilizada do aço chinês é de 1 bilhão de toneladas e a capacidade de produção supera 1,4 bilhão de toneladas, mais do que o resto da produção mundial somada. Por isso, a força de trabalho do carvão e do aço será cortada em 6 milhões em três anos e a produção será reduzida em 150 milhões de toneladas (10% do total).

A taxa de retorno das grandes companhias estatais chinesas é negativa (menor do que o custo do capital), enquanto que os lucros que as atividades privadas dos serviços oferecem – em especial as novas empresas de alta tecnologia –, é superior a 30% anual.

A sequência dos acontecimentos mundiais mostra a seguinte estrutura: desaceleração chinesa com alta do superávit de conta-corrente / hiperliquidez do sistema financeiro / queda do preço do petróleo / acentuação da pressão deflacionária / choque de apreciação do dólar.

A equação agora começou a se reverter. A primeira etapa é o último anel da sequência anterior (dólar EUA), embora o acontecimento crucial em termos globais seja o que sucede na primeira (reformas chinesas).

Esta mudança de ciclo vem acompanhada de extraordinárias manifestações estruturais: a adesão dos EUA à nova revolução industrial e a transformação da China em uma economia de serviços de alta tecnologia consumo-intensiva.