O site da revista norte-americana Forbes publicou nesta terça-feira um artigo de Micahel Krancer sobre uma fonte de energia que, segundo ele, deveria ser mais utilizada. "Executivos e formuladores de políticas no setor de energia dos Estados Unidos estão relaxando com o novo boom de produção de petróleo. Eles se regozijam com essa história de retorno, escrita por técnicas aprimoradas para extração de xisto e gás, que tornaram os Estados Unidos o maior produtor de petróleo do mundo, na frente da Arábia Saudita e da Rússia", diz ele.
"Mas em meio às congratulações, algumas pessoas espertas estão dando um alerta. Ser um gigante do petróleo e da gasolina é lindo, dizem eles, mas isso também apresenta um problema: faz com que os americanos acreditem que não há problema em depender quase exclusivamente de gasolina e diesel como combustível de transporte. Tirando algumas poucas pessoas ricas que podem comprar um Tesla de US$ 85.000, nosso setor de transporte e ergo nossa inteira economia, dizem eles, é viciada no petróleo. É por isso que eles estão estimulando políticos norte-americanos e industriais a voltar à dura tarefa de levar mais pessoas entre nós a comprarem carros e caminhões que utilizem combustíveis alternativos", escreve Krancer.
Duas pessoas que estão levantando essa questão são Anne Korin e Gal Luft. Eles têm martelado sobre esse tema desde 2012, quando publicaram seu livro “Petropoly: O colapso do paradigma da segurança de energia da America.” Esse 'Petropólio', para Korin e Luft, significa ceder totalmente o mercado de combustíveis líquidos de transporte para gasolina derivada de petróleo e combustível de diesel — mesmo enquanto existirem alternativas mais valiosas.
Korin e Luft perguntam por que, mesmo com grandes aumentos na produção interna de petróleo, os EUA se tornaram mais pobres e afundados na dívida. Sua resposta: “O verdadeiro problema é que primeiro, enquanto a demanda por petróleo caiu e a oferta cresceu nos EUA, nada disso aconteceu no mundo todo, e em segundo lugar, não somos um mercado competitivo de [combustível líquido].”
Korin e Luft traçam o seguinte panorama: "… os preços do petróleo subiram e as despesas estrangeiras com petróleo se elevaram em quase 50%, passando de US$ 247 bilhões em 2005 para US$ 367 bilhões em 2011. A parte de importações de petróleo no total de déficit cresceu de 32% em 2005 para 58% em 2011. Pior: o preço de um galão de gasolina comum em 2005 era de US$ 2,30. Por volta da primavera de 2012 [era de US$ 4 em média]…"
Eles dizem que o país deveria ter uma abordagem mais democrática para melhorar a mobilidade, uma que permita ás pessoas e empresas a deixarem a gasolina se e quando há problemas no mercado do petróleo. Se isso não acontecer, eles temem que os Estados Unidos serão relegados ao papel do personagem de Bill Murray no filme “O Dia da Marmota,” para sempre acordando para descobrir que não conseguiu encerrar seu longo inverno nem resolver qualquer de seus problemas.
Os números são analisados com cuidado. O petróleo responde por cerca de 95% de combustível de transporte hoje. Isso é um “petropólio”. E apesar de um conjunto de fatos empolgantes — a produção interna de petróleo está bem alta, carros são muito mais eficientes em combustível, e as importações estão em seus níveis mais baixos desde 1996 — americanos ainda estão gastando meio trilhão de dólares por ano em petróleo. Os Estados Unidos usa cerca de 19 milhões de barris por dia, e até mesmo no preço mais baixo de hoje de cerca de US$ 68 bilhões, que se traduz em US$ 1,29 bilhões por dia.
Então o que deveria ser feito? A resposta é óbvia para Korin e Luft: trazer ao mercado mais escolhas para combustível de transporte. Gás Natural Comprimido é uma possibilidade óbvia, mas sua tração tem sido precária — somente 987 estações de abastecimento de GNC existiam nos EUA no final de 2012. Hoje há mais de 1500, o que representa ainda um número pequeno — e apenas cerca da metade dessas estações estão abertas ao público.
Além do GNC, Korin e Luft destacam um gigante escondido: o metanol. O metanol, além de ser uma molécula com base no carbono que pode ser usado como combustível, tem pouco a ver com o etanol, o combustível com base no milho que foi muito desprezado nos últimos anos.
Em volume, o metanol contém mais ou menos a metade da energia contida na gasolina, mas os motores de combustão capturam mais eficientemente a energia devido a sua mais baixa temperatura de queima. Mudar motores de gás normal para consumirem metanol custa só cerca de US$ 100 a US$ 200 a mais do que equipar veículos para que se transformem em modelos flex, aptos a receber gasolina de etanol, uma característica comum de fabricação nesses dias.
Vários fabricantes de metanol que vão de 5% (M5) a 100% (M100) já estão sendo usados abundantemente na China, onde é feito a partir do carvão. Os chineses, é claro, não fazem política de energia para mostrar; eles estão focados na eficiência e no custo. Então é mais do que intrigante que o metanol já responda por cerca de 8% da gasolina de transporte da China, a maior parte em caminhões de serviços leves e transporte público.
Os detratores dizem que é preciso de mais energia para metanol do que o que rende quando é usado como um combustível de transporte. O que também preocupa esse grupo: devido ao fato do metanol ter metade da energia do petróleo por unidade de volume, produzi-lo pode ser não rentável, e as propriedades altamente corrosivas do metanol significam que requer melhores mecanismos de estocagem e distribuição do que a gasolina.
Muitos desses problemas podem ser resolvidos com a vontade política certa e R&D. O programa da China sugere que é o caso. Então por que o metanol não recebe um olhar mais atencioso como uma alternativa produzida internamente para a gasolina derivada do petróleo no setor de transportes? Alguns grupos, é claro, colocam o metanol na odiada categoria de “gás de estufa” porque pode ser derivado da mineração e do processamento de combustíveis fósseis como o carvão. Mas a grande razão é que o metanol ainda não tem um eleitorado forte que o empurre em Washington como tem o etanol (ou seja, todo o setor agrícola). Há um projeto de lei no Congresso agora que vale a pena ser acompanhado.
O ato de “Fuel Choice and Deregulation” (Escolha do combustível e desregulamentação) de 2015 foi introduzido no Senado pelo Senador Rand Paul (R-KY) e Chuck Grassley (R-IA), e na Câmara por Rod Blum (R-IA). O projeto pretende oferecer um abrandamento na regulamentação para produtores e consumidores de combustíveis alternativos ao fornecer o crédito Corporate Average Fuel Economy (CAFE) para fabricantes automotivos que produzem veículos que permitem que o metanol seja o combustível alternativo preferido. Mas até o metanol possuir o tipo de apoio no Capitólio que o etanol teve durante décadas, dificilmente será capaz de desempenhar um papel de destaque nos transportes dos EUA.