“A falta de dólares na Argentina e a recessão no Brasil está provocando a queda do comércio entre os dois países e o começo das desavenças entre os empresários do país vizinho e o governo de Cristina Kirchner”. É o que diz um artigo do jornal argentino El Cronista, publicado nesta quarta-feira (11/02).
Ontem, o ministro da Economia Axel Kicillof, não teve dúvidas em afirmar que "é insensato que no Brasil digam que não estão de acordo com que se financiem barreiras" na Argentina. "Temos uma integração elevada" com o Brasil. "Temos acordos e temos também necessidades mútuas que às vezes esperamos que sejam cumpridas de outra maneira, mas temos uma relação muito madura", acrescentou o ministro nas declarações à Radio Del Plata.
No entanto, o empresário brasileiro Pedro Luiz Passos, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) assegurou que o acordo entre Argentina e China vai gerar ainda mais ressentimentos na indústria brasileira e podem prejudicar inclusive o setor agrário do Brasil.
Pela tarde na Economia, afirmaram que não existe nenhuma pressão do governo de Dilma Rousseff e que a visita à Argentina do novo chanceler Mauro Vieira ex-embaixador do Brasil na Argentina é apenas protocolar. Vieira se reunirá hoje com o chanceler Héctor Timerman e com Kicillof.
A pressão dos brasileiros vem basicamente do setor dos fabricantes de bens. Os brasileiros suspeitam que a Argentina vai comprar mais da China e menos do Brasil.
Ontem, foi divulgado que o emprego no setor industrial brasileiro fechou 2014 com uma queda acumulada de 3,2%, conforme demonstrou a amostra Industrial Mensal, Emprego e Salário (Pimes) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outra mostra é a produção e exportação de carros, muito sensível ao que acontece na Argentina e vice-versa.
Em janeiro, por exemplo, houve uma redução de 13,7% na produção de carros no Brasil, disseram os fabricantes de carros (Anfavea) em seu último informe. Nos últimos 12 meses, a produção acumula una queda de 14,9%, acrescentou ele. Nesse período, as exportações registraram uma queda de 27,9% em janeiro em relação ao mesmo mês de 2014.
"Nosso grande mercado continua sendo a Argentina. Mas as vendas nesse país caíram cerca de 39% em janeiro em comparação com o mesmo mês do ano passado. Isso tem afetado as exportações", disse o presidente da Anfavea, Luiz Moan.
Às menores vendas para o mercado argentino se soma o desemprego no setor. Também segundo dados da Anfavea foram fechados 12.774 postos de trabalho em 2014. A culpa, no Brasil, dizem que é do vizinho.
Mas a Argentina tem argumentos para se defender. As vendas ao Brasil também diminuíram: em 2014 caíram 20% e a balança segue sendo negativa para a Argentina. "A raíz dessa queda, a Argentina perde posicionamento como provedor do mercado brasileiro colocando-se no quarto lugar, atrás da China (US$ 3,70 bilhões), Estados Unidos (US$ 2,54 bilhões) e Alemanha (US$ 901 milhões)", destacou a consultoria abeceb.com.
"Caiu o comércio em geral, nós compramos menos deles porque eles compram menos de nós", disse uma fonte do ministério da Economia.
"Ontem, os industriais brasileiros receberam uma piscada que os tornou um pouco mais competitivos contra a Argentina. O dólar alcançou seu valor máximo no Brasil na última década. O real se desvalorizou 2,05% frente ao dólar, divisa que fechou a sessão negociada a 2,833 reais para a compra e 2,835 reais para a venda", conclui a matéria do El Cronista.