O projeto que desobriga o governo federal de fazer superávit primário nas contas públicas deste ano tem um novo calendário de tramitação, mais enxuto do que o divulgado anteriormente, o que deve apressar a votação da proposta no Congresso. O projeto altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) em vigor.
Pelo novo cronograma, lido na tarde desta quinta-feira no Plenário do Senado, a apresentação de emendas vai até as 17 horas da próxima segunda-feira (17). No dia seguinte, deve ser apresentado o relatório, por parte do senador Romero Jucá (PMDB-RR), ficando a votação do parecer para o dia 19, na Comissão Mista de Orçamento (CMO), onde ele tramita.
No calendário divulgado ontem, que levava em consideração os prazos regimentais normais, o prazo das emendas iria dos dias 17 a 24, ficando a votação, na comissão, para o período entre 9 e 12 do próximo mês.
Urgência
O calendário lido nesta quinta foi sugerido pelo relator, Romero Jucá, ao presidente da Comissão de Orçamento, deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), que o encaminhou à Mesa do Congresso Nacional, onde recebeu o aval do presidente do Senado, Renan Calheiros. A redução dos prazos regimentais para a votação da proposta é encampada pelo governo e pelo próprio Jucá.
Com isso, o governo federal decidiu retirar o pedido de urgência constitucional ao PLN 36, anunciada nesta quinta, em razão de o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ter informado ao vice-presidente Michel Temer que aceitou o calendário proposto pelo relator, senador Romero Jucá (PMDB-RO). A medida era polêmica, pois a Constituição só trata do regime de urgência para projetos iniciados na Câmara dos Deputados – o PLN tem tramitação à parte, sendo analisado apenas na Comissão de Orçamento e no Plenário do Congresso. Havia o risco de a oposição questionar judicialmente o pedido presidencial.
Com o novo calendário, o PLN 36 ganha, na prática, uma tramitação rápida na CMO. Depois, a proposta terá de ser analisada pelo Plenário do Congresso Nacional (sessão conjunta de Câmara e Senado).
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Mobilização
Desde ontem o governo se mobilizava para garantir a aprovação do projeto antes do início do recesso parlamentar (23 de dezembro). O texto ganhou a atenção política depois que o Executivo admitiu que não conseguirá fechar o ano com superávit primário se não fizer um forte abatimento na meta, usando os gastos com investimentos e desonerações. Até setembro, o governo federal acumulou deficit primário de R$ 20,7 bilhões. A meta do ano seria de um superávit mínimo de R$ 49,1 bilhões.
O líder do PT, deputado Vicentinho (SP), disse hoje que a proposta é prioridade para o partido: "Queremos votar esse mecanismo o mais breve possível”.
No PMDB, a decisão de apoiar ou não a proposta ainda não está sacramentada. O líder da legenda, deputado Eduardo Cunha (RJ), deve reunir a bancada na próxima semana para discutir o assunto e tirar uma posição. Nesta quinta, ele postou na sua conta no Twitter uma mensagem cobrando do governo um novo padrão de condução das contas públicas.
“A melhor maneira de resolver isso é mostrar transparência das contas públicas, evitando que esse tipo de situação possa se repetir, corrigindo os erros do passado e zerando tudo isso para que, no futuro, não tenhamos de discutir qualquer medida que implique mudança de meta fiscal e de controle da inflação”, publicou.
Oposição
O novo calendário de tramitação do projeto deverá enfrentar resistência da oposição. O PSDB deve definir até amanhã a forma de contestação do cronograma. Hoje, o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), reafirmou a disposição do partido de não concordar com a votação do PLN 36. Ele criticou especialmente a tentativa do Executivo de dar o regime de urgência para o projeto.
“O governo comete um atentado aos princípios constitucionais querendo impor regra ao Congresso que se aplica apenas à tramitação na Câmara. O Executivo novamente desrespeita a independência do poder Legislativo e promove uma manobra claramente ilegal e inconstitucional”, argumentou Mendonça Filho, que manifestou intenção de contestar a urgência em ação no Supremo Tribunal Federal (STF).