Em matéria publicada hoje pelo Financial Times, Komal Sri Kumar faz críticas às políticas cambiais, que considera destrutivas. “Seis anos depois do fim da crise financeira, a recuperação da economia global continua anêmica. O estímulo fiscal poderia não ser usado para reorganizar a situação devido ao impasse fiscal em Washington, a falta de acordo nas políticas na eurozona, e a já alta dívida em relação ao PIB no Japão. Desvalorizações decorrentes de sucessivos programas de Quantitative Easing (QE) se tornaram o instrumento preferido para o estímulo. Tais guerras cambiais impulsionaram mercados de ações sem uma recuperação simultânea no crescimento econômico global”, escreve Kumar, que é presidente da Sri-Kumar Global Strategies.
Ele prossegue: “Os Estados Unidos começaram a praticar o QE (aumento da oferta de dinheiro) no final de 2008. Programas sucessivos resultaram na quintuplicação do balanço do Federal Reserve de US$ 800 bilhões em Setembro de 2008 a US$ 4.5 trilhões hoje. A cada novo programa, o dólar caía a partir do momento em que os investidores percebiam que dólares demais buscavam outras moedas. O índice dólar, que mede a força relativa da moeda americana frente a uma cesta de seis outras grandes moedas, atingiu uma baixa em abril de 2011.
O presidente do Banco Central europeu Mario Draghi falou ativamente em baixar o euro nas últimas semanas, já que seu empenho de julho de 2012 em fazer “o que for possível” para salvar o euro desengatilhou uma redução regional nos rendimentos das obrigações, mas não uma recuperação da eurozona. O BC europeu agora planeja adquirir um trilhão de euros em empréstimos e hipotecas nos próximos dois anos, esperando que as maiores reservas dos bancos sejam canalizadas ao setor privado. O euro caiu de US$ 1,31 no início de setembro a US$ 1,24”.
“No Japão, um iene mais fraco resultado de uma forte dose de expansão monetária é a peça-chave da Abenomics. Os esforços de compra de títulos desde o início de 2013 não conseguiram impedir uma queda de 7,1% do PIB no segundo trimestre deste ano. O Banco do Japão surpreendeu os mercados anunciando recentemente que aumentaria a aquisição de ativos em até um terço, apesar de que o balanço do Banco do Japão como porcentagem do PIB já é duas vezes maior do que nos EUA. Mais uma vez, foi alcançada a meta para a taxa de câmbio. O iene imediatamente caiu a seu nível mais baixo em sete anos.
A ameaça comum a todas essas medidas é a crença de que a desvalorização da moeda seria um precursor de retomada das exportações e um crescimento econômico maior. Infelizmente, jogar com taxas de câmbio é um jogo de soma zero: a fraqueza de sua moeda é a força da minha, e vice versa. Qualquer benefício ao país que está se desvalorizando seriam fugazes já que outras nações comerciais contra-atacam com medidas semelhantes”, diz Kumar, em seu artigo.
Ele aponta aqueles que considera os melhores caminhos: “A maneira correta de estimular o crescimento seria implantar mudanças estruturais que provocariam uma expansão do mercado mundial. O primeiro desses é abrir segmentos do mercado que antes estavam fechados à concorrência. Por exemplo, nas últimas duas décadas, sucessivas Secretarias do Tesouro dos EUA insistiram para que a China subisse o ritmo da valorização do renminbi sob a ameaça de ser chamado “manipulador de moeda” pelo governo norte-americano. Tais medidas falharam em reduzir o excedente comercial da China. Autoridades americanas teriam obtido mais sucesso expandindo as exportações dos EUA se tivessem focado em permitir empresas americanas de fazer ofertas competitivas por contratos chineses. A ênfase numa mais rápida valorização do renminbi tirou a atenção desses esforços”.
“As últimas medidas japonesas para expandir a base monetária dificilmente vão trazer melhores resultados em comparação ao que a Abenomics conseguiu até agora. Com o iene enfraquecido de 107 frente ao dólar em 27 de Outubro para 115 recentemente, isso pouco fará para resolver os problemas do Japão. Uma população que envelhece e áreas fechadas à concorrência estrangeira clamam por soluções estruturais em vez de monetárias.
Autoridades japonesas terão maior sucesso acelerando o ritmo de crescimento e subindo a taxa de inflação se eles permitirem aumento da chegada de uma mão de obra jovem e qualificada. Isso baixaria a idade media no Japão dos atuais 46, expandindo assim demanda agregada. Limitar a influência de oligopólios domésticos que desestimulam a concorrência e a produção permitiriam a entrada em cena de empresas mais novas e produtivas.
E enfim, o rupee Indiano se fortaleceu em quase 70 frente ao dólar em agosto de 2013 para 61 recentemente sem afetar o crescimento. A reação favorável do investidor a um novo diretor de banco central simpático ao mercado, e a vitória eleitoral de um governo focado em reduzir a burocracia e a corrupção, foram mais poderosos do que mudanças na taxa de câmbio.
Guerras cambiais são basicamente destrutivas. Mudanças estruturais são a maneira duradoura de impulsionar o crescimento global”, conclui Komal Sri Kumar.