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Recorde de produção de petróleo confirma potencial do pré-sal

Capacidade da área era colocada em dúvida pela imprensa nacional e internacional

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A marca de 500 mil barris diários de petróleo produzidos na área do pré-sal confirmam o potencial geológico das reservas que recentemente estavam sob desconfiança do mercado. Especialistas acreditam em uma aceleração da produção e ressaltam a expressividade do número, que surge em um momento importante e que deve gerar impacto na geração de empregos, capacitação de mão de obra, desenvolvimento tecnológico e fortalecimento da cadeia produtiva de bens e serviços dessa indústria.

Marcus Ianoni, professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Federal Fluminense (UFF) acredita que o alcance dos 500 mil barris diários nos campos do pré-sal reafirma a capacidade empresarial da Petrobras. Ele destaca que a notícia surge em um momento importante, já que a empresa e sua gestão vinham sendo objeto de críticas e ataques, "frequentemente motivados por disputas políticas, sobretudo quando se está em uma conjuntura eleitoral". 

"No geral, a trajetória da Petrobras, nos últimos dez anos, tem sido muito positiva. Em oito anos, o pré-sal, que era apenas um projeto, tornou-se uma realidade. A empresa tem tradição e competência pioneira de exploração de petróleo em águas profundas e essa tradição avançou ainda mais com a descoberta e a efetiva extração de petróleo nos campos de pré-sal. Penso que um impacto disso será a aceleração da produção nos campos de pré-sal nos próximos anos, o que envolve geração de empregos, capacitação de mão de obra, desenvolvimento tecnológico e fortalecimento da cadeia produtiva de bens e serviços dessa indústria", explica o professor.

Luciano Losekann, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), vê uma situação bastante favorável, com uma recuperação da produção realizada no passado, e que estava estagnada nos últimos cinco anos. Losekann lembra que a visão negativa que repercutiu entre a imprensa, inclusive no exterior, em relação ao potencial do pré-sal, se defronta agora coma comprovação de que o pré-sal é bastante positivo e que a produção tende a crescer. Cumprir as metas traçadas no plano estratégico, aponta, é essencial para que a Petrobras faça frente aos grandes investimentos que realiza. "Eu acredito que daqui para frente a empresa vai cumprir as metas estabelecidas."

Marcelo Colomer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutor em Economia da Indústria e Tecnologia, ressalta que, "realmente, o volume de barris de óleo é um dado positivo por si, não só para o Brasil mas também para a Petrobras, inclusive pelo curto espaço tempo de exploração no pré-sal", e também porque reafirma algo que estava em dúvida, que era o potencial efetivo da área descoberta há oito anos. "Muito se especulou que a produção vinha caindo fora do pré-sal e que a do pré sal não estava alta o suficiente para cobrir a queda", comentou Colomer. 

A produção de petróleo nos campos operados pela Petrobras na chamada província do pré-sal nas bacias de Santos e de Campos superou a marca dos 500 mil barris por dia (bpd) - atingindo 520 mil bpd no dia 24 de junho - o que configura novo recorde de produção diária. Desse volume, 78% (406 mil bpd) correspondem à parcela da Petrobras e o restante, à contribuição das empresas parceiras da companhia nas diversas áreas de produção da camada pré-sal. A produção foi alcançada oito anos após a primeira descoberta de petróleo na camada pré-sal, ocorrida em 2006. Para chegar ao marco, a estatal contou com a contribuição de somente 25 poços produtores. 

A Petrobras, fundada em 1953, esperou 31 anos para alcançar a marca de 500 mil barris diários, o que ocorreu no final do ano de 1984, com a contribuição de 4.108 poços produtores. No pós-sal da Bacia de Campos, onde a primeira descoberta ocorreu em 1974, foram necessários 21 anos para se produzir 500 mil barris diários de petróleo. Este nível de produção, alcançado em 1995, contou com a contribuição de 411 poços produtores. Na porção americana do Golfo do México, por exemplo, foram necessários 20 anos, a partir da primeira descoberta, para se produzir 500 mil barris diários. No Mar do Norte, o patamar foi atingido em dez anos.

A produção média do pré-sal respondeu por 22% do total da produção operada no mês de maio pela Petrobras no Brasil. De 2010 a 2014, a média de produção diária dos reservatórios do pré-sal cresceu dez vezes, avançando de 41 mil barris para 520 mil barris por dia. Dos 25 poços em operação nessa província, dez estão localizados na Bacia de Santos, que responde por 53% da produção do pré-sal (274 mil barris por dia). Os outros 15 poços estão localizados na Bacia de Campos e respondem pelos 47% restantes (246 mil barris por dia).

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A produtividade média por poço em operação comercial no Polo Pré-sal da Bacia de Santos tem sido da ordem de 25 mil barris de petróleo por dia, maior que a registrada no Mar do Norte (15 mil barris de petróleo por poço/dia) e no Golfo do México (10 mil barris de petróleo por poço/dia). Alguns poços do pré-sal da Bacia de Santos apresentam produtividade acima de 30 mil barris diários, como o LL-11, no projeto piloto de Lula Nordeste, com vazão média de 31 mil barris por dia, bem como o SPS-77 e o SPH-04, no piloto de Sapinhoá, com produção média de 34 mil barris diários cada um.

O pré-sal é uma sequência de rochas sedimentares formadas há mais de 100 milhões de anos no espaço geográfico criado pela separação do antigo continente Gondwana. Mais especificamente, pela separação dos atuais continentes Americano e Africano, que começou há cerca de 150 milhões de anos. Entre os dois continentes formaram-se, inicialmente, grandes depressões, que deram origem a grandes lagos. Ali foram depositadas, ao longo de milhões de anos, as rochas geradoras de petróleo do pré-sal. Como todos os rios dos continentes que se separavam corriam para as regiões mais baixas, grandes volumes de matéria orgânica foram ali se depositando.

À medida em que os continentes se distanciavam, os materiais orgânicos então acumulados nesse novo espaço foram cobertos pelas águas do Oceano Atlântico, que então se formava. Dava-se início, ali, à formação de uma camada de sal que atualmente chega a até 2 mil metros de espessura. Essa camada de sal depositou-se sobre a matéria orgânica acumulada, retendo-a por milhões de anos, até que processos termoquímicos a transformasse em hidrocarbonetos (petróleo e gás natural).