A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) projeta inflação maior no Brasil neste ano e prevê "grandes incertezas" em relação à economia do país, de acordo com um relatório publicado nesta quarta-feira.
O estudo "Perspectivas Econômicas da OCDE" para a economia mundial, realizado semestralmente, prevê que a inflação no Brasil deverá atingir 6,2% em 2013 e 5,2% no próximo ano.
No relatório anterior, divulgado em novembro, a organização previa que a inflação no Brasil seria mais baixa e atingiria 5,3% neste ano.
As perspectivas da organização em relação ao crescimento do PIB brasileiro também são mais pessimistas.
A OCDE, com sede em Paris, revisou para baixo suas previsões de crescimento da economia brasileira neste ano e em 2014. Segundo a organização, o PIB brasileiro deverá crescer 2,9% em 2013 e 3,5% no próximo ano. No estudo anterior, de novembro, a OCDE estimava que a economia brasileira cresceria 4% neste ano e 4,1% em 2014.
'Decepcionante'
"Após um crescimento decepcionante em 2012 (0,9%, o menor em três anos), a atividade econômica se recupera, enquanto as pressões inflacionárias se intensificam", diz a OCDE.
O relatório relembra que a inflação brasileira ultrapassou em março, no acumulado dos últimos 12 meses, o teto da meta fixada pelo governo, que é de 6,5%.
A meta de inflação do Banco Central é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. "As previsões para os próximos dois anos permanecem acima do centro da meta, de 4,5%", diz o estudo.
A organização afirma que o mercado de trabalho aquecido, a expansão vigorosa do crédito e os choques mundiais e internos sobre os preços dos alimentos reforçaram as pressões inflacionárias no Brasil.O estudo também vê como importante o comprometimento do Banco Central brasileiro em levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%.
"A confirmação desse compromisso por meio de atos reforçaria a confiança em relação à eficácia do sistema de definição das metas de inflação", afirma a OCDE.
O documento diz que "a mediocridade das perspectivas externas constitui o principal obstáculo a um crescimento mais forte da economia brasileira". "Desde o final de 2011, as políticas orçamentária e monetária (do governo brasileiro) apoiam uma retomada progressiva da economia, mas os indicadores a curto prazo levam a entrever grandes incertezas", diz a organização.
Segundo o relatório, há sinais de retomada dos investimentos no Brasil, mas esse crescimento "pode ser claramente mais hesitante se a confiança nas políticas econômicas se deteriorar".
"Progressos nas reformas em andamento em relação às infraestruturas e à fiscalidade poderiam ampliar os investimentos".
A organização critica os aumentos recentes das tarifas de importação no Brasil, que "deveriam ser temporários", e pede ao governo para "rever a eficácia" desses aumentos como também de algumas medidas de apoio à indústria.
"As medidas que entravam a concorrência das importações são sem dúvida prejudiciais ao crescimento e à produtividade a médio prazo e deveriam ser revistas", diz o estudo.
Economia mundial
A OCDE prevê que o PIB mundial deverá crescer 3,4% neste ano, após uma expansão de 2,8% em 2012. "Apesar das performances permanecerem decepcionantes, a economia mundial avança, mas com ritmos diferentes", afirma Pier Carlo Padoan, secretário-geral adjunto e economista-chefe da OCDE.
"Os Estados Unidos deverão provavelmente registrar uma expansão mais rápida do que outras economias da OCDE (que reúne sobretudo países desenvolvidos). Na zona do euro, o crescimento permanece bloqueado pelos efeitos duráveis da crise", diz o estudo.
A OCDE prevê que o PIB dos Estados Unidos deverá crescer 2,1% em 2013 e, o do Japão, 3%, enquanto na zona do euro o aumento estimado é de apenas 0,1% neste ano. A economia chinesa deverá crescer 7,9% em 2013 e 8,3% em 2014 nas previsões da OCDE.
"As perspectivas de crescimento também são divergentes nos países emergentes. A China lidera, enquanto a expansão dos outros é limitada por fatores estruturais, e uma tendência de estagflação (estagnação econômica e inflação persistente) até se manifesta em algumas economias", diz o estudo.