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Desaceleração chinesa causaria transtornos em todo o mundo

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O pujante crescimento da economia chinesa tem impulsionado os mercados emergentes e equilibrado os efeitos da crise mundial, que prejudicam os Estados Unidos e a Europa desde 2008. No entanto, dados recentes mostraram uma possível desaceleração do gigante asiático, assustando os investidores de todo o mundo.

No início de março, Wen Jiabao, presidente do país, anunciou uma expectativa de crescimento econômico de 7,5%, bem abaixo do especulado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), de 9%. E, na última semana, pesquisa realizada pelo banco HSBC mostrou uma depreciação na atividade industrial do país. Não demorou muito para que as bolsas reagissem com temor e todos os índices da Europa, dos EUA e do Brasil registraram forte queda nos últimos dias.

A importância econômica da China hoje é indiscutível e se a tendência for confirmada, todos os mercados mundiais, inclusive o Brasil, sofreriam grandes perdas, afirma o economista Pedro Paulo Bastos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Porém, é bom frisar que estes novos dados apenas representam uma leve desaceleração do país, que ainda não é muito ameaçadora. As bolsas tendem a reagir de maneira exagerada quando não se tem um direcionamento muito claro. Na Europa ainda se pode ter uma aprofundamento da crise a recuperação dos EUA está lenta, ou seja, a incerteza no geral ainda é grande”, analisa.

Conseqüências

A demanda por commodities, impulsionada pelo crescimento chinês, tem ajudado o Brasil a se fortalecer durante as turbulências internacionais. Com uma desaceleração do gigante asiático, o país perderia o seu grande "comprador" e também sofreria com um déficit na balança comercial.  

Além disso, o aumento brutal na competição ao redor do planeta seria uma das grandes consequencias para as economias, afirma Bastos. Com os mercados internos enfraquecidos, os países em crise tendem a exportar e se utilizar das economias mais estáveis para vender. Caso isto aconteça, a China inundaria o Brasil com seus produtos, desestimulando a produção nacional. 

"(A competição) já está muito complicada em todo mundo, já que as economias internas estão fracas. Só que a China, através do câmbio e das políticas de produção, consegue um preço muito baixo do que os países desenvolvidos, por exemplo", explica.

Indústria brasileira 

O economista José Oreiro, da Universidade de Brasília (UnB), também acredita que uma entrada massiva de produtos chineses no Brasil prejudicaria a indústria nacional, que já caminha para uma possível desaceleração.

"As recentes medidas do governo visam exatamente fortalecer e proteger a produção do Brasil, que já está perdendo muito competitividade. Uma desaceleração chinesa desestimularia ainda mais a produção brasileira, grande geradora de empregos para o país", analisa.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados) "os produtos asiáticos entram no país muito mais baratos, e acabam eliminando a competitividade dos calçados nacionais. Várias empresas foram para a Nicarágua, por exemplo, que oferece custos mais baixos", afirma Elisabeth Rentz, assessora da instituição.

Em 2011, a Azaléia e a Dakota, grandes nomes do setor, fecharam as portas de fábricas no Rio Grande do Sul. A americana Crocs também fechou sua fábrica brasileira, situada em Sorocaba, no interior de São Paulo. 

Para Rentz, as consequências da desindustrialização "são devastadoras, pois este é o setor que mais emprega na economia. Ou seja, com esta área fraca, o crescimento econômico do país será afetado como um todo", analisa.

Temor é "exagerado"

Apesar da reação forte dos mercados e o temor perante o futuro chinês, Bastos lembra que o presidente Wen Jiabao anunciou que pretendia fortalecer o mercado interno, melhorando a infra-estrutura do país e aumentando o "bem estar" social dos habitantes.

"É claro que uma desaceleração chinesa seria extremamente prejudicial, porém o país tem consciência das mudanças que precisam ser feitas para que consigam sustentar o seu crescimento. E, apesar da diminuição, 7,5% ainda é um número muito alto para causar tanto temor", conclui. 

Carolina Mazzi