Apesar de ter subido cinco posições e estar ocupando o 53º lugar no ranking geral do Relatório Global de Competitividade 2011-2012, a burocracia, a falta de mão de obra especializada e problemas de infraestrutura ainda impedem o Brasil de alcançar um lugar mais alto entre os países mais competitivos do mundo.
O diretor presidente do Movimento Brasil Competitivo (MBC), Erik Camarano, entidade que ajudou a fazer o ranking do Fórum Econômico Mundial no Brasil, disse hoje (7) à Agência Brasil que o resultado deste ano foi muito positivo para o país, mas lembrou que o governo ainda precisa investir muito em infraestrutura e diminuir a corrupção e a burocracia para se tornar mais competitivo e atrair um volume maior de investimentos.
“Pioramos a avaliação na infraestrutura do ano passado para cá. Os únicos indicadores de infraestrutura que melhoraram foi de telefonia fixa e celular. Os outros todos, especialmente de transportes, mostrou uma piora no ranking. Isso reforça um tema que a gente tinha levantado no ano passado que é a importância do investimento em infraestrutura para garantir que ela não seja um gargalo para a competitividade brasileira”, disse Camarano.
Segundo ele, apesar dos investimentos em infraestrutura em função do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do pré-sal e de eventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, o ritmo desse processo ainda é lento. Ele também destacou dois complicadores: o valor do frete, o dobro do valor dos Estados Unidos, e a alta concentração do modal rodoviário. “A matriz de transporte brasileira tem quase 60% em rodovias. Isso tem custo ambiental, de asfaltamento e de conservação altos, e a mudança desse modal só vai ocorrer quando conseguirmos investir nos outros segmentos e investir em intermodalidade, ou seja, investir em polos que possam fazer essa integração de cargas”, declarou.
Entre os itens mais bem avaliados da economia brasileira no ranking estão o tamanho do mercado consumidor (oitavo no específico), segurança dos bancos (16º) e disponibilidade de serviços financeiros (25º).
“Em vários pilares está tendo avanço. Não há nenhuma questão com relação à condução da economia brasileira: estamos na direção correta, ou seja, tem a garantia da estabilidade de preços e da inclusão social. Foi uma estratégia consistente do ponto de vista macro. Mas o que existe hoje é uma discussão quanto à velocidade desse crescimento. Para fazermos o salto e pegarmos alguns atalhos para sermos mais rápido, precisamos investir naqueles fatores que geram um ambiente mais inovador e competitivo para o país”, destacou.
Além dos problemas em infraestrutura, Camarano também ressaltou como aspectos negativos a burocracia para abertura e fechamento de empresas no país e para a concessão alvarás de funcionamento e o aparecimento, pela primeira vez no ranking, da questão da falta de profissionais nas áreas de engenharia e de ciências aplicadas. “Hoje, no Brasil, estamos formando cerca de 5% ou 6% do universo de estudantes que saem dessas áreas, enquanto que a China tem 25% de estudantes saindo de engenharia”.
Os resultados do relatório mostraram ainda que a competitividade nas economias desenvolvidas se manteve estagnada nos últimos sete anos e melhorou em muitos mercados emergentes. Entre o Brics, a China continua na liderança, subindo um posto e ocupando a 26ª posição. “A China tem consistentemente, ano após ano, melhorado a posição no ranking e a nota de competitividade”, disse Camarano, lembrando que isso se deve, principalmente porque o país adota uma política de investimentos agressiva e porque tem investido muito em formação científica e em inovação. Em seguida aparecem a África do Sul (50ª), o Brasil (53ª), a Índia (56ª) e Rússia (66ª).
A primeira posição do ranking geral continua ocupada pela Suíça, seguida por Cingapura, Suécia, Finlândia, Estados Unidos, Alemanha, Noruega, Dinamarca, Japão e Reino Unido.
A queda no ranking de países como a Alemanha (perdeu uma posição), França ( três posições, ocupando agora o 18º lugar) e Grécia (que teve queda expressiva e passou a ocupar a 90º lugar) demonstram, segundo Camarano, a dificuldade que estes países estão tendo em dar “uma resposta rápida e consistente do ponto de vista de política pública”.
Quanto aos Estados Unidos, que passou de quarto para quinto, Camarano disse que o problema tem relação com a lenta recuperação econômica. “A preocupação no governo americano é mais com a lentidão de resposta e a dificuldade de articulação entre a Casa Branca e o Congresso para o desenho de uma política consistente a fim de atacar o déficit público”.