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Recall: montadoras economizam com a falta dos proprietários

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Adriana Diniz, Jornal do Brasil

RIO - Montadoras brasileiras já economizaram pelo menos US$ 1 bilhão com proprietários de quase 4 milhões de veículos que não atenderam aos recalls por defeito de fábrica, segundo livro de Rodolfo Alberto Rizzotto, coordenador do SOS Estradas, programa de redução de acidentes. Mais de 8 milhões de automóveis foram chamados nos últimos dez anos. Mas apenas 50% dos proprietários compareceram, conforme dados das montadoras repassados ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC).

As montadoras não têm interesse de fazer o recall. Adiam o quanto podem e não divulgam direito o chamado ressalta Rizzoto, acrescentando que o custo médio de um recall é de US$ 250 (mão de obra e peças).

De acordo com o DPDC que recebe boletins dos fabricantes e é responsável por enviar um laudo técnico com a ordem de recall entre 2003 e 2008 foram realizadas 187 convocações de carros e motos com defeitos de fábrica no Brasil, média de 31 por ano. Em 2009, o número de recalls bateu recorde: entre janeiro e novembro, foram 40 chamados de 65 modelos, totalizando 697.756 mil unidades que ofereciam risco à segurança ou à integridade física do condutor e dos passageiros.

No livro, Rizzoto cita o caso da Toyota, que convocou mais de 8,5 milhões de veículos no mundo. A japonesa, que pode ter economizado US$ 100 milhões com recall parcial de alguns modelos, chegou a negar o problema no sistema de aceleração e freio, anunciando que trocaria os tapetes dos veículos, apontados como causa do defeito. Mas acabou suspendendo a produção em cinco fábricas pela falha no dispositivo eletrônico, que provoca aceleração involuntária e mau funcionamento do freio.

De acordo com a imprensa americana, pelo menos 34 pessoas morreram por conta dos aceleradores defeituosos da Toyota. Como a Toyota agora vai fazer o recall dessas vidas perdidas? , critica Rizzoto.

No Brasil, a Volkswagen fez três chamados só nos últimos seis meses. Praticamente todos os modelos da montadora foram convocados. O último recall, em 10 de fevereiro, abrange 193.620 unidades dos modelos Novo Gol e Voyage, fabricados entre 2008 e junho de 2009. Um problema de lubrificação no rolamento das rodas traseiras de algumas unidades pode causar ruído, travamento ou desprendimento da roda.

O químico Mário Mamed, que comprou um Novo Gol em fevereiro de 2009, chegou a questionar os mecânicos da autorizada sobre o barulho nas rodas, quando levou seu carro para um dos três recalls do modelo. Me disseram que o barulho era normal, que não era problema algum, e todo Gol 2009 era assim. Agora, vejo que é um defeito de fábrica , conta.

A Volskswagen declarou que enviará cartas aos proprietários desta vez. A inspeção dos rolamentos é gratuita na rede.

Audiência pública pede o envio de carta aos donos

Em 2008, o deputado federal e ex-presidente do Detran, Hugo Leal, apresentou em audiência pública uma solução para o problema de má divulgação ou falta dos proprietários nos recalls: uma parceria entre o DPDC e o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para que todos os motoristas fossem avisados por carta pelas montadoras.

O Denatran tem os dados e endereços de todos os donos de veículos do país, e o DPDC recebe os comunicados oficiais das montadoras sobre recalls. Assim como o motorista recebe uma multa em casa, poderia receber um aviso de recall explica Hugo Leal.

Até hoje, no entanto, nenhum dos órgãos cumpriu o prometido. O deputado espera marcar nova audiência até abril, para cobrar uma providência. Além da convocação por carta, Leal exige que os veículos só passem na vistoria de licenciamento anual se tiverem atendido aos recalls feitos pelas montadoras, uma vez que os defeitos comprometem a segurança do motorista e de pedestres.

O técnico da vistoria avalia um defeito para garantir a segurança nas ruas e estradas do país e reprova quem não tiver com tudo em perfeitas condições. O rigor com defeitos de fábrica tem que seguir a mesma linha.