Raphael Zarko, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - A indústria de exportação, mais afetada pela crise financeira internacional, melhorou expectativas para vendas, uso de capacidade instalada, produção, contratações e outros indicadores investigados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A índice de confiança entre empresas exportadoras disparou de 48 pontos em janeiro para 71 pontos em agosto, de acordo com dados obtidos pelo JB.
O dado referente à indústria de exportação ainda está bem abaixo da média histórica, de 97,5 pontos, mas já sinaliza a reversão que está por vir no campo dos investimentos.
A recuperação vinha sendo realmente lenta. O baque foi muito forte, até porque a indústria estava produzindo muito e então tinha que desovar os estoques. Mas julho e agosto estão dando sinais melhores diz Aloisio Campelo, economista da FGV responsável pela pesquisa mensal de confiança da indústria.
Dos 14 gêneros industriais pesquisados, 11 apresentam índices de confiança acima da média histórica. O economista constatou que a recuperação de indústrias de bens intermediários, como metalurgia, minerais não-metálicos, papel e celulose, além da indústria mecânica, são destaques no momento", por combinarem ajuste de estoque com reação da demanda externa.
Esses segmentos vinham de demanda zero, com estoques ociosos. No segundo trimestre, o mercado chinês viu que os preços estavam baixando e provocou alguns espasmos de demanda. Daqui a alguns meses o investimento vai voltar, mas com força mesmo só em 2010 aposta Campelo.
Na esteira do aumento da produção, também deve haver a recuperação do emprego na indústria, segundo ele. Mas esta é uma segunda etapa do processo de recuperação.
Primeiro as companhias vão colocar os funcionários para trabalhar mais horas, vão pagar mais, retomar férias coletivas. Depois devem voltar a contratar. Mas o ritmo será lento.
Se as exportações só agora retomam a trajetória de crescimento, as vendas do comércio varejista oscilaram sempre de forma positiva, mesmo na crise.
Conforme variação de vendas do comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o cenário só não foi melhor comparada à base de referência do ano de 2008, quando a economia alcançava um ritmo quase que chinês.
Mesmo com a crise, o mercado interno manteve o fôlego. No período continuamos a ter aumento da massa salarial, houve acordos, reajustes, e o desemprego não veio como muitos previram diz Reginaldo Silva Pereira, economista do IBGE.
Para o especialista, a pequena variação negativa do emprego, a estabilidade da inflação e as intervenções do governo (como a redução do IPI para automóveis e desoneração de impostos de eletrodomésticos de linha branca) ajudaram o consumo e beneficiou os números positivos do varejo:
Só não captamos bons resultados na construção civil, que continuaram negativos. Você reduzir o preço do saco de cimento é uma coisa. Chegar no varejo é outra. Ninguém está comprando casa, reformando apartamento.
O recorde pós crise em 2009 no varejo foi em abril, com 7,05% a mais de vendas ante abril de 2008.
Consumo salva
A taxa de desemprego subiu no início da crise, com as demissões que as empresas fizeram assim que a bolha estourou. Mas em 2009 o quadro sombrio deu lugar a mais otimismo entre as empresas, e muitos tiveram de voltar a contratar para dar conta do consumo dos brasileiros. No segundo trimestre deste ano o consumo das famílias aumentou 3,2% em relação ao mesmo período de 2008. O Produto Interno Bruto (PIB) subiu 1,9% frente ao primeiro trimestre deste ano, confirmando que o país saiu da recessão técnica.
Além da manutenção da renda e do emprego, o consumo em alta nos últimos meses se deve à queda de juros e a adoção de programas sociais, segundo analistas.
Capacidade instalada aquém
No entanto, através de informações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), verifica-se que o uso da capacidade instalada da maioria dos ramos industriais ainda não voltaram aos patamares pré-crise. Há um processo de recuperação. As maiores quedas acontecem no ramo de metalurgia, de minerais e de materiais eletrônicos, mas também há perdas significativas no ramo têxtil, vestuário e calçados. Entre os que obtiveram capacidade acima em comparação ao mês base da crise, destaque para as companhias de refino, álcool, de produtos químicos e de papel e celulose.
Estamos numa trajetória de recuperação. Se um ano antes da crise a base era muito alta, agora vai ser o contrário. Mas não podemos dizer ainda que a crise foi superada. Ainda não diz Flávio Castelo Branco, economista da CNI. Somente observando a sequência do ano, na virada para 2010, teremos condição de dizer que superamos a crise. O ano de 2009 já está perdido. Mas pelo menos não paramos tanto no tempo. A economia do Brasil foi uma das que mostrou condições de crescimento antes dos outros países no mundo.