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PORTAL TERRA - Os líderes das maiores economias do mundo se encontram a partir desta quarta-feira na Itália em uma reunião do G8 inflada pela presença dos emergentes, para discutir mais formas de amenizar os efeitos da crise global, o comércio internacional, incluindo a Rodada de Doha, agricultura e mudanças climáticas. O encontro ocorre em L'Aquila - cidade destruída há três meses por um terremoto que matou 297 pessoas - em meio à discussão sobre a representatividade do grupo nas decisões globais.
O G8 é formado por Estados Unidos, Itália, Japão, França, Canadá, Alemanha, Reino Unido e Rússia. Junto aos emergentes Índia, China, África do Sul, México, Brasil e Egito formam o G14, que participará ativamente das discussões no encontro. Esta será a primeira cúpula em que os seis países emergentes assinarão a declaração final do encontro, que vai até sexta-feira. Outros países, como Indonésia, Dinamarca, Turquia, Angola, Etiópia, Nigéria, Líbia, Senegal, também acompanharão o evento.
O Brasil está representado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Segundo adiantou o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, Lula defenderá a participação de mais países emergentes nas decisões de interesse global.
"O G20 financeiro ocupou espaço importante no tratamento dos temas da governança global. G8 e G5 são fórmulas pré-crise, e a crise mostrou a necessidade de que se evolua no caminho de novos instrumentos. (...) Não se pode, portanto, pensar em enfrentamento dos novos problemas mundiais sem a presença permanente e atuante de países como o Brasil e China, por exemplo", explicou Baumbach.
Atual presidente do G8, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, já disse que prefere a formação do G14 no lugar do G20, que não inclui o Egito e é conta ainda por Argentina, Austrália, Indonésia, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Turquia e União Europeia (UE). Segundo ele, os membros do G8 estão analisando o novo formato do grupo.
Além disso, a reunião anual perdeu parcialmente a importância frente a crise financeira porque o tema já foi amplamente discutido na reunião do G20, em abril. No entanto, de acordo com o professor da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, Celso Grisi, o encaminhamento de novas soluções com objetivo de resolver a crise atual e evitar futuras deve centrar as discussões.
"O que existe de mais novo são sugestões da OCDE - o clube dos ricos - que permeiam a regulamentação do sistema financeiro, mas não tão forte como poderíamos desejar, um combate aos protecionismos e mais transparência no comércio mundial. Para amenizar as propostas econômicas, deve se dar grande ênfase em torno do programa climático, tentando transformá-lo em um problema maior, que pode ser usado como moeda de troca, já que afeta os emergentes. Além disso, o problema da segurança alimentar vai constituir elementos que possibilitem a negociação dentro de parâmetros mais aceitáveis pelos países ricos", afirmou Grisi.
Na reunião de abril, o G20 afirmou que deve injetar US$ 5 trilhões na economia mundial até 2010. O Fundo Monetário Internacional (FMI) teria mais US$ 500 bilhões em recursos e recomendou-se que o órgão venda parte do seu ouro para ajudar os mais atingidos pela crise. Neste sentido, o primeiro-ministro italiano já indicou que não se deve esperar a aplicação de novas regras para o sistema financeiro global, dizendo que o encontro do G8 será apenas "um passo" em um longo processo.
Moeda
Embora não conste na agenda oficial, outro ponto polêmico que o País deve se propor a discutir em L'Aquila é a dependência do dólar como moeda de reserva internacional. O debate se concentra na proposta da China, apoiada pelos emergentes, em procurar alternativas. O país asiático detém mais títulos da dívida do Tesouro americano que qualquer outra nação e tem expressado receio de que os enormes gastos de Washington com pacotes de estímulo econômico possam provocar inflação, golpeando as reservas chinesas lastreadas em dólar.
Em entrevista publicada pelo jornal francês Le Monde na última terça-feira, Lula afirmou que a dependência do dólar não é algo bom e que são necessárias alternativas. "O dólar ainda será importante por décadas. Substituir o dólar no comércio mundial não é uma coisa simples. Mas o Brasil acredita na possibilidade de novas relações comerciais não dependentes do dólar", disse Lula.
Para Grisi, a discussão não deve ir para frente no curto prazo. "Se a economia americana não se recuperar, o que vai por no lugar? O euro é interessante, mas é muito concentrado na União Européia, principalmente Alemanha e França, e isso leva a uma insegurança grande. Parece provável que se trabalhe sobre Direitos Especiais de Saque (do Fundo Monetário Internacional), mas não deve prosperar no curto prazo. Não deixa de ser interessante, mas precisaríamos perder mais a confiança no dólar e na economia americana", explicou.
Histórico
Após o primeiro choque do petróleo em 1973, os países mais industrializados do mundo aceitaram um convite do governo francês para se reunir informalmente e discutir a situação financeira internacional. O primeiro encontro ocorreu em 1975 com a presença de França, Alemanha, Itália, Japão, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Dois anos depois, o Canadá foi aceito no seleto grupo, que foi ampliado para o formato G7+1 apenas em 1991, quando a União Soviética participou pela primeira vez.