ASSINE
search button

Risco político representa ameaça à estabilidade

Compartilhar

Ricardo Rego Monteiro, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Como muitos outros especialistas, Carlos Eduardo Carvalho desconsidera por completo a hipótese levantada por Niall Ferguson para a Argentina, mas o modelo assumidamente heterodoxo dos Kirchner ainda causa espanto em economistas liberais como Paulo Rabello de Castro, sócio fundador da SR Rating, a primeira agência de classificação de risco brasileira. Embora faça questão de admitir que ainda não concluiu um relatório de análise sobre o país, Castro identifica problemas na estrutura macroeconômica do parceiro do Mercosul, mas também identifica virtudes.

Entre os problemas, o economista lista a falta de credibilidade do país perante o mercado externo ainda como reflexo do calote na dívida externa de 2005 , além de baixas taxas de poupança e fragilidade fiscal (gastos públicos acima do recomendável combinado à baixa arrecadação de impostos). Embora tenha evitado fazer apreciações sobre as considerações de Ferguson, Castro adverte para problemas estruturais hoje relegados a segundo plano devido aos anos de crescimento de quase 10% do PIB.

Crescer muito não significa que um país não vá quebrar. Pelo contrário, pode indicar que a economia do país está anabolizada alerta o fundador da SR Rating, ao atribuir ao desconto na dívida externa do país propriedades tônicas capazes de adubar o PIB argentino nos últimos anos. Para Castro, embora tenha contabilizado acertos, como a adoção de câmbio flutuante, e se beneficiado dos altos preços internacionais das commodities, o país agrega um elemento fundamental ao caldeirão de incertezas econômicas: o risco político representado pelo casal Kirchner, que governa o país desde 2003.

Pecados e virtudes

Mesmo economistas que não concordam de todo com tal avaliação veem em medidas do governo Kirchner como a manipulação dos indicadores de inflação como erros que prejudicaram a imagem do país. Para Carvalho, no entanto, o diagnóstico de falência de Niall Ferguson representa uma espécie de revanche do mercado pela moratória argentina.

Economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Reinaldo Gonçalves critica o diagnóstico de falência da Argentina, ao classificá-lo de catastrofismo histérico .

Mesmo que a crise imponha dificuldades fiscais, contesta, o país pode novamente recorrer ao remédio da moratória e da renegociação da dívida, não mais vistos hoje como tabus. Para Gonçalves, o que muitos consideram o pecado argentino a política econômica heterodoxa torna o país mais resistente à crise do que o Brasil, visto como uma das vedetes do mercado internacional.