Sabrina Lorenzi, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - O fechamento da fábrica da Cotochés pegou os habitantes de Rio Casca de surpresa. Quando a Perdigão anunciou a compra da tradicional produtora de laticínios, no ano passado, a cidade de 15 mil habitantes se encheu de otimismo.
Assim que chegaram, prometeram que iam investir, crescer, aumentar nosso salário relembra Paulo Cesar de Souza, que era segurança da fábrica.
Felizmente, o profissional garantiu outro emprego, numa agência bancária.
O pessoal ficou todo achando que a empresa ia crescer quando a Perdigão veio e fez vários anúncios bons, mas foi bem o contrário que aconteceu disse o comerciante Antonio Aloisio Martins, cuja confecção tem vendido menos roupas desde janeiro, problema que atingiu outros estabelecimentos ao longo da rua principal da cidade.
Angélica de Souza, que vende de tudo um pouco no seu comércio, acredita que de janeiro a abril vendeu pouco mais da metade do que costumava.
Não sei se essa piora foi por causa da fábrica que fechou ou pela crise disse.
Com apenas 15 mil pessoas, a cidade sentiu fortemente os impactos da desativação da Cotochés. Os efeitos colaterais do que a empresa chama de otimização operacional tendem a continuar. Além do fim do seguro-desemprego neste mês, os habitantes de Rio Casca se preparam para o fechamento total da Cotochés na região, com a extinção da unidade de resfriamento de leite. Silos e tanques estão sendo retirados do local gradualmente. O fim da atividade, sem data divulgada para acontecer, angustia os 25 funcionários que restaram e, mais ainda, os produtores de leite da região.
A Perdigão está aí para não deixar ter concorrência. Vai acabar leite, vai acabar vaca, vai acabar tudo aqui. Vaca não vale mais nada hoje desabafou um produtor ao sair da fábrica que vai parar.
Outro colega do ramo, que estava presente, ponderou que o leite vai continuar a ser comprado, mas vai ser levado a outros estados. Outra estratégia já adotada pela Perdigão é a terceirização do serviço. O posto de resfriamento Condessa, na mesma região, já faz o trabalho que cabia à fábrica da Cotochés. O requeijão também estaria sendo produzido no local. A produção da manteiga da Cotochés foi transferida para uma unidade de Goiás, segundo funcionários. E o leite em pó deve ser aos poucos eliminado do mercado.
Quando anunciou a transferência de atividades da fábrica para outras unidades, a Perdigão informou que manteria a compra de leite de 350 produtores da região. Alguns fornecedores, porém, se queixam da queda-de-braço perdida para a empresa. Dizem que tiveram de baixar o preço do produto mesmo diante de normas mais severas de conservação e qualidade do leite, impostas pelo padrão da multinacional.
Produtores do Norte do Rio também têm reclamado da falta de poder de barganha depois que a Perdigão comprou a Elegê. Segundo funcionários da Perdigão, a fábrica resfria hoje 40 mil litros de leite por dia, cerca de metade de quando foi comprada. A expectativa era justamente o contrário.