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Argentina é considerada a maior candidata à falência

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Ricardo Rego Monteiro, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Alerta de historiador de Harvard causa polêmica no meio econômico

Anabolizada pela vitamina proporcionada pela renegociação da dívida externa em 2005, a Argentina surpreendeu o mundo nos últimos anos com taxas chinesas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). De lá para cá, o país não só cresceu acima da média da América Latina (média de 8,5% entre 2003 e 2007), como tem apresentado desempenho semelhante ao do Brasil desde o agravamento da crise mundial, em setembro do ano passado. Porém, o que parece uma economia saudável, capaz de sobreviver à Grande Recessão, pode esconder deficiências estruturais que poderão vir à tona no futuro.

Para o historiador americano Niall Ferguson, da Universidade de Harvard, a conta do banquete deve ser cobrada depois de passado o pior da crise. E quando isso ocorrer, adverte, o impacto será tão grande que o país pode em suas próprias palavras vir até a falir. Embora não sirva de consolo, o vizinho não deverá estar só quando a conta chegar. Países como Irlanda, Itália e Bélgica que também adotaram políticas expansionistas combinadas a uma queda abrupta da arrecadação também deverão ter dificuldades.

Em recente seminário do diário britânico The Guardian, o autor de A ascensão do dinheiro alertou que a turbulência deverá inaugurar nesses países um período de instabilidade até política. Para Ferguson, os pacotes de estímulo fiscal lançados contra a crise deverão pressionar as dívidas dos países.

Não estou brincando quando digo que os países podem falir advertiu o historiador. A Argentina é a minha aposta favorita. O país lidera o ranking de candidatos à falência. A ideia de que isso não possa ocorrer às grandes economias ocidentais é balela.

Ascensão e queda

Preciso ou não, o diagnóstico só será confirmado com o tempo, mas nem todos concordam com Ferguson. De qualquer forma, se o sonho chinês do vizinho platino se tornar mais um pesadelo econômico e social no futuro, vai representar só mais uma decepção no histórico de mais de um século de dissabores do país que já conheceu um desenvolvimento que o Brasil jamais chegou a experimentar. Entre 1880 até os anos 30 do século 20, o país conheceu padrões econômicos e sociais de primeiro mundo.

Impulsionado por uma economia exportadora principalmente de carne e trigo e por investimentos pesados em ferrovias e educação, a Argentina chegou a responder, entre 1926 e 1927, por 29,6% do total das importações da Inglaterra. Entre 1913 e 1928, o país embarcou nada menos do que 43% de todas as exportações da América do Sul. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o PIB per capta argentino se comparava ao da Alemanha e dos Países Baixos, à frente de Espanha, Itália, Suíça e Suécia.

Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o economista Carlos Eduardo Carvalho explica que a resistência à industrialização da elite agropecuária argentina, associada à concessão pela Inglaterra principal parceiro comercial argentino de privilégios às exportações dos países do Commonwealth, como Austrália, deu início à decadência.

A força do setor agroexportador acabou por atrasar, já na década de 30, os esforços que deveriam ser feitos para industrializar o país. Naquela época, países como o Brasil deram início aos primeiros passos na industrialização, ao perceberem a falência do modelo exportador do café analisa Carvalho, ao acrescentar, como ingrediente político, os equívocos do governo Juan Domingo Perón, simpático ao Eixo praticamente até o fim da Segunda Guerra Mundial. A atitude criou embaraços com os Estados Unidos, posteriormente.