Agência AFP
ZURIQUE - Os meios políticos e econômicos suíços reagiram fortemente nesta segunda-feira às ameaças do presidente francês Nicolas Sarkozy de incluir o país na lista negra dos paraísos fiscais, num momento em que o mercado tenta sobreviver à crise.
- Esta situação seria completamente contrária a nossas relações com a união Europeia - indicou o deputado Léonard Bender, do partido dos Liberais Radicais (centro direita), favorável ao segredo bancário.
Segundo Bender, uma inscrição da Suíça em uma lista negra dos paraísos fiscais seria uma "decisão excessiva e injustificada":
- Equivaleria a punir a Suíça por uma situação jurídica que está dentro das conformidades e atinge nossas soberania.
Ao ser questionado sobre se a Suíça poderia ser inscrita na lista negra dos paraísos fiscais que o G20 está preparando para sua reunião do início de abril, Sarkozy afirmou domingo que "no estado atual das coisas e com base na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos), sim".
O chefe de Estado no entanto afirmou que a saída ainda está aberta e dependeria das respostas suíças.
Os países do G20, que se reunirão em 2 de abril em Londres para discutir uma maior transparência do sistema financeiro internacional, pretendem abordar a questão dos países não cooperativos em termos fiscais. A Suíça não foi convidada para esta reunião.
A Associação dos banqueiros suíços criticou nesta segunda-feira a "hipocrisia deste ataque coordenado contra a Suíça".
- O único nome da lista (dos paraísos fiscais) que Sarkozy parece capaz de pronunciar é a Suíça - disse o porta-voz da associação.
- Se a Confederação deve estar numa lista como esta, o país pode ter a mesma sorte de Liechtenstein, que recentemente fez concessões importantes com os EUA", explicou uma fonte próxima dos meios bancários, prevendo inclusive sanções. - Mas não podemos superestimar estas declarações e esperar que a situação se concretize.
Em sua edição de segunda-feira, o jornal Le Temps ressalta: "A Suíça deve evitar por todos os meios de entrar nesta lista".
Após a revelação pelo primeiro banco do país UBS dos nomes de quase 300 de seus clientes americanos no fisco dos EUA, uma brecha foi aberta no sacrossanto sigilo que fez a fortuna do país.
Sob a pressão de seus vizinhos, o ministro suíço das Finanças Hans-Rudolf Merz disse:
- Não abandonaremos o sigilo bancário, mas talvez nós tenhamos de fazer algumas concessões.
Mas para muitos na Suíça, os dados estão lançados.
- O sigilo bancário está condenado", disse Nuno Fernandes, professor de finanças na escola de comércio IMD de Lausanne. - Ele não deve passar mais de três anos em sua forma atual.