Gabriel Costa, Jornal do Brasil
RIO - A sombra da crise financeira internacional avança sobre o mercado de trabalho brasileiro. Enquanto as negociações entre trabalhadores e representantes da indústria não alcançam progressos significativos e sindicalistas voltam-se ao governo em busca de uma forma de evitar demissões sem reduções nos salários, especialistas sugerem alternativas para salvar o emprego no país. Entre as sugestões, estão a ampliação de medidas já adotadas pelo governo federal para sustentar o financiamento do setor privado e viabilizar o crédito e a redução da taxa básica de juros, a Selic, praticamente uma unanimidade entre os empresários do setor.
Enquanto as centrais sindicais pedem que os governos reduzam impostos e o Banco Central corte a taxa de juros em pelo menos dois pontos percentuais, para possibilitar a negociação da redução da jornada sem cortes nos salários, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, ressalta que não se pode deixar de discutir medidas como redução de salários e jornadas em um cenário de crise no qual o emprego já é afetado.
Não há medidas artificiais que possam garantir a manutenção de empregos. Quem negocia reduções de salários e jornadas, em tese, é quem não quer demitir. Não é uma questão de criar falsos antagonismos afirma Monteiro Neto.
Diante do impasse, as centrais sindicais do país suspenderam por 10 dias as negociações com empresários e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). A Central Única dos Trabalhadores (CUT) se recusa a discutir redução de salários.
O presidente da CNI criticou o que chamou de queda de braço estéril e ressaltou que a discussão não deve ser levada adiante de forma ampla, e sim levando em conta os diferentes setores da indústria e realidades regionais.
Em comunicado, a CUT reafirmou a posição de que não discutirá demissões e informou que na segunda-feira será realizada uma reunião com os principais dirigentes das centrais para discutir ações de enfrentamento e traçar um cronograma de mobilizações a serem realizadas em todo o país .
Investimento público
Em artigo publicado no Jornal do Brasil de quinta-feira, o professor Claudio Dedecca, da Unicamp, sugeriu, além da redução na Selic, atualmente em 13,75%, que o superávit primário do país fosse flexibilizado temporariamente para um patamar em torno de 3%, o que abriria espaço para o governo ampliar o investimento e o financiamento público e adotar medidas de desoneração fiscal. A idéia não foi tão bem recebida pelos representantes da indústria.
Isso seria uma volta exponencial ao passado. Nós precisamos desonerar as empresas e o trabalho, flexibilizar as regras, mas se o Brasil está colhendo algum fruto em meio à crise, é por causa da política monetária. O investimento público é importante, mas poderia ser possibilitado pela redução dos gastos correntes, e não mexendo no superávit diz Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
O presidente da CNI também não considera a redução do superávit como a melhor forma de garantir investimentos.
A manutenção do superávit é importante para que o Brasil se aproxime da meta e melhore a percepção de risco do país. Considero válida qualquer medida que assegure a produtividade, mas acho que o melhor caminho seria mesmo a redução dos juros avalia Monteiro Neto.
O presidente da Firjan disse também que o impacto da crise no emprego não é generalizado, uma vez que a economia brasileira não é homogênea. Vieira destacou os setores de óleo e gás e de confecções como segmentos que não estão sofrendo , e disse que empresas que dependem de financiamento externo são as mais afetadas.
Indústria do Rio prevê crescimento em 2009
Apesar dos estremecimentos do mercado de trabalho, o setor industrial do Rio ainda mantêm otimismo moderado nas projeções para este ano, segundo pesquisa divulgada ontem pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Segundo o estudo, os empresários esperam crescimento entre 2,2% e 3,5%, e alguma deterioração nas contas externas.
Existe uma preocupação com relação a 2009, mas os empresários esperam crescimento disse o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.
As apostas no comércio exterior estão todas abaixo de 2008, com saldo previsto de até US$ 17,75 bilhões.
Os industriais esperam que o Brasil continue a apresentar bons fundamentos, com inflação dentro da meta e austeridade fiscal. Isso depende, no entanto, das reformas estruturais do país avalia o o chefe da Divisão de Estudos Econômicos da Firjan, Patrick Carvalho.