Jornal do Brasil
RIO - Mais um relatório, desta vez da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), confirmou os sinais de forte desaceleração das economias globais devido à crise financeira.
A boa notícia é que o Brasil foi o único país que teve a sua perspectiva de ciclo de crescimento apresentada apenas como declínio. A previsão para as economias líderes globais se enfraqueceu ainda mais em outubro do que em setembro. Nesse período, houve significativa deterioração nas perspectivas para a China, Índia e Rússia.
O principal indicador da OCDE para o G-7 caiu para 94,8 pontos em outubro frente aos 95,9 em setembro, revisado para cima. A cifra indica uma queda de 5,9 pontos em 12 meses. A perspectiva do ciclo de crescimento na área do G-7 foi avaliada como de forte desaceleração.
"Comparada com o último mês, a previsão se deteriorou significativamente nas principais economias não integrantes da OCDE. China, Índia e Rússia agora também enfrentam fortes desacelerações", afirmou a OCDE em comunicado.
Mercado interno forte
O indicador para a Alemanha teve a maior queda entre os países do G-7 no mês, de 95,1 para 93,5, enquanto o Japão recuou de 96,1 para 95,2. Ou seja, a economia desses países continuará crescendo, mas terá uma frenagem acentuada, de acordo com as conclusões do indicador, elaborado para detectar viradas no ciclo econômico.
O Brasil é a única grande economia analisada no CLI (Indicador Composto Avançado, na sigla em inglês), divulgado ontem que, segundo uma previsão da organização, não terá uma forte desaceleração de sua atividade econômica nos próximos seis meses.
Para o economista brasileiro Marcos Poplawski Ribeiro, professor de finanças internacionais do Instituto de Estudos Políticos de Paris e pesquisador do Cepii (Centro de Estudos, Perspectivas e Informações Internacionais, na sigla em francês), o cenário econômico mais otimista em relação ao Brasil pode ser explicado pelo fato de que a demanda interna continua forte no país.
A diminuição do crédito no Brasil já acontece, mas ela ainda não é tão forte como nos outros países observou Ribeiro. Por enquanto, os consumidores brasileiros continuam comprando, o que estimula a atividade econômica.
A questão, segundo o economista, é saber quanto tempo o consumo interno poderá continuar aquecido.
Meirelles pede serenidade a empresários
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pediu serenidade aos empresários e disse que as crises nem sempre podem ser evitadas, mas que o governo tem trabalhado para que o Brasil atravesse esses momentos "mais rapidamente, e com mais força".
De acordo com o presidente do BC, o governo já tomou medidas para reduzir os efeitos da crise, e elas têm dado resultado. A escassez de crédito já não é a mesma de meses atrás e, em novembro, as concessões de crédito cresceram 4,7% sobre a média de outubro, com destaque para a alta de 10,9% no crédito para pessoa física, segundo informou.
Meirelles afirmou também que as previsões pessimistas sobre os rumos da economia brasileira, que já sente os efeitos da crise mundial, não se confirmarão.
Temos tido pânico na sociedade em relação à inflação. Agora há pânico em relação à atividade (econômica). Nem o primeiro se mostrou correto, nem o segundo será evidenciado de forma consistente pelos fatos disse Meirelles.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informou ontem que a produção industrial caiu em 10 de 14 regiões do país em outubro. As maiores variações foram as registradas no Espírito Santo (-5,7%), Rio Grande do Sul (-5,5%) e na região Nordeste (-5,1%).
Terça-feira, o IBGE já informara que a produção industrial do país caiu 1,7% em outubro frente ao mês anterior, após crescimento de 1,7% em setembro. Foi a maior queda observada em relação ao mês anterior desde novembro de 2007. Nesta semana, as gigantes industriais Vale do Rio Doce e Votorantim anunciaram demissões e férias coletivas de funcionários em conseqüência da crise.
A indústria automotiva, que também tem revezado a atividade dos funcionários, registrou queda da produção e das vendas em novembro 28% e 25%, respectivamente em relação ao mesmo período do ano passado.