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BRASÍLIA - A desvalorização do real desencadeada pelo agravamento da crise financeira global em setembro contribuiu para uma redução expressiva dos vencimentos de juros da dívida pública brasileira e, com isso, o país teve o primeiro superávit nominal desde abril.
O avanço do dólar também contribui para aumentar o valor, em reais, dos ativos internacionais brasileiros --o que levou a uma redução da dívida líquida.
Em setembro, os vencimentos de juros somaram 6,142 bilhões de reais, menos da metade dos 12,527 bilhões de reais de agosto e também abaixo dos 15,473 bilhões de reais há um ano.
Essa redução refletiu principalmente os ganhos de 6,5 bilhões de reais que o Banco Central teve com os chamados contratos de swap cambial reversos. Nesses contratos, o BC ganha quando a variação do dólar supera a do juro e, em setembro, a moeda norte-americana disparou quase 17 por cento.
- Os juros nominais mostraram uma queda acentuada este mês e a principal causa disso é o resultado do swap- afirmou o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.
Ele afirmou que esses ganhos devem se manter em outubro mas em um grau menor, uma vez que o estoque líquido de swaps reversos em mercado está em queda.
PRIMÁRIO SUPERA META
O resultado primário do setor público --que exclui os gastos com juros-- foi de 10,005 bilhões de reais em setembro, um forte aumento em relação ao superávit de 3,554 bilhões de reais em igual período do ano passado.
O saldo primário superou os vencimentos de juros no mês e, com isso, o país registrou superávit nominal de 3,863 bilhões reais. Foi o melhor resultado nominal para setembro de toda a série histórica do BC, iniciada em 1991, e o primeiro superávit nessa conta desde abril.
Em 12 meses encerrados em setembro, o superávit primário foi equivalente a 4,60 por cento do PIB, ante 4,41 por cento do PIB em 12 meses até agosto. O resultado está bem acima da meta de 4,3 por cento do PIB do governo para este ano, mas que pode voltar a 3,8 por cento em 2009.
No mesmo período, o déficit nominal atingiu valor equivalente a 1,32 por cento do PIB, o menor patamar da série do BC.
No mês passado, o governo central registrou superávit primário de 5,173 bilhões de reais, enquanto os governos regionais tiveram superávit de 1,590 bilhão de reais e as estatais, superávit primário de 3,242 bilhões de reais.
O BC informou ainda que a dívida líquida total do setor público caiu para valor equivalente a 38,3 por cento do PIB no mês passado, frente a 40,4 por cento em agosto.
A queda refletiu principalmente a desvalorização do real, uma vez que o país é credor líquido em dólar.
- A desvalorização cambial ocorrida no mês foi responsável pela redução de 1,6 ponto percentual do PIB na relação dívida/PIB- afirmou o BC em nota.