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OCDE: crise deve afetar exportações brasileiras

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Lúcia Jardim, Portal Terra

PARIS - As exportações podem ser o ponto mais vulnerável do Brasil durante a atual crise dos mercados financeiros. A opinião é do especialista da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para as questões do Brasil, Luiz de Mello.

Ele diz que nenhuma economia está imune aos efeitos da crise e cada uma reagirá às turbulências de acordo com suas características próprias. No caso do Brasil, seriam precisamente as exportações que correriam mais riscos de sofrer abalos.

- A princípio ninguém está imune, mas a exposição de cada economia é diferente. A desaceleração da economia mundial causará menos demanda por exportações brasileiras, porque afeta de modo geral a performance das exportações e vai afetar o saldo da balança comercial no Brasil - afirma o economista.

Segundo Mello, outra influência importante que a atual crise terá para a economia brasileira será o impacto causado na cotação das commodities.

- A gente já tem visto uma correção dos preços nos últimos meses. Isso vai afetar, é claro, o fluxo das exportações do Brasil não só pelo volume, mas também via preços.

Outro ponto importante para compreender os efeitos da crise para os brasileiros é a aversão ao risco global, que afeta os fluxos de investimento.

Em decorrência da turbulência, o custo e o volume de recursos que poderiam ser emprestados para companhias e bancos brasileiros que se financiam no exterior acabam sendo afetados, assim como o fluxo de investimentos em direção ao Brasil.

- Por enquanto trata-se se uma crise financeira, mas a forma como ela vai afetar a economia real e em com que grau de severidade ainda é imprevista.

Conforme Mello, outros países latino-americanos mais dependentes de commodities que o Brasil, como o Chile e o Peru, são ainda mais vulneráveis aos efeitos da crise, mas de uma forma geral as economias hoje estão muito melhor preparadas para enfrentar momentos como este do que há 10 anos.

- O Brasil é um país que criou um colchão de reservas e melhorou muito os seus indicadores de vulnerabilidade externa nos últimos anos. Ele se beneficiou de políticas macroeconômicas responsáveis, por um lado, e, por outro lado, de condições bastante favoráveis da economia mundial - avalia o especialista.

- A exposição a esse tipo de instrumento financeiro foi muito baixa, quase inexistente no Brasil. Mas isso não quer dizer que a economia brasileira esteja imune.

Mello evita fazer projeções sobre como a economia global vai reagir a essa crise financeira. Para ele, ainda é cedo para determinar erros de governos e bancos ou medidas que poderiam ter sido tomadas para evitar a pane mercado financeiro.

- É um conjunto de mecanismos que permitiu que a crise chegasse a esse vulto. Mas tudo isso no fundo tem a ver com um período de extrema liquidez que a economia mundial passou nos últimos cinco anos, então a aversão ao risco é diferente num contexto de liquidez abundante do que num contexto mais normal - explica.

No que diz respeito à ação dos bancos centrais no gerenciamento da crise, Mello rejeita comparações. Por enquanto, nenhuma instituição pode ser culpada ou absolvida.

- A economia mundial passou por um período muito longo de taxas de juros muito baixas e isso cria uma liquidez geral no sistema, em que os agentes e os mercados tentaram buscar rendimentos e taxas de retorno em operações mais arriscadas. Foi basicamente isso que aconteceu. No mercado brasileiro isso realmente não ocorreu porque o mercado imobiliário no Brasil é bem diferente, muito menor e bem menos avançado.

O economista acredita que os próximos dias serão decisivos para o mundo entender o tamanho dos estragos.

- Os próximos dias e semanas vão dar mais pistas sobre a duração e a intensidade do que ainda se pode esperar. A gente ainda vai passar por um período de muita volatilidade a curto prazo, com bastante flutuação no valor dos ativos e isso vai afetar instituições e mercados de uma forma muito diferente. Depois desse período é que vamos poder perceber as tendências de uma forma mais clara.