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Mercado de carbono deslancha e Brasil é 3º em volume

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REUTERS

SÃO PAULO - O mercado de créditos de carbono manteve nos primeiros meses de 2007 a forte expansão global verificada em 2006, e o Brasil surge como o terceiro país em volume. Companhias brasileiras, de setores diversos, têm se utilizado do mecanismo como fonte extra de renda em seus empreendimentos.

Os Mecanismos de Desenvolvimento Limpos (MDLs), estabelecidos nas negociações da Convenção das Nações Unidas (ONU) para Mudanças Climáticas, permitem que países ricos comprem créditos gerados por projetos em nações em desenvolvimento e, assim, tentem atingir as metas de redução de emissões de gases que compõem o efeito estufa.

Segundo a ONU, o Brasil gera atualmente 11,7 por cento dos 141,6 milhões de RCEs (Reduções Certificadas de Emissões) emitidas anualmente pelos países em desenvolvimento que registraram projetos com MDL.

Para se ter uma idéia do tamanho desse mercado, cada RCE equivale a uma tonelada de carbono (ou de outro gás que provoca o efeito estufa), que está sendo cotada atualmente no mercado brasileiro em aproximadamente 10 dólares, o que resultaria em um valor anual aproximado de 1,42 bilhão de dólares.

A brasileira NovaGerar foi quem conseguiu aprovar na ONU o primeiro projeto de MDL, em novembro de 1994. A empresa, que possui concessões para administrar aterros sanitários em grandes cidades brasileiras, se propôs a recolher o gás metano gerado nesses locais e utilizá-lo em pequenas termelétricas. A queima do metano, além de gerar eletricidade, retira da atmosfera o gás, que é um dos causadores do efeito estufa.

Em 2005, o número de projetos de todo o mundo aprovados se aproximou de 70 e, de 2006 até o momento, subiu para 661. Esses projetos representam, segundo a ONU, reduções de 900 milhões de toneladas de gases estufa até 2012, volume que, se for associado ao valor de aproximadamente 10 dólares do mercado atual brasileiro, resultaria em um mercado hipotético de 9 bilhões de dólares.

- Eu diria que o mercado agora está indo de vento em popa - afirmou o pesquisador Marcelo Theoto Rocha, da área de mudanças climáticas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP.

- Alguns países estão encontrando dificuldades em cumprir com suas metas do Protocolo de Kyoto e recorrem aos créditos dos MDLs - disse Rocha.

De acordo com o protocolo, apenas os países desenvolvidos, considerados os principais responsáveis até os dias de hoje pelo aquecimento global, receberam metas de reduções das emissões de gases estufa no primeiro período do acordo, que vai até 2012.

Existe a possibilidade que, no período seguinte, países emergentes de maior porte, como China, Índia e Brasil, também tenham que assumir metas de redução de emissões.

Rocha diz que a grande maioria dos negócios com créditos de carbono gerados pelos MDLs é feita no chamado 'mercado de balcão', ou seja, diretamente entre o vendedor e o comprador interessado, com a assessoria de empresas especializadas e de bancos.

- Por isso, às vezes, é difícil saber qual o preço corrente. Os valores variam e estão nos contratos, a gente não tem acesso.

No Brasil, além de empresas que administram aterros, também constam da lista de registros da ONU usinas de açúcar e álcool, pequenas centrais hidrelétricas, granjas de criação de suínos (que também aproveitam o metano) e até redes de supermercados, como o grupo Pão de Açúcar, que está buscando créditos oriundos de uma modernização do sistema elétrico e de iluminação de suas lojas que vai reduzir o consumo de energia.

Para chegar ao registro final da ONU, as empresas precisam recorrer a certificadoras aprovadas pela entidade.

- Nós cuidamos da parte técnica do processo. Checamos se ele atende às especificações da ONU e, depois, verificamos se as reduções de emissões obtidas foram as previstas no projeto - afirmou Otávio Costa, gerente de Mudanças Climáticas da DNV, líder no mercado brasileiro de certificações de créditos de carbono.

- Começamos a operar nessa área no Brasil em 2005 e a curva do número de projetos que são registrados continua ascendente - acrescentou.

A Bolsa Mercantil e de Futuros também está interessada nesse mercado, já bastante desenvolvido na Europa. A instituição desenvolveu um ambiente eletrônico para negociação dos créditos de carbono e pretende realizar até o fim deste ano seu primeiro leilão pela Internet.