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SÃO PAULO - Com avanços insuficientes em infra-estrutura para escoar uma esperada safra recorde de grãos, a primeira desde 2003, os principais envolvidos no processo no Brasil estão recorrendo a uma melhor gestão, principalmente nos portos, para ganhar agilidade e reduzir custos, disseram especialistas.
- Se fizermos um clipping daquela época (2003), veremos que os problemas são recorrentes. Tem dificuldade de capilaridade nas regiões de produção mais remotas (Centro-Oeste), a conservação das rodovias é deficitária. O transporte ferroviário não tem muita novidade, disse José Vicente Caixeta Filho, coordenador do Esalq-Log, grupo de pesquisa e solução em logística agroindustrial da Universidade de São Paulo.
- Por outro lado... as pessoas dizem 'esse é o meu negócio, tenho um hardware complicado, defasado, mas tenho de fazer um bom uso dos softwares disponíveis'. E isso é entendido genericamente como ferramenta de gestão, acrescentou Caixeta, lembrando que hoje se verifica mais a contratação formal de transportadoras e o melhor gerenciamento do armazenamento, para se evitar picos de preços de frete.
- Com isso, é possível reduzir os custos, disse ele, para quem os principais portos, de Santos (SP) e Paranaguá (PR), também tomaram medidas para agilizar os serviços.
Representantes dos portos que embarcam os maiores volumes agropecuários do país afirmam estar prontos para receber a safra de grãos, que deve crescer para 126,5 milhões de toneladas, ou quase 6 milhões a mais em relação a 2006, sem falar dos produtos do setor sucroalcooleiro e das carnes.
- O porto está preparado. Aplicou em infra-estrutura... modificou toda a sua logística, disse o superintendente do porto de Paranaguá, Eduardo Requião, referindo-se às regras que só permitem a entrada na área portuária de caminhões cujas cargas de grãos já estão agendadas para embarque, o que, segundo ele, acabou com filas, evitando ainda que operadores tenham de pagar demourage (taxa extra paga quando o navio fica no porto mais tempo que o previsto).
Segundo Requião, o tempo para o caminhão descarregar no porto também foi reduzido em função de ser dada prioridade no atracamento para navios de maior capacidade. "Aumento a agilidade com isso. Sou criticado, mas a vida é assim, tenho que fazer opções pelos que podem produzir com eficiência."
- O que se percebe em Paranaguá é a transformação do porto. Aí você diz: 'A transformação é absoluta?' Não será nunca. Pelos estudos, temos que crescer um berço por ano e não temos nenhum berço novo este ano, comentou, dizendo ainda que, além dos processos licitatórios, há obstáculos impostos pela Marinha e por órgãos ambientais.
Arnaldo Barreto, diretor de Infra-Estrutura e Serviços da Codesp, que administra o porto de Santos, prevê um aumento de 6 a 7 por cento em cargas neste ano e assim espera colocar à prova os novos pátios reguladores para estacionamento de caminhões, que visam evitar filas e agilizar o movimento.
- As carretas, principalmente de granel que vêm de outros Estados, para passar do pátio ao porto, só podem ir agendadas, aí não tem problema (de espera). Paralelamente, regrei o porto... contemplei cada terminal do porto com um bolsão para o estacionamento de carretas, disse ele, lembrando que as medidas estão sendo implementadas desde o ano passado.
Mesmo dentro do porto há um limite de caminhões por terminal, ao todo, são 700 vagas na área portuária e 3.500 nos três pátios reguladores, em Cubatão, vizinha a Santos.
- Se vier tudo cadenciado, é a mesma coisa que dizer que a capacidade de escoamento do porto aumentou. Se mandar organizado, os recordes vão sendo batidos, se mandar tudo de uma vez, vai atrapalhar o navio, porque vai estar tudo atrapalhado aqui dentro.
Além da gestão, disse Barreto, o porto deve receber por ferrovia 22 por cento das cargas neste ano _ em 2006, a parcela que chegou via rede ferroviária foi de 16 por cento _, o que vai beneficiar o movimento de soja e açúcar a granel.
Segundo Barreto, após a ALL ter comprado a Brasil Ferrovias, os investimentos dentro e fora do porto aumentaram substancialmente.
- Acho que vai minimizar um pouco (o congestionamento), mas a carga é tão grande que não podemos piscar os olhos. Se não vier ordenado, a gente vai sofrer.
No país, a capacidade de armazenagem estática de grãos, que permite maior cadência no escoamento e vendas no momento de preços mais adequado, aumentou, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), subindo para 122,1 milhões de toneladas atualmente, contra 106,5 milhões no final de 2005.
- Houve um incremento, mas não podemos afirmar que houve apenas construções", disse a superintendente do setor na Conab, Denise Deckers, lembrando que no Mato Grosso a capacidade aumentou de 15 para 21 milhões de toneladas, muito em função do cadastramento de silos já existentes junto à Conab, que avalia como ideal o Brasil ter uma capacidade 20 por cento maior.