Agência EFE
BUENOS AIRES - O Governo argentino aguarda a divulgação, prevista para esta segunda-feira, do índice de inflação, pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), no meio de um escândalo entre o Executivo e a instituição, que põe sob suspeita os números que a entidade divulgará.
O afastamento, dias atrás, da diretora de Índices de Preços ao Consumidor, Graciela Bevacqua, causou o enfrentamento entre o Governo e funcionários do instituto, que asseguram que o secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, pressionou a funcionária para que um índice de inflação menor ao medido por técnicos da instituição em janeiro fosse divulgado.
O representante da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) no Indec, Daniel Fazio, afirmou que medidas serão tomadas, se amanhã, segunda-feira, for anunciado um IPC (índice de preços ao consumidor) notoriamente diferente das previsões feitas pelo setor.
Durante uma assembléia realizada na semana passada no Indec, os funcionários do instituto analisaram a possibilidade de divulgar o número "real" do índice, caso seja divulgado um número menor do que o medido - que é de 2,1%, segundo foi vazado à imprensa local.
Por causa do afastamento de Bevacqua e da incorporação da economista Beatriz Paglieri em seu lugar, os trabalhadores do Indec se mantiveram em estado "de mobilização e alerta" durante a última semana.
- A ATE-Indec não apóia a entrada de nenhuma pessoa externa ao instituto. Nós, como sempre, somos capazes de fazer todas as trocas necessárias para refletir nosso universo socioeconômico, respeitando o estado da arte no nível internacional - indicou um comunicado do sindicato, após a assembléia.
Como conseqüência, o ministro do Interior argentino, Aníbal Fernández, advertiu que "nem as máfias nem os grupos de fugitivos pressionam o Governo".
- Fico chateado que um grupo ou uma máfia intime o presidente (Néstor Kirchner) por sua honestidade. Não aceitamos pressões de máfias, de grupos, de nada. A honestidade do Governo está garantida - afirmou Fernández.
O chefe de Gabinete argentino, Alberto Fernández, manifestou este sábado que o afastamento de Bevacqua foi "aproveitado por setores da oposição e da gerência interna da entidade", como parte de uma "manobra política".
Fontes ligadas ao Indec afirmaram que Bevacqua foi afastada após se negar a revelar números confidenciais a Moreno, e por não aceitar o pedido do secretário de não considerar os 22% de aumento autorizados às empresas privadas de medicina.
Moreno promove as políticas que o Governo leva a cabo para frear a inflação, em um momento no qual a economia cresce a uma média de 8% por ano, desde 2003.
O IPC não é usado apenas para medir a inflação, mas também em relatórios acadêmicos sobre a economia local, e para ajustar o valor de bônus.