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Envenenamento no caso Odebrecht agita Colômbia

Filho de testemunha morre por cianureto, dias após falecimento do pai

Fotos de reprodução -
Aljandro Pizano e seu pai, Jorge Enrique Pizano: mortes estão sob investigação
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O filho de uma testemunha-chave do caso Odebrecht na Colômbia morreu envenenado com cianeto, dias depois do falecimento de seu pai, aparentemente por infarto, informou ontem a Procuradoria-Geral da Colômbia. Pai e filho morreram entre quinta-feira e domingo.

“Segundo o resultado da autópsia do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciência Forense, a causa da morte foi envenenamento com cianureto”, informou em entrevista coletiva a vice-promotora-geral da Colômbia, María Paulina Riveros.

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Aljandro Pizano e seu pai, Jorge Enrique Pizano: mortes estão sob investigação (Foto: Fotos de reprodução)

Pessoas próximas à família informaram à Procuradoria que após beber o líquido da garrafa, Alejando Pizano começou a sentir forte dor estomacal, desmaiou e não acordou mais, morrendo a caminho do hospital. Ele acabara de chegar da Espanha onde assistiu o enterro de seu pai, Jorge Enrique Pizano, ex-auditor financeiro da empresa associada à Odebrecht para a construção da Estrada do Sol II, que liga o centro ao norte do país.

Segundo a Promotoria da Colômbia, a Odebrecht pagou mais de US$ 28 milhões em propinas para garantir o contrato da estrada. “Por causa dos fatos anteriores, a Procuradoria-Geral também abriu uma investigação para determinar porque essa substância estava na casa do pai da vítima”, explicou Maria Paulina Riveros.

Jorge Enrique Pizano era testemunha-chave do caso envolvendo os subornos pagos pela Odebrecht para conquistar a obra milionária. O ex-auditor sofria de câncer e sua morte havia sido atribuída a um infarto, mas o envenenamento do filho levou a promotoria a investigar os fatos.

Um canal de notícias revelou na segunda-feira que Jorge Enrique Pizano deixou informações - para o caso de falecer ou receber proteção no exterior - de que o atual procurador-geral do país, Néstor Humberto Martínez, sabia desde 2013, antes de chegar ao cargo, do esquema de corrupção da Odebrecht no país.

Contratos

Martínez disse que Jorge Enrique Pizano levou a ele no segundo semestre de 2015 os resultados de investigações sobre contratos do consórcio da Estrada do Sol II. No entanto, ao questioná-lo sobre a existência de corrupção, a testemunha-chave hesitou em fazer uma denúncia.

“Perguntei a Pizano se podia assumir que havia propinas, e ele me respondeu que não tinha certeza. Uma das hipóteses que ele contemplava era que se tratava de propinas pagas a paramilitares. A dúvida explica a razão pela qual ele não apresentou denúncia alguma às autoridades”, afirmou o procurador-geral da Colômbia.

Martínez, que ocupa o cargo desde agosto de 2016, ainda afirmou que só soube que as descobertas de Pizano tinham ligação com as propinas pagas pela Odebrecht em 2017. Por estar impedido no caso, ele não atuou como promotor na investigação.

Em um vídeo gravado em 9 de agosto, Jorge Enrique Pizano diz que “os fatos e as verdades estão chegando à tona e mostrando como realmente existe um complô contra minha integridade como pessoa”.

Em meados de outubro, o procurador encarregado do caso, Amparo Cerón, sofreu um acidente de trânsito durante suas férias e passou vários dias na UTI, ficando impedido de retornar à investigação.