SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A produção de carros e comerciais leves cresceu 2,8% no primeiro semestre do ano, na comparação com igual período de 2018, informou a Anfavea (associação das montadoras) nesta quinta-feira (4).
Foram 1,47 milhão de veículos produzidos. Em junho, porém, houve queda de 9,8%, ante o mesmo mês do ano passado.
O licenciamento avançou 12,1% nos seis primeiros meses do ano, em relação a 2018, para 1,3 milhão de unidades vendidas. Já as exportações caíram 41,5% no semestre, penalizadas pela crise na Argentina.
Associações de montadoras e concessionárias promoveram nesta semana uma revisão geral para baixo de suas expectativas para o desempenho do setor automotivo em 2019.
Em janeiro, a Fenabrave (associação dos concessionários) previa um aumento de 11,2% no licenciamento de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, número que foi mantido praticamente igual em abril. Agora, porém, a projeção é de um avanço de 8,4%, somando 2,8 milhões de veículos.
As vendas de veículos até subiram 12% nos seis primeiros meses do ano, ante 2018, segundo a Fenabrave. É preciso ponderar, no entanto, que o primeiro trimestre do ano passado foi afetado pela greve dos caminhoneiros e pela Copa do Mundo, o que reduziu a base de comparação.
Além disso, o crescimento na comercialização foi impulsionado basicamente pelas vendas diretas, sobretudo das montadoras para frotistas e locadoras, sem passar, no geral, pelas concessionárias.
De acordo com Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave, o varejo cresceu 2,2% no acumulado do semestre, enquanto as vendas diretas avançaram 23,6%. A modalidade chegou a representar o recorde de 46% dos emplacamentos do período, ante 40,4% no primeiro semestre de 2018.
Já a venda de veículos importados caiu 9,6% no primeiro semestre deste ano, na comparação com igual período de 2018, para 16,2 mil unidades, de acordo com a Abeifa, que reúne 16 marcas.
Com isso, a associação revisou sua previsão do início do ano de vendas de importados de 50 mil veículos para 40 mil.
"Teríamos que vender 4.800 carros por mês para manter a previsão, é praticamente impossível", disse o presidente da entidade, José Luiz Gandini.
Ele atribui a queda nas vendas de importados à "economia parada", como define a situação brasileira, e às oscilações do dólar. "Se o filho do [presidente Jair] Bolsonaro entra no Twitter e fala algo diferente, o dólar sobe. A gente está em uma situação que é muito volátil, qualquer coisa, muda totalmente", afirma.
"Hoje o câmbio está em R$ 3,83, mas estamos recebendo ainda os carros pagos na base de R$ 4,10. Não dá para repassar isso, o carro fica fora de mercado."
O setor aguarda mais detalhes para entender os impactos do acordo entre Mercosul e União Europeia, anunciado na semana passada. O previsto é que a tarifa de 35% cobrada sobre a importação dos carros europeus cairá para 17,5% em até dez anos, com uma cota de 50 mil carros para o Mercosul nos primeiros sete anos, sendo 32 mil para o Brasil. Em 15 anos, a taxa cairá a zero.
A princípio, a notícia é boa para os importadores de veículos. Ainda assim, o setor evita comemorar.
Gandini disse que as reformas da Previdência e tributária são mais importante do que o acordo. "Isso sim mexe com o mercado já", afirmou.
Segundo ele, ainda existem muitas dúvidas sobre como será o acordo entre os blocos. "Não existe nada de concreto ainda. Existe a certeza de que vai sair alguma coisa, mas ainda precisa ser regulamentado. É prematuro, está muito cedo e muito cru ainda", afirmou.
Gandini considera que o volume de 32 mil carros é "muito pequeno". Além disso, diz que há incertezas sobre como será a divisão das cotas.
"Quem será beneficiado? Não são todas as marcas. Nem todas as associadas têm fábrica na Europa. E tem produtos na Europa que não estão no Brasil, não sabemos como vai ser a aceitação aqui", diz.