Baseado em sua 24ª visita ao evento NRF, o maior encontro de novidades do varejo realizado anualmente em Nova York, Luiz Antonio Secco, da empresa Azov, organizou o seminário Pós-NRF no hotel Othon. Seis palestrantes que também estiveram lá contaram suas experiências na manhã de quinta-feira para 500 profissionais do circuito do varejo brasileiro. Uma plateia atenta, sem escarpins nem topetes, interessada em superar as crises atuais dos negócios e marcas.
Para quem esperava histórias desanimadoras sobre fechamento de lojas, o e-commerce dominando as vendas e marcas desaparecendo, o Pós-NRF 2020 surpreendeu pelo otimismo.
História e equipes
Cinco palestrantes destacaram a importância de diversificar a proposta das lojas, acrescentando principalmente comida. Ou diversão, desde realidade aumentada até instalações temporárias, como as quadras de basquete na loja da Nike de Manhattan. Leonardo Santos, da Indeva, deu ênfase ao fato da tecnologias servirem para melhorar as vendas nas lojas físicas. "Executivos da Microsoft e da Walmart afirmaram que devemos escutar as equipes das lojas, empoderar os funcionários, trocar as posições, levando as equipes de bastidores para as lojas"” comentou Leonardo, que tem a Melissa e a Osklen entre seus 280 clientes.
Rafael Sampaio, à frente da Impecável (antes, a famosa Impecável Maré Mansa), comemorou o aprendizado na viagem. "Notei que agora, nas lojas americanas, ninguém mais precisa implorar para ser atendido. E o consumidor está mudando, ele ficou menos apegado ao ter"” Rafael vai aproveitar as lições para investir em um valor considerado fundamental: a história da marca ou da loja. E a Impecável tem muita história para contar.
Lições dos parques
Patricia Rodrigues, do estudio de marketing Mais que isso, em vez da NRF, usou uma viagem familiar para os parques da Florida para comparar com o varejo. "Se as filas demoram, há lugares para as crianças se distraírem. Se o brinquedo molha muito, a Universal criou uma cabine secadora de pessoas; como é proibido subir na montanha-russa do Hulk com relógio, celular, bolsas, existem armários (lockers) para guardar tudo. Isto mostra que a criatividade pode salvar as empresas da bagunça atual feita pela tecnologia", contou Patricia, que lembrou uma frase da exposição da L'Oréal, "Humans are back" (os humanos estão de volta").
O próprio Secco falou, impressionado pela Under Armour, que se diz marca de desempenho humano, em vez de meramente esportiva. Falou do novo termo do momento, o BOPIS (em inglês, buy online, pick up in store, ou compre online e pegue na loja), estratégia já aplicada por lojas brasileiras, como a Renner. E usou a palestra da Starbucks para lembrar que "é preciso preservar o passado e sonhar com coragem para o futuro. A ênfase colocada em aprender e não em sucesso ou falha"
Neve nas cabines de prova
A Nordstrom, loja de departamentos americana, foi citada como exemplo por todos os participantes. A arquiteta Juliana Neves comentou que a grande loja se adaptou aos poucos espaços de Manhattan e abriu as Nordstrom Local, para atender ao consumo de bairros. "Outras propostas são ter listas no spotify, oferecer provadores diferentes, como a Woolrich, especializada em roupas de inverno, que faz nevar nas cabines. Ou a Moose Knuckles, do Canadá, que traz a roupa escolhida em um elevador. Na Chanel Atelier Beauté, no Soho, é possível testar todos os produtos de maquiagem, sem pagar nada. Isto é o que está sendo chamado de retailtainment, o varejo com entretenimento.
Fernando Câmara, da Cherto, empresa de assessoria de franquias e Maurício Salvador, presidente da Associação Brasileira de comércio eletrônico, surpreenderam primeiro pela redução do número de lojas em uma rede. "No método que evita o custo do frete, pegando as compras nas lojas, o cliente paga pelo estacionamento nos shoppings brasileiros! Isto anula a vantagem de não pagar pelo frete." , segundo Fernando. Maurício Salvador falou em drones, robôs, inteligência artificial e apps que usam estes meios para facilitar controles de estoque. Antecipou o Natural Machines, ainda em fase de testes, capaz de imprimir comida na impressora 3D!
Grand Finale
Todos os palestrantes citaram a Nordstrom, a Camp e a ShowFields como exemplos de sucesso de varejo. A Showfields, considerada a loja mais interessante do mundo pelo New York Times, é uma loja de departamentos no Soho que inclui comida, bebida, cenários de arte e tem espaço para marcas novas, que pretendem ter local físico, além do online..
Só que o último palestrante, André Jorio, diretor da Redley, simplesmente declarou que a tal da Showfields "não vende nada! Estive lá, não vi ninguém comprando! Loja é marca, branding e engajamento, não adianta envelopar ônibus, pensar em drones e tecnologias, se não fizer o básico, que é ver o que o cliente precisa. Nós estamos em um negócio de educação, e não de varejo. Um exemplo do que mudar, além de ouvir as equipes, é oferecer wifi na loja. Wifi é o novo cafezinho!". Com bom humor e performance digna de um digital influencer, Jório, que está na Redley há quatro meses, encerrou o evento com seu lema, válido para todos os 500 ouvintes na plateia:
"”Tem que ter tesão no varejo. Gerar valor, transformar vidas e dar resultados é o que me move".
