PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Se quiser atrair mais investimentos externos da França ao Brasil, o governo de Jair Bolsonaro terá de provar ser capaz de realizar reformas estruturais, como a da Previdência, além de apaziguar sua relação com o Congresso Nacional.
As indicações foram dadas por líderes empresariais franceses nesta quarta-feira (5), na 8ª edição do Fórum Econômico França-Brasil. Realizado na sede do Ministério da Economia, em Paris, o evento não teve a presença de nenhum ministro anfitrião e foi classificado por um dos organizadores como o "menos dinâmico" já realizado.
O fórum é organizado todos os anos pelo Medef (Movimento das Empresas da França), maior sindicato patronal do país, e pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), pelo lado brasileiro.
Em edições anteriores, foi ponto de encontro entre líderes empresariais e ministros de Estado dos dois países. Esta edição, por outro lado, foi ameaçada de cancelamento. Segundo um dos organizadores, porque nenhuma empresa queria participar.
O evento acabou acontecendo, mas Bruno Le Maire, ministro da Economia, cancelou sua participação. Membros do segundo escalão, como Agnès Pannier-Runacher, secretária de Estado de Economia, e Jean-Baptiste Lemoyne, secretário de Relações Exteriores, tomaram a mesma decisão.
Principal representante do Brasil, o ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, tentou convencer os participantes sobre a estabilidade jurídica do país, a capacidade técnica do funcionalismo brasileiro e sobre a honestidade do governo de Bolsonaro.
"Meu principal objetivo foi transmitir uma mensagem do governo para que tenham confiança no Brasil. O Brasil é um país que respeita contratos, e o ambiente absolutamente honesto, após anos de histórico de corrupção", argumentou o general. "Eu vejo um ambiente político muito bom."
O discurso de idoneidade, entretanto, não foi suficiente para entusiasmar a plateia de empresários.
"O general garantiu a segurança jurídica, a abertura aos investimentos externos e a previsibilidade, mas o evento não teve a mesma dinâmica que em anos anteriores", avaliou Charles-Henry Chenut, conselheiro de Comércio Exterior da França, fundador de um escritório de advocacia com sedes nos dois países e um dos oradores do evento.
Falando em condição de anonimato, outros participantes foram mais duros. Um empersário disse que a equipe econômica tem vontade política, mas que o cronograma de reformas -em especial a da Previdência- é muito apertado e pouco credível, afirmou um empresário.
Este mesmo empresário disse temer que a relação conturbada entre o Executivo e o Congresso em Brasília acabe por fazer o ministro Paulo Guedes (Economia) deixar o governo -o que, afirmou, causaria tensões política e social no Brasil.
A situação política no Brasil preocupa os meios empresariais porque o país é o maior destino dos investimentos franceses entre os países emergentes -EUR 23,6 bilhões em 2017.
PROTESTOS
Se a plateia de empresários e investidores demonstrou insatisfação com o esvaziamento do evento, ONGs e ativistas comemoraram a ausência de autoridades públicas. Na semana passada, um grupo de organizações não-governamentais exortou empresários e líderes políticos franceses a boicotarem o fórum em uma tribuna publicada pelo jornal Libération e intitulada "Não deixemos o Ministério da Economia estender o tapete vermelho à extrema direita brasileira".
Um protesto -também esvaziado- foi organizado por militantes, boa parte simpatizantes de partidos de esquerda nos dois países, e reuniu poucas dezenas de pessoas.
"Queremos mostrar que esse governo não é bem-vindo no mundo", afirmou a historiadora Juliette Dumont, professora do Instituto de Altos Estudos sobre a América Latina, uma das organizadoras da manifestação.