Com boas floradas impulsionadas pelo clima favorável, a safra de laranja na principal região citrícola do Brasil em 2019 deve superar a anterior, mas pragas como o bicho furão e a mosca da fruta que fizeram estragos em 2018 podem resultar em novos prejuízos neste ano, avaliou o Fundecitrus.
Na colheita do ano passado, referente ao ano comercial 2018/19, os insetos do bicho furão e da mosca da fruta foram responsáveis pela queda de cerca de 16 milhões de caixas de 40,8 kg de laranja, o que representa perdas de aproximadamente 320 milhões de reais, de acordo com levantamento do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
O número é representativo se considerado o tamanho da safra na área citrícola de São Paulo e Minas Gerais, de 285,98 milhões de caixas, que caiu quase 30 por cento ante a temporada anterior, por problemas climáticos e de pragas e doenças, segundo estimativa divulgada nesta semana.
As indústrias da região respondem por praticamente toda a exportação de suco de laranja do Brasil, maior produtor e exportador da commodity, cujos embarques recuaram no acumulado da safra 2018/19 mais de 10 por cento, diante da menor oferta da fruta.
Uma recuperação na safra e eventualmente nos embarques é esperada para 2019/20, mas o aumento das pragas nos laranjais adiciona incertezas.
"Os produtores estão se unindo (para combater as pragas), tem um aprendizado com a doença, mas biologicamente vai demorar mais uma safra para ter um corte (no ataque dos insetos)", afirmou à Reuters o coordenador da pesquisa do Fundecitrus, Vinícius Trombin.
Ele explicou que, uma vez que a primeira e a segunda floradas foram boas para o ciclo deste ano, e a produção está se desenvolvendo, as pragas têm frutos em abundância para continuarem a se desenvolver, o que seria diferente se as flores não tivesses sido tão concentradas.
"Só em 2020 talvez reduza a pressão das pragas, mais provável que isso aconteça do que pensar em uma interrupção agora", disse o pesquisador, acrescentando que o controle dos insetos é difícil.
O Fundecitrus, órgão de pesquisa financiado pelo setor, deve apresentar sua primeira estimativa para a nova temporada em maio, quando só então estimará o impacto de quedas de frutos das árvores devido às pragas sobre o tamanho da produção, segundo Trombin.
BICHO E MOSCA
A taxa de queda de laranjas em função de ataques do bicho furão e da mosca da fruta, cujas larvas furam e apodrecem o fruto, superou até mesmo as perdas decorrentes do "greening", doença de difícil controle, considerada o terror dos produtores após dizimar boa parte dos pomares da Flórida.
"Superou as perdas do 'greening', que não foi mais o grande vilão. E a perda de frutos pelo bicho e pela mosca superou até mesmo o índice de queda natural dos frutos", afirmou Trombin.
Os índices de queda natural e por "greening" foram de 5,16 por cento 2,7 por cento da safra, apresentando uma melhora ante a temporada anterior, quando os índices foram de 7,45 e 4,06 por cento, respectivamente.
Já a taxa de perdas pelo bicho furão e mosca da fruta praticamente dobrou ante a temporada passada, para 5,7 por cento --não é possível diferenciar o que se perde pelo bicho e pela mosca, pois a ação do inseto é semelhante.
SAFRA BOA
As sinalizações até agora para a próxima safra, com duas grandes floradas no final do ano passado, são boas, disse Trombin, acrescentando que os produtores têm investido na cultura.
Após uma safra menor em 2018, os preços da fruta registraram altas superiores a 30 por cento em importantes regiões produtoras, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
"Temos visto investimentos de produtores, buscando mais variedade de frutas com maior demanda pelo NFC (suco não concentrado)", disse