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Minério de ferro e veículos derrubam a balança comercial

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O sinal vermelho já tinha acendido no painel da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) em maio junho do ano passado, quando a crise da Argentina freou as exportações de veículos para o vizinho. Los Hermanos compram de 70% a 60% dos automóveis e caminhões e ônibus exportados pelo Brasil, embora também sejam nossos grandes fornecedores.

Mas a luz amarela começou a piscar na primeira semana de fevereiro quando, dez dias após a tragédia de Brumadinho, centro de um dos principais complexos ferríferos da Vale em Minas Gerais, houve um breque nas exportações que alterou os preços. Como em fevereiro houve problemas no principal porto de exportação da BHP na Austrália (sócia da Vale na Samarco, a BHP é a principal rival da Vale no mercado de fornecimento à China, principal comprador mundial), os preços dispararam na China e deram a impressão que a perda de volume seria compensada pela alta de preços. Ou seja, a receita seria pouco afetada.

A ampliação dos problemas das barragens das mineradoras em Minas (onde operam, ao lado da Vale, as exportadoras CSN, Usiminas e Anglo American, além de empresas menores) fez acender o sinal vermelho na AEB na primeira semana de abril, segundo o presidente da entidade, José Augusto de Castro. É que tanto o volume de exportação, que caiu 42% (867 mil toneladas métricas diárias, contra 1.507 toneladas dia em janeiro) e em 22,3% frente a março, mês do Carnaval, (quando foram embarcadas apenas 1.117 toneladas diárias) quanto os preços andaram caindo esta semana.

Em 2018, o minério de ferro, que foi a estrela das exportações brasileiras no governo Lula, superando as vendas de soja, já tinha sido desbancado pela soja (17% das vendas no ano passado) e pelo conjunto de materiais de transporte (aviões, navios e plataformas e carros e caminhões, além de tratores e máquinas agrícolas), que empatou em 13% com o Petróleo e derivados. Para este ano, tanto os veículos quanto os minérios estão em baixa.

Para José de Castro, ainda é cedo para uma revisão nas projeções da balança comercial do ano (a AEB faz revisões só em junho/julho), mas é certo uma perda de dinamismo na demanda geral, pelo encolhimento do comércio e da economia mundial). Ele acredita que a situação dos materiais de transporte só ficará definida em maio-junho, quando completar um ano na freada do mercado argentino, o que tira efeitos sazonais da comparação. Quanto aos minérios a salvação seria um forte aumento da demanda da China, que parece fora de cogitação.

Para a Vale, turbulências na produção em Minas Gerais são preocupantes. Lá saem cerca de 38% da produção (Carajás tende a assumir mais de 70% da produção), mas além da distância menor para a China, em Minas saem minérios com maior valor agregado. As barragens de lavagem de rejeitos (que fora a causa das tragédias de Marina, da Samarco, de Brumadinho, e suspenderam atividades de várias outras mineradoras), garantem maior pureza (e maior cotação ao minério). O sistema de pelotização, adotado em Tubarão (ES), para onde escoa o minério da Vale, através da Vitória-Minas) tem unidades de pelotização em parceria com japoneses (Nibrasco) e italianos (Itabrasco).

Problemas com a Vale são vantagens para a BHP e a Rio Tinto Zinc, que produzem minério na Austrália, a um terço da distância do Brasil para a China. Num produto como o minério, ou o petróleo, a logística faz a diferença.